Como expandir uma instituição de ensino?
Por Rafa Pinheiro / Fotos Divulgação
Conversa com o Gestor
O processo de expansão de uma escola, para ser bem-sucedido, percorre, entre outros, aspectos ligados diretamente a identificação de demandas, análises minuciosas do nicho mercadológico, da infraestrutura, das peculiaridades das regulamentações legais e da estruturação pedagógica. Neste especial, destacamos recomendações que podem ser trilhadas por gestoras e gestores para alcançar o sucesso desse processo
A expansão de uma instituição escolar exige, de modo geral, a elaboração de um complexo e diversificado estudo que atravesse por características que envolvam o mapeamento mercadológico, as demandas explícitas da comunidade escolar, os interesses e objetivos bem definidos, as orientações claras sobre aspectos estruturais, legais e pedagógicos, assim como a estruturação de uma operação de expansão bem-sucedida e que resulte em um investimento satisfatório tanto para a gestão escolar como para os estudantes.
Neste especial, com o objetivo de reunir indicações de profissionais que atuam em variadas áreas da educação, trouxemos recomendações que perpassam estratégias, planejamentos, mapeamentos e estudos minuciosos, além de cuidados e de aspectos fundamentais que podem auxiliar gestoras e gestores que pretendem investir na expansão de sua escola.
“Expandir uma instituição de ensino é uma tarefa desafiadora que envolve diversos aspectos e requer uma abordagem estratégica e cuidadosa. Nesse processo, os gestores desempenham um papel fundamental. Em nossa experiência com o ensino médio técnico, notamos a importância de se estabelecer um planejamento detalhado, identificando metas de expansão realistas, prazos e os recursos necessários para atingir esses objetivos. Além disso, as equipes devem se basear em orientações claras e documentos como diretrizes educacionais, legais e operacionais, servindo assim como norte para a expansão.
Com a implementação em andamento, toda a equipe deve ter clareza de sua função no processo de expansão, além de ser necessário contar com uma formação contínua do corpo docente e da equipe de coordenação, garantindo que eles estejam atualizados e capacitados para enfrentar as demandas específicas da modalidade de ensino.
Outro ponto que faz a diferença é a liderança e o comprometimento do diretor da instituição. Este líder deve estar plenamente alinhado com o projeto pedagógico da escola, assegurando a qualidade do ensino e fomentando uma cultura organizacional sólida que promova valores democráticos e a participação da comunidade escolar nas decisões contribuindo assim para a coesão e o comprometimento com a instituição.
Nesse sentido, a expansão das instituições de ensino deve ser acompanhada de maneira metódica e constante. Isso envolve a definição de indicadores e avaliações periódicas, permitindo que os gestores façam os ajustes necessários ao longo do processo, mantendo a qualidade do projeto. Assim, é possível podem trilhar o caminho da expansão com maior segurança e eficácia, garantindo que a instituição cresça de maneira sustentável e bem-sucedida.”
Gilberto Garcia da Costa Junior – Gerente de Desenvolvimento de produtos e serviços educacionais do Senac São Paulo
“A abertura ou expansão de uma instituição de ensino é um desafio que exige planejamento estratégico, visão de longo prazo e a capacidade de se adaptar às mudanças no cenário educacional. Para que ela ocorra com sucesso, gestores e gestoras precisam ficar atentos(as) a uma série de aspectos que influenciam diretamente no negócio.
Antes de iniciar qualquer processo de expansão ou abertura de uma escola ou empresa, é preciso definir objetivos e nicho, realizando uma análise de mercado com o intuito de compreender o setor educacional na região de atuação da escola. Isso envolve identificar demandas não supridas, conhecer a concorrência e entender o público-alvo que a instituição pretende atender. Aqui na Geekie, por exemplo, as escolas parceiras contam com o programa Brilhando Juntos, que reúne ações e conteúdos e tem como finalidade apoiar, de forma estratégica, a comunicação e o marketing das escolas em suas jornadas de crescimento. Entre as entregas do programa, está o Raio-X Mercadológico, que dá ao gestor escolar visibilidade dos dados sociodemográficos da cidade e da região próxima ao colégio, trazendo a localização dos alunos, domicílios, renda média e densidade populacional por faixa etária. Também traz uma análise do potencial de mercado, com a trajetória de matrículas da região, ganho e perda de alunos por fase de ensino e preços dos principais concorrentes dos colégios parceiros, bem como apresenta um diagnóstico do posicionamento de negócio da escola e os seus diferenciais competitivos de acordo com o objetivo de captação e retenção de estudantes e famílias.
