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Educação Financeira: “É preciso falar sobre a importância do dinheiro e sua função na sociedade”, diz docente

O Brasil sofre com mais de 80% dos trabalhadores enfrentando problemas financeiros. Cerca de 63 milhões são inadimplentes, de acordo com pesquisa recente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin). Entretanto, este panorama pode ser mudado no futuro. É esperado que no próximo ano a Educação Financeira seja inserida em escolas de todo o Brasil, graças a homologação da Base Nacional Comum Curricular, em 2017.

Ensinar a criança como lidar com dinheiro ainda nos primeiros anos de escola pode reverter esse quadro. Mais de 80% dos alunos que têm educação financeira dizem poupar uma parte do dinheiro que recebe, segundo a Pesquisa Nacional de Educação Financeira nas Escolas, divulgada pela UNICAMP, Abefin e Instituto Axxus. O número de adultos que guarda dinheiro para a aposentadoria, em contrapartida, é de apenas 21%, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

RELAÇÃO COM A MATEMÁTICA

O CEL International School, colégio com unidades no Rio de Janeiro, trabalha a educação financeira em todo o período escolar, por meio de debates em sala de aula. No entanto, no 6º ano do Fundamental há um conteúdo específico, dentro do programa de Matemática.

Nesta aula, os alunos com faixa etária entre 10 e 11 anos aprendem os fundamentos da educação financeira por meio de atividades teóricas e práticas. Na parte teórica, entram materiais pedagógicos específicos, como histórias em quadrinhos que abordam temas do cotidiano ligados ao dinheiro. Como organizar as finanças e aspectos ligados ao consumismo, como os problemas que  as compras desenfreadas podem causar, também estão entre as questões levantadas em classe.

Na parte prática, o colégio organiza passeios a supermercados e desafios usando a Internet. Na visita às lojas, as crianças comparam preços de produtos iguais, mas de marcas concorrentes. A partir daí, os alunos fazem os cálculos e percebem, junto com a orientação do professor, o quanto poderiam economizar. No computador há um exercício semelhante, mas envolvendo o preço de remédios. As atividades externas e o conteúdo são administrados por Carolina Ribeiro, professora e coordenadora de Matemática Financeira do CEL International School.

“As crianças percebem que podem ser mais independentes e também passam a entender que não vão precisar, no futuro, de alguém para gerir a vida financeira”, comenta a coordenadora. Para a docente, a inserção da Educação Financeira na escola ajuda a criança perder o medo da Matemática, já que o aluno começa a entender, através de problemas da vida real, como a disciplina pode ser aplicada.

DISCIPLINA

A partir do próximo ano, todas as escolas públicas e privadas do Brasil deverão incluir nas grades curriculares a disciplina de Educação Financeira. A proposta é que a disciplina de Educação Financeira não fique exclusivamente dentro da Base de Matemática, mas seja contemplada de diversas maneiras para que a criança possa aprender hábitos e comportamentos importantes para lidar melhor com as finanças.

“O ideal é abordar o tema dentro de um contexto que a criança possa entender, sem ser técnico. É preciso falar sobre a importância do dinheiro e sua função na sociedade”, comentou o professor e educador financeiro, Carlos Afonso. Além disso, o docente (que também é autor do livro Organize suas finanças e saia do vermelho) comentou que a inclusão da disciplina é um avanço, pois permitirá que, no longo prazo, o Brasil deixe de ser uma nação de endividados para ser um País de investidores.

“Dizem que somente a educação pode nos livrar da ignorância. Digo que somente a educação financeira pode nos tornar cidadãos mais conscientes e independentes. Difundir o tema e permitir que as crianças comecem a se relacionar com o dinheiro desde cedo fará com que ganhem ‘bagagem’ e experiência para serem adultos financeiramente mais responsáveis e preocupados com o futuro, com uma vida financeira mais planejada e livre de dívidas”, finalizou.

Para complementar o papel que será desempenhado por professores e educadores dentro da escola, é essencial que os pais também passem a conversar com os filhos, em casa, sobre dinheiro. Afinal, eles absorvem tudo, inclusive os hábitos. Portanto, quanto mais as crianças presenciarem as boas práticas dos pais, mais influenciadas – de forma positiva – elas serão.

MÉTODOS DIFERENCIADOS

No Colégio Mary Ward, instituição localizada no bairro do Tatuapé, a Educação Financeira faz parte da grade curricular do 1º ano do Ensino Médio, e é reforçada em matérias do 3° ano. As aulas vão além da tradicional abordagem que foca somente em questões clássicas cobradas pelos vestibulares – elas tratam também de assuntos como Imposto de Renda, juros, mercado de ações, financiamentos, administração de finanças pessoais e, até mesmo, como se engajar em ações de microempreendedorismo.

Para deixar o assunto mais atraente, é desenvolvida uma atividade na cozinha do colégio. Os alunos levam ingredientes de casa e preparam brigadeiros com o objetivo de avaliar se vale o investimento no negócio, qual seria o público-alvo e a lucratividade esperada na comercialização do produto. “Os alunos comparam o preço do brigadeiro da cantina com o que foi produzido, diferenciando o valor real do valor que é cobrado. Os estudantes também levam ingredientes mais caros para notar as diferenças de valor agregado”, conta Patrícia Baccaro, que ministra as aulas de Educação Financeira.

A educadora ainda revela que as turmas perguntam sobre a Bolsa de Valores e que apresentam casos sobre cartões de créditos e Imposto de Renda dos pais. Para enriquecer as aulas, também é convidado um pai de um aluno que é empresário ou contador para compartilhar experiências com a classe. “As perguntas são de outro nível, eles apresentam situações de vivência dos pais e ficam impressionados com valores que o governo impõe”, conta a professora.

Há também a preocupação em manter os alunos atualizados com os noticiários de economia e finanças. “Fazemos cálculos com juros simples, compostos e montante, além de pesquisa sobre o que é índice Ibovespa para que os estudantes  possam acompanhar as notícias sobre economia”, conta Patrícia. A docente ainda relaciona os conteúdos desenvolvidos com ideologias políticas como a do capitalismo, anarcocapitalismo e socialismo, mais ligadas à disciplina de História, para contextualizar as aulas. “Quando se fala em ideologia política, necessariamente isso cai na área da matemática. Assim podemos abordar temas como o que é livre-comércio e as regulações de governo”, explica.

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