Como Singapura Moldou sua Identidade Educacional – Parte I
Por Ademar Celedônio
Colunas e Opiniões
Em abril deste ano, tive a oportunidade de integrar um grupo de 18 educadores brasileiros em uma imersão profunda no sistema educacional de Singapura, experiência organizada pela Humus Consultoria. Esta cidade-estado, situada estrategicamente no sudeste asiático, é um testemunho vivo de transformação e progresso acelerado, pautado em uma educação de qualidade.
Singapura, outrora uma vila de pescadores, enfrentou adversidades desde os anos 1950. Durante esse período, ainda sob a sombra do domínio britânico, a região fervilhava com aspirações de autonomia e um desejo ardente de forjar uma identidade distinta. A nação enfrentou desafios colossais, e a breve união com a Malásia em 1963, embora promissora, desintegrou-se devido a diferenças ideológicas e tensões raciais, culminando na independência de Singapura em 1965.
Singapura adotou políticas inovadoras que estimularam o crescimento econômico e a prosperidade. Compreendendo a importância de uma economia diversificada, o país embarcou em uma jornada de desenvolvimento abrangente, buscando atrair investimentos estrangeiros e construir uma infraestrutura de primeiro mundo, especialmente voltada à educação. “Teste, teste e mais testes: é assim que a educação é encarada em toda a Ásia”, foi o que nos disse o Sr. Marcus Clayton, diretor acadêmico da Furen International School, uma escola em Singapura que prepara alunos oriundos da China para os exames universitários no Japão, na Austrália e, principalmente, na Inglaterra. A FIS é uma escola particular em Singapura conhecida por seu rigor acadêmico, também presente desde os primeiros anos nas escolas públicas.
Durante toda a vida escolar, o aluno é submetido a exames nacionais que definirão seu percurso acadêmico e, talvez, até sua vida. Os resultados desses exames têm um peso significativo na determinação da admissão em instituições de ensino e, em certos casos, podem influenciar as oportunidades de carreira futura. Os exames nacionais são elaborados pelo Singapore Examinations and Assessment Board (SEAB), que define os critérios de avaliação e garante que os exames sejam rigorosos e alinhados aos padrões educacionais de Singapura. Esses exames são conduzidos de forma centralizada e padronizada, funcionando como uma espécie de vestibular local.
Os exames nacionais ocorrem em vários níveis, como o Primary School Leaving Examination (PSLE) para os alunos do ensino fundamental, o GCE Ordinary Level (GCE O-Level) para os alunos do ensino médio e o GCE Advanced Level (GCE A-Level) para os alunos que desejam ingressar no ensino superior. O PSLE é aplicado para todos os alunos perto do final do sexto ano na escola primária antes de ingressarem no ensino secundário. O exame avalia o desempenho dos alunos em quatro áreas: inglês, matemática, ciências e estudos sociais, e os resultados são usados para determinar quais escolas secundárias os alunos serão elegíveis para frequentar. Aqui ocorre a primeira separação dos alunos e quais currículos terão no final do ensino fundamental e, a cada novo exame nacional, os alunos seguem sendo separados até a universidade. No entanto, o estado garante que 98% dos alunos concluam pelo menos o ensino médio.
Diante de tanta pressão por resultados nos exames, muitas famílias e alunos recorrem às aulas particulares, conhecidas como “tuition classes” para obter um apoio adicional. Os exames nacionais do SEAB não seguem diretamente as diretrizes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), uma avaliação internacional conduzida pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que visa medir o desempenho dos estudantes em diferentes países em relação a habilidades específicas. Enquanto o PISA se concentra em avaliar habilidades como leitura, matemática e ciências, os exames nacionais de Singapura, desenvolvidos pelo SEAB, têm um escopo mais amplo e abrangem uma variedade de disciplinas e tópicos. No entanto, é importante destacar que Singapura tem sido consistentemente bem classificada nas avaliações do PISA, com alunos de Singapura alcançando resultados excelentes em termos de proficiência acadêmica e habilidades cognitivas.
Por fim, o sistema educacional de Singapura, incluindo os exames nacionais, é conhecido por sua ênfase na excelência acadêmica e na promoção de habilidades como pensamento crítico, resolução de problemas e raciocínio lógico. Sobre o currículo de Singapura e o respeito desta nação aos professores, contarei no texto de outubro.