Dos progressos na implantação da plataforma Edmodo em uma escola privada paulistana
Estamos chegando ao final do primeiro trimestre e podemos fazer um balanço dos progressos com o uso da rede educacional Edmodo em uma escolar da rede privada de São Paulo. Em artigo anterior (http://migre.me/dX59t) havíamos noticiado o início deste projeto. Ou seja, estabeleceu-se, no começo de 2013, que os professores do 5º e 9º anos do Fundamental e 1º ano do Ensino Médio deveriam obrigatoriamente utilizar a plataforma.
Dentre os professores novos, todos estão atuantes. Eles têm usado a rede para realizar atividades que antes dependiam de uso de papel, como propor lição de casa, estudos dirigidos, produção de textos, correções e gabaritos de provas. E os resultados com os alunos do Ensino Fundamental em termos de participação são notadamente mais significativos do que com os do Ensino Médio.
Um dos professores de informática formalizou em seu planejamento as funcionalidades do Edmodo e aplicativos associados, como o Google Docs. Ele também se motivou a trabalhar temas relacionados à cidadania digital, tais quais: Cyberbullying, Identidade Virtual, Segurança na Internet e Tecnologia Móvel. Os interessados podem tomar como exemplo o plano de aula contido no link
https://docs.google.com/document/d/1l5UFJHocuXiAt0OmUS8aFYs9vDGdXPPZjLPSZFO3PMA/edit.
Dentre as abordagens diferentes, vale destacar a iniciativa de um professor recém-contratado que criou uma interessante dinâmica propondo pequenos grupos interclasses. No interior de um grupo maior – chamado “Investigadores Digitais”, ele distribuiu os pequenos grupos da seguinte forma: “Política e religião entre os povos primitivos”, “Pesquisadores de Roma” e “Raízes da sociedade brasileira”. Cada pequeno grupo produz investigações em sua área e os resultados são compartilhados entre os grupos. A ideia do professor foi instigar a curiosidade dos alunos e, dessa forma, conseguir maior engajamento nas investigações.
Professores que coordenam equipes em Olimpíadas do conhecimento estão usando a plataforma para fins de treinamento e orientação. A abordagem tem facilitado a interação entre os participantes, uma vez que era um problema sincronizar reuniões com alunos de diferentes turmas. Há ainda outras situações surgindo, como a de um professor de Física que passou a conversar com os alunos sobre as possibilidades de desenvolvimento de carreira em sua área, passando a compartilhar a experiência de outros profissionais, a mostrar instituições onde se realiza pesquisa aplicada etc.
Vários professores já atuam como curadores de conteúdo, avaliando e oferecendo informações relevantes a sua audiência. Aos poucos, os alunos começam a trazer para a aula questionamentos provenientes dos materiais consultados fora da sala de aula e, assim, a própria dinâmica das aulas vai assumindo uma nova forma. Abre-se o caminho para um aluno mais participativo e quiçá se chegue ao ponto de os alunos falarem tanto ou mais que o professor (na Finlândia, que conquistou novamente os melhores índices na educação básica, estima-se que os alunos detém a palavra durante aproximadamente 85% do tempo de aula). Já é possível perceber, não obstante, que o avanço de novas abordagens demandará uma revisão de algumas rotinas, como do sistema de avaliação.
Um ponto particularmente problemático tem sido a interação dos professores não apenas entre seus colegas de escola, mas, sobretudo, entre colegas de outras escolas e de outros países. Apesar da resistência de muitos professores em fazer uso da língua inglesa, alunos do Ensino Fundamental estão participando do projeto interdisciplinar Mystery Class, organizado pela ONGhttp://www.learner.org. O objetivo do projeto é levar os alunos a entender a importância do Sol para a vida no planeta Terra. Assim, ao longo de várias semanas, eles colhem dados do fotoperíodo e os enviam ao site do projeto. Esses dados são usados para deduzir, em termos de longitude e latitude, locais secretos sobre os quais os organizadores do projeto oferecem a cada semana uma pista. No período de equinócio, os alunos são instruídos a elaborar gráficos de como eles imaginam que estará a incidência da luz solar quando ocorrer a mudança de estação. Enfim, é um projeto dinâmico, com muitas ferramentas interativas e o Edmodo é usado para integrar a turma e manter as informações do projeto organizadas.
Do outro lado, dentre os professores com mais tempo de casa, é lamentável constatar que, apesar de estarmos há mais de um ano oferecendo treinamento e suporte, poucos se tornaram atuantes.
Foi diante desse quadro que realizamos recentemente nosso primeiro encontro coletivo do ano. Além de atualizar os professores quanto às funcionalidades do Edmodo, realizou-se um debate sobre um novo diagnóstico que está surgindo no campo da saúde mental, a saber, o “transtorno de dependência da Internet”. A quem possa interessar, essa parte da discussão encontra-se disponível online: http://migre.me/dX5jH.
Por Rodrigo Abrantes da Silva*
*Rodrigo Abrantes da Silva é historiador e professor. Especializou-se em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e atuou como pesquisador do Projeto Análise e do Núcleo de Pesquisas de Psicanálise e Educação (NUPPE) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Edita ainda o blog www.aulaplugada.com.
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