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Guia para Gestores de Escolas

Diálogos com a Gestão: Quais ações e práticas antirracistas podem ser estimuladas no cotidiano escolar?

Por Rafa Ella Pinheiro / Fotos Divulgação

O mês de novembro é comumente atrelado às discussões sobre racismo, assim como são discutidas as suas ressonâncias e seus atravessamentos nos âmbitos cultural, educacional, político, histórico e de experiências pessoais. Mas é preciso apontar uma ressalva: em nosso país, estruturalmente racista, o combate ao racismo deve ser reforçado diariamente – e em todos os espaços sociais, inclusive nas instituições de ensino

No cotidiano escolar, visto como um potente espaço para diálogos, inserir reflexões e ações que envolvam não só a percepção do racismo e as suas ramificações estruturais, como também práticas antirracistas, são demandas necessárias – e urgentes. Abordar as múltiplas diferenças que constituem todas/os as/os estudantes, além de propor pesquisas sobre as culturas africana e afro-brasileira, e a problematização de uma visão única de mundo tendo como eixo uma visão colonial e eurocentrada são elementos que podem ser trabalhados, inclusive, em projetos interdisciplinares. Incluir essas reflexões tão relevantes nas escolas não apenas no mês de novembro (ou especificamente no Dia da Consciência Negra) como em todo o período letivo, estimula uma pluralidade em todas as características que atravessam os sujeitos, reforçando, assim, experiências significativas e respeitosas com as diferenças.

Se seguirmos a fala da filósofa e ativista estadunidense Angela Davis quando, em certo momento, ela disse que “numa sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”, como podemos estimular ações e práticas antirracistas no cotidiano escolar? A partir desta inquietação, trouxemos um especial com falas de especialistas que atuam em diversas áreas da educação para comentar sobre a temática. Confira abaixo!

Maria Luiza – Agente de Pastoral do Colégio Marista São José – Barra

“A escola tem papel essencial na construção de uma sociedade mais justa e igualitária e, por isso, deve assumir uma postura ativa no enfrentamento ao racismo. Como aponta Florestan Fernandes, o racismo está enraizado na formação social, cultural e econômica do Brasil, e suas marcas ainda determinam profundas desigualdades. Nesse sentido, o espaço escolar precisa ser um território de reconstrução das narrativas, em que as histórias e contribuições da população negra sejam valorizadas e integradas ao cotidiano educativo. Inspirados também por Frantz Fanon, compreendemos que romper com a lógica racista exige repensar as estruturas que sustentam a exclusão e afirmar o protagonismo negro como força de transformação social.

Em nosso colégio, temos um planejamento amplo durante o ano letivo sobre a temática que perpassa o calendário escolar e em especial, no mês de novembro, teremos uma série de atividades pedagógicas voltadas para o reconhecimento e a valorização da cultura afro-brasileira, com foco no pensamento e na trajetória de Nego Bispo. Haverá vivências com expressões da cultura popular, contação de histórias, oficinas, rodas de conversa e pesquisas guiadas, que aproximam o aprendizado da realidade e da vivência dos estudantes. Todas as ações têm como objetivo fortalecer o protagonismo negro, incentivar a reflexão sobre ancestralidade, identidade e resistência, e reafirmar o compromisso da escola com uma prática educativa contínua, crítica, transformadora e antirracista.

As ações pedagógicas antirracistas só ganham sentido quando estão conectadas à vivência e à realidade dos estudantes. É necessário que a escola dialogue com as experiências concretas que atravessam o cotidiano, permitindo que o aprendizado sobre identidade, cultura e resistência negra seja vivido e reconhecido. Como aponta Nego Bispo, o conhecimento nasce da relação com o território e com as práticas de vida, por isso, é fundamental que o fazer educativo esteja enraizado na escuta e na valorização dessas experiências.

Dessa forma, o compromisso com a consciência negra não se limita a um mês de atividades, mas se traduz em uma prática crítica e transformadora, capaz de fortalecer a construção de uma sociedade plural e consciente de sua história e diversidade.”

Maria Luiza – Agente de Pastoral do Colégio Marista São José – Barra

 

Carolina Paschoal – Pedagoga e diretora da Escola Pedro Apóstolo (Curitiba-PR)

“Para promover uma educação antirracista nas escolas não basta apenas debater o tema em uma data específica do calendário: é preciso ter um compromisso diário, que deve permear todas as relações, disciplinas e vivências com os estudantes. Afinal, estimular o respeito e a valorização das diferenças desde a infância é fundamental para formar cidadãos conscientes, capazes de reconhecer e combater as diversas formas de discriminação que ainda persistem na nossa sociedade.

