Cuidado emocional é um dos principais temas que circulam na Bett Brasil 2022
Refletindo a urgência de observar e mapear, por meio de diversos prismas, como gerenciar e cuidar das emoções de todos e todas que frequentam a escola cotidianamente, a temática atravessou debates, congressos, fóruns e estandes do maior evento de educação e tecnologia da América Latina
As características que abarcam o cuidado emocional atravessaram todos os campos da 27ª edição da Bett Brasil, que ocorreu neste ano em formato híbrido – com conteúdos presenciais e on-line. Se as discussões que envolviam as habilidades socioemocionais ganharam força com a BNCC, com a pandemia de Covid-19, a temática se intensificou em todos os setores educacionais.
“É importante trabalharmos o lado socioemocional de toda a comunidade escolar”, é o que afirma Jones Brandão, diretor da Kanttum, focado em formação continuada personalizada que oferece programas de mentoria para professores. Ele destaca que após a pandemia observou um aumento da preocupação do acolhimento socioemocional com professores.
GESTÃO DA EMOÇÃO
Com o tema “Gestão da emoção para a formação de professores brilhantes”, Augusto Cury, psiquiatra e um dos escritores mais lidos na atualidade, encerrou o terceiro dia do Congresso da Bett Brasil com uma palestra inspiradora, tendo como fio condutor a necessidade de um olhar mais apurado e delicado para as questões emocionais. “O professor deve mudar a abordagem, não sejam apontadores de falhas, sejam celebradores de acertos. Tenham uma postura humanista, dividam suas experiências e desafios com os alunos. Primeiro se ama o mestre, depois a matéria”, destacou.
O palestrante questiona se estamos formando verdadeiros pensadores ou apenas captadores de informação, uma vez que o modelo antigo do silêncio absoluto em sala de aula não cabe mais a essa geração, que é conhecida pelo seu convívio com excesso de informação. “Temos hoje uma sociedade avessa ao tédio. O brasileiro fica em média 10 horas por dia na internet, consome muita informação. Se ficarmos lutando contra isso na sala de aula vamos esgotar o nosso mental, é preciso adaptação”.
Segundo o psiquiatra, é preciso mudar a política educacional, inserindo ferramentas da gestão da emoção, mas “como é possível mudar a educação se ela é cartesiana e racional, se ela ensina a falar várias línguas para se conectar com o mundo externo, mas não ensina a olhar para dentro?”, questionou. Um dos alertas apontados por Cury é a humanização dos educadores em salas de aula: “humanizem-se nas salas de aula; falem de vocês, do ser humano que está atrás das matérias; essa proximidade promove uma relação humana com os alunos”.
Augusto Cury é conhecido por criar a Teoria da Inteligência Multifocal, um método que busca fortalecer a consciência crítica para aprimorar a capacidade de reflexão sobre os processos inconscientes que vivemos. Dessa forma, é possível evitar o adoecimento emocional causado em virtude de crenças unifocais, ou seja, é importante enxergar os eventos além um único ângulo. Ele afirma que uma a cada duas pessoas têm ou vão desenvolver transtornos mentais, além do grave crescimento do índice de suicídios em crianças e jovens. “A rede social é um recorte da vida, onde tudo parece lindo e perfeito, mas não é. Precisamos entender que a vida é um contrato de risco e o seu Eu não pode se curvar à dor ou colocar pontos finais nas relações. É preciso gestão emocional”.
SAÚDE MENTAL NO FUTURO
Leticia Lyle, diretora da Camino School e cofundadora da Camino Education e da Cloe, desenvolveu um projeto em 2021, enquanto o Brasil ainda andava vagarosamente na saga da vacinação contra a Covid-19, sobre burnout entre professores, um assunto que merece ser sublinhado, após ter ganhado novos contornos com a crise sanitária global. No terceiro dia do evento (11), Leticia ministrou a palestra “Saúde Mental no Futuro”, acerca de sua recente pesquisa sobre os benefícios que as competências socioemocionais têm no combate dessas mazelas. A palestra ocorreu durante o Congresso Bett Brasil em formato de painel com a presença da professora Adriana Fóz, educadora graduada pela Universidade de São Paulo (USP), pós-graduada em Psicologia da Educação (USP), especialista em Psicopedagogia (Instituto Sedes Sapientiae) e Neuropsicologia (CDN-Unifesp).
Com foco no futuro, a conversa modulou possíveis desdobramentos. “Há um boom de pessoas com transtornos de ansiedade e outras questões. A hora de reavaliarmos modelos é agora para que tenhamos menos impacto no futuro. A pandemia desencadeou uma série de problemas socioemocionais e está sendo um alerta de que precisamos olhar com mais cuidado para a saúde mental”, complementa Lyle.