Ainda quando falamos sobre abertura ou crescimento e expansão de uma escola, também é preciso olhar para os regulamentos e requisitos legais, que envolvem desde a legislação específica para a educação até a localização de uma nova instituição de ensino e a contratação de docentes. Outro passo importante é o planejamento financeiro da escola, pensando em infraestrutura, insumos, tributos, inadimplência, folha de pagamento e outras questões de custos e despesas, variáveis ou fixas. São questões que influenciarão diretamente na precificação (mensalidades) e na definição do número de vagas que a escola pode disponibilizar.
Nesse processo, o(a) gestor(a) deve refletir ainda sobre outros pontos importantes. Listo alguns a seguir: parcerias estratégicas que representam diferencial competitivo; tecnologia educacional; layout dos espaços de aprendizagem, infraestrutura e expansão física; marketing e branding; cultura de crescimento, diálogo e colaboração; desenvolvimento acadêmico e práticas pedagógicas, entre outros.”
Adriano Nunes – Diretor de Marketing da Geekie
“São cinco pontos que considero mais importantes. O primeiro é garantir uma boa operação. Crescimento pressupõe sustentabilidade no negócio e, principalmente em escola, o melhor investimento em marketing é a satisfação das famílias. A premissa para crescer é ter uma boa operação.
A segunda etapa é construir processos e regras de negócio que sejam escaláveis e potencialmente automatizáveis. Isso não significa apenas plugar tecnologia. Trata-se de construir um processo até se ter, de fato, uma regra replicável. E isso não é simples porque, em geral, ao se replicar ou escalar um negócio, perde-se o controle do processo. Essa construção de processos e regras de negócio que sejam escaláveis e potencialmente automatizáveis é uma cultura da organização. Quando esse pensamento orienta a operação desde o início, é possível preservar a qualidade e ter escala.
O terceiro ponto é planejar. Crescer requer investimento e investimento não é aposta. Vai abrir outra unidade? Isso passa por georreferenciamento, por pesquisa de demanda, elasticidade de preço, materialidade de perfil, verificação de acesso à mão de obra qualificada, etc. Ou seja, deve haver muito estudo envolvido em qualquer ampliação.
Em quarto lugar está o aproveitamento de oportunidades cruzadas. Se a família está satisfeita com a escola e têm filhos menores, esse irmão do aluno também pode estar na instituição quando estiver em idade escolar. A ideia é pensar estratégias para mapear e atrair, no bom sentido, esse potencial estudante. Outra prática é apoiar ou sediar os eventos da comunidade e se envolver com associações e agremiações. Isso promove uma expansão natural no entorno da região.
O último ponto – e o que eu considero mais difícil e fora da caixa –, são o que eu chamo de verticalizações e horizontalizações. Um exemplo de verticalização seria começar a fazer o próprio material didático. Ao invés de comprar, começar a produzir. Eventualmente, além de uma escola, vai haver também uma editora. E no caso da horizontalização, a escola passa a fornecer alimentação, uniforme, transporte, contraturno, enfim, outros tipos de atividades.”
Arthur Buzatto – Sócio e mantenedor da Escola Vereda
“O desejo de expandir precisa ser pautado pela necessidade concreta de demanda para aquele determinado perfil pedagógico. No Ceará, notamos amplo desenvolvimento do município de Eusébio e, com isso, vimos a oportunidade de criar uma nova unidade do Colégio 7 de Setembro, expandindo uma marca forte, tradicional e muito conhecida para atender esse público.
