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Guia para Gestores de Escolas

Como transformar a educação em sua prática diária?

“Como é possível que, sendo as criancinhas tão inteligentes, a maioria das pessoas sejam tão tolas? A educação deve ter algo a ver com isso!“ (Alexandre Dumas Filho)

A educação transforma ou reproduz a realidade? Este é o desafio, para todos nós, educadores: promover um equilíbrio vivo, pois ele parece ser o fundamento da criatividade e do desenvolvimento. William Blake escreveu: “Sem os contrários não há progresso”. Atração e repulsão, amor e ódio são necessários para a vida humana. A sociedade é formada não de um ou vários opostos, mas através da relação que existe entre eles.

Partindo de nossa experiência docente em escolas, pretendemos aqui propor uma reflexão sobre a superação da dicotomia entre teoria e prática educativas, e a partir desta, contribuir efetivamente para a construção de uma comunidade escolar autônoma, comprometida com a transformação da realidade sociocultural em que está inserida.

Tendo em vista que os Parâmetros Curriculares Nacionais têm por finalidade a inserção social no mundo produtivo, faz da educação um ato de motivações e descobertas pessoais descontextualizadas, que, muitas vezes reforça o idealismo da organização social individualizada, em que os interesses de grupos e classes são subjugados à dominação sociocultural e econômica.

Desta forma garante-se a felicidade das famílias, que empurram seus filhos desesperadamente ao sucesso a qualquer preço. Sucesso imposto pela classe dominante, que vislumbra uma sociedade formada por cidadãos empreendedores de si. Os vestibulares apenas fornecem passes para ingresso nas escolas. E as escolas formarão profissionais apenas para atender a demanda da máquina de produção: o capital.

A fim de conseguirem driblar esse processo seletivo, e serem reconhecidas nas manchetes, as escolas preconizam desenvolver a capacidade de memorizar, dando ao aluno “poder” para preencher a resposta certa, preterindo claramente sua capacidade de pensar. Uma ilustração clássica dessa situação é o filme de Alan Parker, “The Wall”, que mostra uma escola como linha de montagem, onde os estudantes perdem seus rostos, são levados a caminhar na mesma esteira e no mesmo ritmo, compondo uma identidade que reproduz o mesmo, sempre. O mais intrigante, é que as pessoas não se dão conta de que todo esse “conteudismo” é perdido assim que o aluno é aprovado.

O que constatamos é um exagero no uso do “ventriloquismo” por parte da escola, para apresentar ao mundo seus novos produtos (alunos formados, diplomados) e não se preocupam em estimular a habilidade no indivíduo de realizar funções constantemente redefinidas por eles próprios, de acordo com os requisitos em mudança nas estruturas dinâmicas, tecnológicas, econômicas e sociais das quais eles são agentes ativos.

Tal finalidade limita a dimensão cultural da educação.
As práticas pedagógicas em lugar de priorizar a cultura mundial homogeneizada, pateticamente globalizada, devem contemplar referenciais, os quais possam elucidar e colaborar no processo de identificação cultural e local dos educandos para assim poder agir de forma crítica e reflexiva, de modo a prepará-lo para o enfrentamento das desigualdades sociais, presentes na sociedade capitalista. Enfim, faz-se necessário que as escolas inovem por meio de ferramentas pedagógicas e no trato da dimensão cultural, o fazer pedagógico, onde os conteúdos sejam propostos de forma significativa e funcional.

O problema da escola é que ela não leva em consideração o desejo de aprender das crianças e está apenas respondendo às perguntas que somente os adultos acham importantes. Toda aprendizagem começa com um pedido. Se não houver o pedido, a aprendizagem não acontece. Deveríamos usar mais essa curiosidade investigativa, e que levaria o aluno a estudar, a pensar e a descobrir onde ela pode encontrar respostas para suas perguntas, sendo cada vez mais autônomo em suas aprendizagens. Desta forma, o indivíduo desenvolve habilidades relacionadas com o aprender a aprender. Esta prática está longe dos programas escolares.

”Existe uma expressão terrível na escola: grade curricular. Deve ter sido cunhada por um carcereiro.” Esta citação de Rubem Alves¹ contempla nossa prática educativa em escola, e reforça a ideia de que esta aprisiona os saberes, se utiliza de métodos de ensino para desenvolver a memória, e não para reservar ao cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar.

A função da escola no século XXI será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente. Para isso é preciso dominar mais metodologias e linguagens. Essa é uma função nova e completamente diferente do professor que conhecemos. Lança-se então um desafio aos que estão acostumados a preparar aula para o próximo mês, e para tanto costumam usar as fichas “do ano retrasado”.

O professor precisa enxergar com muita clareza esta realidade e refletir sobre que aluno ele quer formar. Considerando que a sociedade nunca é estática, que é fluxo de um sistema vivo, que está em processo de desenvolvimento e portanto de mudanças e que deva estar baseada nos princípios da democracia, da justiça e da ética no sentido de proporcionar a todos os homens a plenitude de suas realizações, as instituições educativas devem dar condições para que seus alunos sejam capazes de assimilar, elaborar e construir conhecimentos e desenvolver competências intelectuais e relacionais, proporcionando sua inserção como “agente de sua história, e não objeto dela” (Paulo Freire).

Este novo professor deve não apenas estar consciente de seu desafio, para a educação do séc. XXI, é preciso organizar-se, preparar-se para poder transformar. Precisamos alimentar o debate teórico acerca do atual processo de reconfiguração da educação superior no Brasil², através de uma reforma curricular.

“Aquele que é um verdadeiro professor toma a sério somente as coisas que estão relacionadas com os seus estudantes – inclusive a si mesmo.” (Nietzsche)

NOTAS:

1. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1406201106.htm

2. A respeito da reforma da educação superior no Brasil, ver, dentre outros: Silva Jr. & Sguissardi (1999); Trindade (1999); Dourado & Catani (1999).

Sugestão de Leitura: “Gaiolas e Asas”, de Rubem Alves

por Claudia Soares de Oliveira e Eliane Fogliati*

* As autoras são educadoras, especializadas em Psicopedagogia

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Claudia Soares de Oliveira
[email protected]
Eliane Fogliati
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