Não é surpresa alguma pontuar que a Covid-19 e as mudanças impostas por esse vírus – e suas variantes – foram um fio condutor da conversa. “Precisamos falar do que aconteceu, isto é, sobre esse pêndulo do isolamento. Nós sentimos esse período e, consequentemente, a pressão que a crise sanitária trouxe”, afirmou Leticia.
De acordo com Lyle, a saúde emocional dos pais também foi deixada de lado nesses dois anos e precisamos olhar com atenção esse assunto. “Os copos dos adultos estão cheios demais. Muitos estão exaustos”. Durante a palestra, Leticia deu duas dicas sobre como lidar com as adversidades mentais deste momento: autoeficácia e autorregulação. “São as pequenas vitórias do dia a dia que nos possibilitam conquistas a longo prazo, isto é, fazer bem poucas coisas e dar projeção a isso”, acrescenta.
APRENDIZAGEM SOCIOEMOCIONAL
Referência em aprendizagem e mensuração socioemocional no Brasil, o Programa Semente, criado em 2016, é fundamentado em conceitos e pesquisas consolidadas e, diferentemente de outras práticas encontradas no mercado, o programa é a única solução desenvolvida com sólida base científica, por professores brasileiros que estão em sala de aula e que, por isso, conhecem a realidade educacional do país.
O programa consiste em promover a formação socioemocional para docentes e estudantes, do Ensino Infantil ao Ensino Médio, com foco na aprendizagem do aluno e apoiando as decisões pedagógicas da escola. Com isso, ele já alcança mais de 50 mil estudantes do Brasil, oferecendo materiais didáticos personalizados, jogos, vídeos, eventos, plataformas digitais e cursos de capacitação para a toda a comunidade escolar. A metodologia baseia-se em construir intencionalidade pedagógica aos temas mais amplos da aprendizagem socioemocional: conhecer as emoções, regular as emoções, fazer escolhas e relacionar-se com os outros.
Plataforma S: Com base em evidências científicas, a Plataforma S é uma ferramenta totalmente digital desenvolvida pela Semente Educação para mapear, mensurar e avaliar habilidades ligadas à inteligência emocional por meio de algoritmos e big data. É a única que existe no Brasil capaz de realizar essa tarefa. Utilizando a psicometria, área da psicologia que estuda exatamente esses métodos de medição, a Plataforma S traz a ciência psicométrica para dentro da educação e eleva o patamar da intencionalidade pedagógica, possibilitando que a escola tome decisões pedagógicas baseadas em evidências científicas, por meio da identificação das competências que precisam ser desenvolvidas.
A criação da plataforma surgiu a partir do trabalho em equipe com pesquisadores da área de Psicometria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que analisaram 2 mil itens disponibilizados no Ipip (International Personality Itens Pool) – um banco de dados em que se encontram informações para a construção de testes de personalidades –, reunindo aqueles itens que seriam mais adequados para a realidade educacional brasileira, seguindo as premissas pedagógicas do chamado “Big Five”. O termo se refere a um conjunto de comportamentos que servem de base para estudos sobre personalidades dentro da Psicologia.
A ferramenta parte do conceito da autopercepção, ou seja, o usuário é provocado a olhar para si próprio e entender qual habilidade socioemocional está mais desenvolvida ou não. A plataforma é composta por um ciclo formativo com 8 módulos com duração de 20 minutos cada e que buscam trabalhar os 5 domínios, além de fazer sugestões e orientações de como desenvolvê-los. Cada módulo conta um questionário psicométrico com o objetivo de identificar o comportamento do usuário diante dos enunciados. Não existem respostas certas ou erradas. Ao final de cada módulo, os estudantes poderão compreender como estão seus níveis de desenvolvimento em relação à habilidade em questão e aos outros usuários da plataforma, por meio da inteligência artificial. Outro destaque é que a plataforma S também é usada para a formação contínua dos docentes. Eles seguem a mesma estrutura utilizada pelos estudantes ao medirem suas habilidades socioemocionais, no entanto, com o acréscimo de receberem, em troca, sugestões de conteúdos e vídeos oferecidos pelo programa para seu desenvolvimento pessoal e profissional.
BETT BRASIL 2022
Data: 10 a 13 de maio de 2022
Horário: das 9 às 19 horas
Local/Endereço: Transamerica Expo Center (Av. Dr. Mário Vilas Boas Rodrigues, 387 – Santo Amaro/SP)
Site Oficial: https://brasil.bettshow.com/home