Em São Paulo, onde o mercado é consolidado e nichado, abrimos uma nova unidade da Global Me, mas com a expansão para o fundamental, porque havia fila de espera para matrícula e os responsáveis frequentemente requisitavam a continuidade do sistema de ensino.
Nesses dois exemplos notamos necessidades distintas, mas pontos em comum: a demanda já existente. Mas também é possível abrir novas oportunidades. Na educação é comum os pais darem preferência para a formação continuada, sendo possível expandir do Ensino Médio para a base, quanto do infantil para os anos finais. Fizemos algo semelhante no Colégio Portinari, em Salvador, vindo de um Ensino Médio forte, fomos criando uma base bem estruturada e que manteve a evolução do aluno por mais tempo no mesmo sistema de ensino.
Todavia, isso só é possível quando temos dados concretos sobre o mercado e informações que corroborem com a proposta, isso facilita a viabilidade do projeto porque traz segurança ao investidor ou parceiro que esteja disposto a apostar nessa expansão.
Outro ponto crucial é o cuidado com a reputação da escola. Pois, por mais que o planejamento seja bem estruturado, a pesquisa de mercado bem elaborada e os resultados de retorno financeiro tenham projeções atrativas, qualquer instituição financeira ou jurídica dificilmente apoiará uma escola cuja reputação seja ruim.”
Igor Mundim – Diretor comercial e de marketing da Inspira Rede de Educadores
“Antes de pôr em prática algum plano de expansão da instituição, o gestor tem que ser consciente, primeiramente, de que o foco deve ser sempre o estudante. A razão de uma escola existir é o aluno, o seu aprendizado e o seu bem-estar dentro da instituição – local no qual ele poderá obter as melhores competências e habilidades para responder as necessidades emergentes do mundo e também se formar em valores sólidos que irão garantir resiliência para enfrentar os desafios e as conquistas da vida.
Outro ponto importante é entender que a unidade de ensino é um sistema complexo e todos os fluxos e processos, com todos os atores envolvidos (coordenadores, orientadores, professores, time administrativo, alunos e famílias) devem estar funcionando muito bem. Essas relações positivas e engajadas são essenciais para que a instituição se mantenha no mercado e cresça significativamente.
Não se constrói uma escola de sucesso sem uma equipe que garanta a melhor qualidade acadêmica dentro da sala de aula e outra que apoie com todos os processos administrativos, cuidado e acolhimento. Todo o time deve trabalhar de forma engajada, ‘vestindo a camisa’ e unida com foco nos estudantes, tendo a parceria da família.
Por isso, é importante oferecer formação continuada a toda a equipe, tendo como base a formação profissional e pessoal para formar o colaborador na sua integralidade. Outro fator essencial na gestão de pessoal é que o time trabalhe com foco nas metas de gestão que correspondam a realidade da escola, principalmente nos quesitos inovação e excelência. As ferramentas de gestão, com base na tecnologia, são imprescindíveis para dar agilidade, segurança e eficiência nos processos das equipes de trabalho.
Por isso, transformar as rotinas em processos bem estruturados é outro segredo. Rapidez, qualidade nos serviços, eficiência e transparência são fatores indispensáveis para o sucesso de uma escola. É essencial também deixar a estrutura física muito bem cuidada, com a manutenção sempre em dia. Além disso, é primordial contar com a participação efetiva da família e sempre responder a todos os pedidos e solicitações dos pais de forma autêntica. Excelência acadêmica sem excelência de valores não faz progredir uma instituição de ensino na atualidade.
A escola é um espaço disruptivo, de aprendizagem, pesquisa, inovação, vivência de valores e engajamento. Se tivermos alunos focados nos resultados, colaboradores comprometidos e de acordo com o propósito da instituição, famílias parceiras e corresponsáveis com o processo educativo, ela conseguirá crescer de forma exponencial, pois terá qualidade, resultados, eficiência e fará sentido na vida de todos os envolvidos.”
José Carlos Pereira – Diretor do Colégio Marista Alexander Fleming de Campo Grande