O primeiro passo para estabelecer ações antirracistas é reconhecer que o racismo estrutural existe e precisa ser enfrentado também nos espaços educativos. Para reforçar a importância do tema, devemos ampliar o leque de atuação e criar práticas concretas, como a ampliação do repertório de leituras e referências que valorizem autores e personagens negros. Da mesma forma, é essencial incentivar o diálogo sobre preconceitos e estereótipos e fazer a revisão dos conteúdos curriculares para garantir uma abordagem mais plural da história e da cultura brasileira.

A escola deve ser um espaço de convivência que contribua para a formação de cidadãos críticos e empáticos. Por isso, iniciativas como oficinas, projetos interdisciplinares e rodas de conversa com a comunidade escolar podem contribuir para transformar o aprendizado em vivência, aproximando os alunos de realidades diversas e mostrando que a igualdade se constrói na prática. Essas experiências fortalecem a escuta, a empatia e o reconhecimento de cada um como parte da coletividade.

É importante termos consciência de que a luta contra o racismo se faz no cotidiano, seja nas pequenas atitudes e escolhas de palavras, como na valorização das identidades e na disposição de aprender com o outro. Mais do que ensinar sobre o antirracismo, é preciso viver o antirracismo, transformando o ambiente escolar em um espaço verdadeiramente inclusivo, que acolhe, questiona e inspira mudanças para além dos muros da escola”.

Carolina Paschoal – Pedagoga e diretora da Escola Pedro Apóstolo (Curitiba-PR)

 

 

Aparecida Castro – Diretora da Marista Escola Social Irmão Lourenço (SP)

“No cotidiano escolar é possível promover diferente ações como: sensibilização para o autoconhecimento e descoberta da própria identidade, criando espaços de participação e protagonismo infanto juvenil, multiplicando e democratizando saberes, desenvolvendo grupo de estudos e formação continuada para toda comunidade educativa e na promoção de atividades culturais.

Antes de falar sobre a promoção de uma educação antirracista faz-se necessário provocar toda comunidade educativa a refletir sobre quem são, o papel que ocupam na sociedade e a sua autodeclaração racial. Pois é o primeiro passo para identificar como individual e coletivamente poderemos contribuir para o combate ao racismo.

Na Marista Escola Social Irmão Lourenço o que mais corroborou na promoção de uma educação antirracista foi colocar os estudantes como os principais atores através do Projeto ‘Embaixadores Por uma Educação Antirracista’, tanto para compreender a origem do racismo como para identificar os danos causados no decorrer da história até os dias atuais. Hoje, para além de reconhecer a violência, também conhecem e reivindicam por seus direitos e se orgulham de quem são.

Ao se aproximarem da literatura e da arte de referenciais que promoveram e promovem até hoje o reconhecimento e a valorização da população negra, nossos estudantes têm se conectado com sua própria história e identificando-se como lideranças que poderão fazer a diferença. De jovens que estavam sendo inspirados, hoje estamos nos deparando com estudantes inspiradores para seus amigos, familiares e a toda comunidade escolar.”

Aparecida Castro – Diretora da Marista Escola Social Irmão Lourenço (SP)

 

Janaina de Azevedo Corenza – Doutora em Educação e organizadora dos livros “Práticas curriculares antirracistas: temas em construção” e “Negras caminhadas: temáticas antirracistas na educação básica”, publicados pela WAK Editora.

“A discussão que envolve o racismo na escola perpassa pela estrutura na qual nossa sociedade está alicerçada. A escola não é isenta de práticas racistas e, portanto, é urgente a importância de pensar ações e práticas que vão na contra mão do racismo estrutural. Trago para você alguns exemplos de ações e práticas antirracistas no cotidiano escolar.

Começo pela importância de oferta de livros de literatura com personagens negros e negras como protagonistas. Na infância e na adolescência, os livros desempenham um papel importante na construção de identidades e o acesso a histórias que potencializam o protagonismo negro contribui de forma positiva nestas fases da vida. Outro exemplo é a oferta de jogos de origem africana. Os jogos contribuem para o entendimento que os conhecimentos de África são diversos e entre eles, a matemática. Jogos como ‘mancala’, ‘yoté’ e ‘kharbaga’ estimulam o desenvolvimento da criatividade, do raciocino, de estratégias e da memorização. Jogar e aprender sobre as origens africanas é uma ação antirracista.

