Desafios da tecnologia educacional diante da resistência às mudanças
Muito se fala em coparticipação, compartilhamento, interatividade, como qualidades que sempre foram valorizadas no processo de ensino-aprendizagem, e que agora podem ser amplificadas com os recursos tecnológicos disponíveis. Porém, a empreitada não é tão simples, e exige não apenas disponibilidade de tecnologia, mas, e principalmente, o interesse dos educadores, seu engajamento emotivo e intelectual.
É nesse momento que se pode esbarrar nas famosas resistências provenientes de padrões de comportamentos e crenças há muito interiorizados. Por exemplo, tenho encontrado muitos professores que não apenas tratam com indiferença o que a escola lhes oferece em termos de recursos tecnológicos, mas os demonizam. São professores que há décadas se habituaram a resumir pontos de um manual didático na lousa, para que os alunos os copiem, e, na sequência, façam exercícios. Seu conteúdo está pronto, e eles reproduzem o mesmo esquema de aula em todas as classes, ao longo dos anos letivos. É o famoso professor “linha de montagem”: se ele sempre apertou o parafuso daquela maneira, por que raios terá que mudar agora? Para não sair da zona de conforto, ele prefere manter seus alunos em uma passividade facilmente manipulável.
Se esse professor leciona do Ensino Fundamental ao Médio, tanto piores serão os efeitos sobre os alunos, uma vez que muitos deles já o terão internalizado como uma figura ora maternal, ora de autoridade. Do mesmo modo, muitos já terão internalizado o método de ensino que esse professor representa. Outro dia observei alunos do 2º ano do Ensino Médio realizando exercícios de reforço em um laboratório de informática. Quando eles se deparavam com uma dificuldade, como uma informação desconhecida no enunciado, a atitude deles não era a de buscar uma solução ao problema, mas a de perguntar ao professor o significado daquilo. E isso não estava ocorrendo porque o aluno não sabia usar ferramentas de pesquisa na Web, mas porque ele aprendeu que o professor é o centro da referência para a resolução de problemas. Ele estava reproduzindo um padrão de comportamento.
Enquanto isso, fora dos muros da escola, um mundo de sedução se oferece aos adolescentes. Novos dispositivos surgem em intervalos cada vez menores de tempo, assim como novas aplicações que, aos poucos, vão ocupando o cotidiano das pessoas, e modificando o modo como elas acessam informações, organizam seus materiais, e se relacionam. Dentre as novas aplicações, os games certamente estão entre as que maior influência exerce sobre os adolescentes. Se é com dificuldade que a escola acompanha o ritmo dessas transformações, a responsabilidade é dela, e é bom que ela saiba o vácuo que está criando na formação dos alunos.
Usos do edmodo (Continuando uma abordagem iniciada anteriormente)
Vamos retomar nossa conversa sobre o Edmodo, revisando algumas funcionalidades e usos da plataforma. Um dos aspectos que mais chama a atenção dos professores é a possibilidade de organizar a interação dos alunos com a tecnologia, concentrando a diversidade de fontes e recursos disponíveis na internet em um único ambiente. De fato, os professores que incorporaram a internet em seus métodos de ensino podem agora substituir um mix de tecnologias, tais quais blog, Moodle, portais e sites, por um ambiente que reúne todas essas funcionalidades. Além disso, arquivos podem ser organizados em pastas e compartilhados com um ou diversos grupos, e localizar arquivos se tornou fácil e simples, tanto para professores quanto para alunos.
Além disso, quando um estudante encontra bons materiais para compartilhar, ele mesmo pode postá-lo, e esse material pode ser incorporado pelo professor em tarefas futuras. Esse é apenas um exemplo de como o estudante pode se tornar mais ativo no processo de aprendizagem.
Como o professor pode organizar seus materiais a partir de qualquer ponto com acesso à internet, ele pode facilmente deixar um plano de aula para um substituto, caso precise faltar, além de responder a dúvidas quase tão rápido como se estivesse em sala de aula. Esse recurso não é apenas útil à escola no momento de substituir um professor, mas evita transtornos no andamento e na dinâmica da matéria.
Por Rodrigo Abrantes*
*Rodrigo Abrantes da Silva é historiador e professor. Especializou-se em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e atuou como pesquisador do Projeto Análise e do Núcleo de Pesquisas de Psicanálise e Educação (NUPPE) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Edita ainda o blog www.aulaplugada.com.
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