Outra ação que pode ser desenvolvida na escola é a exposição permanente de caixas com objetos africanos e afro-brasileiros. Expor alguns brinquedos e/ou objetos associados à cultura africana e afro-brasileira como instrumentos musicais (pandeiros, chocalhos, tambores, afoxé, agogô, caxixi e outros que forem acessíveis), tecidos africanos, bonecos e bonecas com roupas típicas de algumas regiões africanas favorecem o estimulo a curiosidade por conhecer a origem dos objetos e a escola tem a oportunidade de estimular a pesquisa, a troca e a interação das crianças e adolescentes.

Por fim cito como uma valiosa prática antirracista a exibição de filmes que narram histórias que impulsionam as crianças e adolescentes a refletirem sobre a questão racial. Filmes como ‘Estrela além do tempo’, ‘Mulher rei’, ‘Wakanda’, ‘Pantera negra’, ‘Ray’, ‘Mãos talentosas’ e ‘A vida e a história de Madam C. J. Walker’ descortinam a potencialidade das pessoas negras. A exibição de filmes seguida de debates promove um aprendizado mais dinâmico e visual, além de desenvolver o senso crítico e o repertório sociocultural dos alunos.”

Janaina de Azevedo Corenza – Doutora em Educação e organizadora dos livros “Práticas curriculares antirracistas: temas em construção” e “Negras caminhadas: temáticas antirracistas na educação básica”, publicados pela WAK Editora.

 

Valter Pereira – Historiador e pedagogo, especialista em Gestão Escolar, Coordenador Pedagógico do Colégio Dom Henrique

“A implementação da Lei nº 10.639/2003, que torna obrigatória a inclusão da História e Cultura Afro-Brasileira no currículo, representa um pilar fundamental para a construção de uma educação antirracista. Mais do que uma exigência legal, essa medida é um convite à valorização da identidade negra e à superação do racismo estrutural. O cotidiano escolar se torna, assim, um espaço privilegiado para promover a consciência histórica, o respeito às diferenças e o reconhecimento das inestimáveis contribuições dos povos africanos e afro-brasileiros na formação social, cultural e econômica do Brasil. É nesse ambiente que se semeiam as bases para uma sociedade mais justa e plural, onde a diversidade é celebrada e o preconceito, combatido ativamente.

Para efetivar esse letramento antirracial, diversas práticas pedagógicas podem ser estimuladas. Projetos interdisciplinares, por exemplo, são ferramentas poderosas para engajar os alunos. A iniciativa ‘África na Música’, desenvolvida com o Ensino Médio, pela professora Luci Janduci Fontenelli, permitiu aos estudantes explorar a riqueza cultural africana através da criação de capas de discos de vinil e da audição de músicas que rompem com padrões ocidentais. Essa abordagem não apenas valoriza a arte e a história, mas também estimula a pesquisa e a representação de aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais de diferentes países africanos, ampliando o repertório cultural dos jovens.

Outras ações focam na desconstrução de narrativas únicas e na valorização de múltiplas perspectivas. O projeto ‘O Perigo da História Única’, inspirado na obra de Chimamanda Ngozi Adichie e complementado por textos de E. P. Thompson, promoveu rodas de conversa e debates críticos com estudantes do Ensino Fundamental Anos Finais. Essa prática é essencial para que os estudantes compreendam a complexidade das narrativas históricas e reconheçam as vozes de grupos historicamente silenciados. Da mesma forma, a discussão sobre ‘Mandela e o Apartheid’ com o 8º ano do Ensino Fundamental, a partir de um filme, permitiu reflexões sobre a segregação racial e a luta por direitos, conectando o passado com as manifestações de racismo contemporâneas.

Adicionalmente, a escola pode incentivar a expressão artística como forma de resistência e celebração da cultura afro-brasileira. O projeto ‘SLAM – Cultura Afro-brasileira na Periferia’, com a 1ª série do Ensino Médio, explorou o movimento hip hop, o rap e as batalhas de rima como manifestações de identidade. A criação de músicas e poesias inspiradas no cotidiano das comunidades periféricas, culminando em apresentações de SLAM, fortalece o protagonismo estudantil e a autoestima, ao mesmo tempo em que educa sobre a importância da representatividade e da valorização cultural. Tais iniciativas transformam o ambiente escolar em um palco para a diversidade e a equidade, formando cidadãos conscientes e engajados na construção de um futuro antirracista.”

Valter Pereira – Historiador e pedagogo, especialista em Gestão Escolar, Coordenador Pedagógico do Colégio Dom Henrique

 

Gabriela Moschella Carmona – Diretora do Colégio Ábaco – Unidade Ipiranga

“Falar de práticas antirracistas na escola é falar de formação humana desde os primeiros anos. No Colégio Ábaco, trabalhamos esse compromisso de forma contínua por meio de dois projetos integrados: Palavras que Libertam e Nossas Raízes, Nossas Histórias. Eles unem leitura literária, pesquisa cultural e criação artística para que as crianças do 1º ao 5º ano reconheçam a diversidade como parte constitutiva da nossa identidade.

A cada série, uma obra adequada à faixa etária orienta conversas, produções e investigações sobre a contribuição dos povos africanos e afro-brasileiros na história, na arte e na linguagem. As trajetórias de autoras e autores e de personalidades como Maria Carolina de Jesus, Nelson Mandela, Rosa Parks e Martin Luther King inspiram reflexões sobre coragem, igualdade e pertencimento.

O trabalho envolve formação docente, momentos de escuta e atividades como contação de histórias, releituras literárias e visuais, músicas e brincadeiras de matriz africana, culinária de referências africanas, painéis sobre contribuições culturais, pesquisa sobre griôs e a confecção da boneca Abayomi.

Mais do que combater estereótipos, buscamos cultivar autonomia intelectual e respeito cotidiano, para que cada estudante se reconheça como sujeito de direitos e agente de transformação social.”

Gabriela Moschella Carmona – Diretora do Colégio Ábaco – Unidade Ipiranga

 

Viviane Soranso dos Santos – Psicóloga e coordenadora do Programa Lideranças Negras e Oportunidades de acesso da Fundação Tide Setubal

“As ações e práticas antirracistas no cotidiano escolar podem ser estimuladas a partir do reconhecimento de que o racismo estrutura as relações sociais e impacta diretamente as trajetórias educacionais de estudantes negros. Nesse sentido, o primeiro passo é promover a formação continuada de professores e gestores para que compreendam as dimensões históricas, culturais e institucionais do racismo, e desenvolvam repertório para enfrentá-lo no ambiente escolar. Essas formações devem incluir o estudo da Lei 10.639/03, a valorização das identidades negras e o compromisso com uma pedagogia que reconheça e acolha a diversidade racial presente na comunidade escolar.

Outro eixo importante é a revisão das práticas pedagógicas, de modo que os conteúdos curriculares contemplem a história e a cultura afro-brasileira e africana de forma transversal, em todas as áreas do conhecimento. Aulas, projetos e materiais didáticos devem visibilizar intelectuais, artistas e lideranças negras, rompendo com a lógica de apagamento que ainda predomina. Além disso, é fundamental incentivar o protagonismo dos estudantes, criando espaços de diálogo e escuta — como grêmios estudantis, rodas de conversa e clubes de leitura — onde possam refletir sobre identidade, pertencimento e justiça racial.

A Plataforma Alas, iniciativa apoiada pela Fundação Tide Setubal, busca impulsionar a presença de pessoas negras em instituições de ensino de ponta e fortalecer o compromisso das escolas com a equidade racial. Nesse contexto, algumas instituições que integram a rede, como o Colégio Santa Plural, o Colégio Nossa Senhora das Graças (Gracinha) e o Colégio Politeia, têm desenvolvido práticas inspiradoras. O Santa Plural, por exemplo, promove o letramento racial e produz conteúdos formativos sobre parentalidade antirracista; o Gracinha avança em processos de formação docente voltados à equidade racial; e o Politeia encampa um processo contínuo de transformação comunitária, estimulando toda a escola a reconhecer o racismo e agir de forma antirracista. Essas experiências mostram que a mudança é possível quando há intencionalidade e compromisso institucional.

Por fim, o enfrentamento do racismo na escola exige continuidade e coerência. Não se trata apenas de ações pontuais, mas de um compromisso permanente com mudanças nas relações, nas linguagens e nas políticas internas. Criar comissões de equidade racial, revisar protocolos de enfrentamento a situações de discriminação e garantir representatividade nos espaços de decisão são passos concretos para consolidar uma cultura escolar antirracista. Assim, o cotidiano se transforma em um espaço de aprendizagem e reparação, onde todos os sujeitos podem existir plenamente e em igualdade de condições.”

Viviane Soranso dos Santos – Psicóloga e coordenadora do Programa Lideranças Negras e Oportunidades de acesso da Fundação Tide Setubal

 

Clarissa Lima – Assessora pedagógica da plataforma Amplia

“Práticas antirracista precisam envolver todo a comunidade escolar. Para isso, o compromisso antirracista precisa estar previsto no Projeto Político Pedagógico da Escola com ações que promovam desde a implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08, até mesmo a formação continuada de professores e projetos que envolvam as famílias.

A implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08, que alteram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), além de incluir no calendário escolar o Dia da Consciência Negra, traz a inserção curricular da História da África, Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Significa a implementação de um currículo escolar multicultural, decolonial e promotor do antirracismo, na medida em rompe com o eurocentrismo e promove na escola outras formas de conhecimento.

A formação continuada para o antirracismo oportuniza aos professores compreenderem a dimensão de um currículo multicultural, plural, que valoriza saberes diversos. Além do mais, promove o bem-estar no ambiente escolar ao reconhecer possíveis condutas racistas que podem ser melhor compreendidas e sanadas com ações promovidas tanto para o acolhimento e acompanhamento da vítima quanto das sanções aplicadas a quem agressor e responsabilização da família.

Por fim, para boas ações e práticas antirracistas, necessário se faz o envolvimento de toda a comunidade escolar, inclusive, com a participação das famílias. Projetos escolares que abordem o antirracismo com a desconstrução de estereótipos e a valorização étnico-cultural brasileira podem contribuir para práticas antirracistas. Necessário se faz também a ruptura do racismo do estrutural com o reconhecimento da equipe escolar, em todas as instâncias da escola, com representação étnico-racial a luz das diversidades existentes no país.”

Clarissa Lima – Assessora pedagógica da plataforma Amplia

 

Daniela Santana – Coordenadora Pedagógica na Escola Vereda – Unidade São Bernardo

“Para estimular práticas antirracistas no ambiente educacional é essencial que escolas adotem uma postura ativa e comprometida com a valorização da diversidade. A construção de uma educação antirracista começa pela diversificação dos materiais didáticos, garantindo que livros, filmes e outros recursos pedagógicos utilizados representem diferentes identidades raciais e culturais. É igualmente importante que nesse sentido, histórias e culturas sejam incorporadas ao currículo de forma contínua, em todas as disciplinas, e não apenas em datas específicas. Essa abordagem promove uma aprendizagem plural e contribui para a formação de cidadãos críticos, empáticos e conscientes das desigualdades raciais presentes na sociedade.

As ações pedagógicas desempenham papel central e imprescindível nesse processo. A promoção de rodas de conversa, o que fazemos em aulas de Habilidades para a Vida aqui na Vereda, por exemplo, tratando sobre racismo, preconceito e discriminação, estimula o diálogo e a reflexão entre os estudantes, permitindo que compreendam essas temáticas de maneira apropriada à sua faixa etária. Além disso, atividades artísticas e culturais, como teatro, dança, música e artes visuais, podem ser utilizadas como ferramentas para explorar a identidade e a diversidade cultural, valorizando as expressões das diferentes comunidades. Ao abordar o racismo estrutural e conectar os conteúdos escolares à realidade do mundo, o ensino torna-se mais significativo e capaz de fomentar o respeito e o reconhecimento das diferentes origens e trajetórias.

A formação dos educadores é outro aspecto essencial para a efetivação da prática antirracista. É fundamental oferecer capacitação continuada para que professores e colaboradores desenvolvam segurança e sensibilidade ao abordar questões raciais no ambiente escolar. Paralelamente, a escola deve se comprometer em transformar esse ambiente e torná-lo acolhedor e seguro, espaço no qual todos os estudantes se sintam pertencentes e respeitados. O fortalecimento da autoestima e do orgulho racial pode ser trabalhado por meio de projetos e oficinas que valorizem essa identidade, como atividades relacionadas à estética, símbolos culturais e tradições.

Por fim, o envolvimento da comunidade escolar é indispensável para consolidar essas práticas no cotidiano. Pais, familiares e membros da comunidade podem ser convidados a participar de eventos, palestras e workshops sobre diversidade e respeito, ampliando o alcance das ações educativas. Além disso, é imprescindível que a escola estabeleça protocolos claros de intervenção em casos de racismo, assegurando que os estudantes sejam ouvidos e acolhidos com dignidade. Dessa forma, a instituição de ensino se transforma em um espaço de convivência democrática, onde a equidade racial é um valor construído coletivamente.”

Daniela Santana – Coordenadora Pedagógica na Escola Vereda – Unidade São Bernardo

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