Fique de Olho – Ter ou não ter sistema de ensino?
Matéria publicada na edição 22 | novembro 2006 – ver na edição online
Essa é a questão para as escolas. Saiba como e por que optar por esse tipo de material didático e de apoio.
Por Luiza Oliva
Trabalhar com material didático fornecido por sistemas de ensino tem sido a opção de muitas escolas, tanto particulares quanto redes públicas. Conhecidos tradicionalmente como material apostilado, na verdade a grande maioria dos sistemas está mudando de “cara” e aproximando as antigas apostilas dos livros didáticos. Muitos sistemas fazem, inclusive, questão de chamar seu material de livros, não sem razão: os volumes são impressos com apurado cuidado gráfico. Além de oferecer material pedagógico bem cuidado, os sistemas disponibilizam para as escolas serviços de marketing e muita tecnologia, como aulas via satélite e programas para lousas digitais.
Para Sonia Simões Colombo, consultora educacional, autora do livro “Escolas de Sucesso” e organizadora e co-autora dos livros “Gestão Educacional: Uma nova visão” e “Marketing Educacional em Ação”, ao optar pela parceria com um sistema de ensino a escola deve mostrar aos pais e alunos sua preocupação em manter atualizado o conteúdo a ser transmitido aos alunos, com a qualidade do material gráfico e ainda com a capacitação contínua da equipe docente. “As maiores vantagens em adotar um sistema de ensino são a atualização frequente do conteúdo e o apoio pedagógico sistemático, fornecendo aos professores e coordenadores subsídios para a qualificação do corpo docente”, afirma Sonia.
A consultora cita ainda, entre as vantagens dos sistemas de ensino, além do suporte pedagógico, apoio financeiro, administrativo, contábil, fiscal, trabalhista e tecnológico às instituições conveniadas, colaborando com a gestão educacional da escola; a realização de campanhas nacionais para ajudar as escolas na captação de novos alunos, possibilitando a otimização do custo; e o fortalecimento da qualidade do ensino devido às inovações freqüentes nos conteúdos dos materiais e práticas pedagógicas.
Os críticos desse tipo de material pedagógico afirmam que os professores devem seguir obrigatoriamente os conteúdos propostos. Cleide do Amaral Terzi, especialista em educação, assessora e consultora educacional, não acredita no poder absoluto dos materiais apostilados. “Ao considerar as críticas a respeito da obrigatoriedade dos professores seguirem os conteúdos propostos por material apostilado é importante ressaltar que se trata de uma questão mais complexa, pois envolve as intenções da instituição de ensino em relação à adoção de um determinado material didático, bem como à formação dos educadores. Essas críticas poderiam recair, de certa forma, também ao uso de livros didáticos”, define.
Sonia Colombo acredita que o professor possa adequar o material apostilado à comunidade em que a escola está inserida, dando exemplos pertinentes à realidade dos alunos. “O dinamismo e a metodologia do professor ao transmitir o conteúdo programado da apostila também são aspectos que podem ser personalizados”, pondera. Considerar que o sistema de ensino “amarra” o professor a um conteúdo determinado é um paradigma que precisa ser trabalhado pela coordenação pedagógica junto aos professores para evitar resistências à aceitação do material. “O professor pode continuar usando sua criatividade e espontaneidade na maneira como transmite o conteúdo”, diz.
Cleide Terzi frisa que a questão central a ser analisada é a participação dos professores, dos coordenadores pedagógicos e da direção na discussão integrada de critérios, para a adoção de determinado material didático. Essas decisões precisam estar respaldadas por concepções, diretrizes pedagógicas e posicionamentos declarados pela escola em seu projeto pedagógico e curricular. “Essa Matriz Institucional constitui o conjunto de referenciais balizadores das escolhas e orientações didáticas, inclusive das opções relativas à adoção de livros ou materiais apostilados. Ao contrário, quando as escolas aderem apressadamente, e sem fundamentos consistentes à aquisição de materiais, sofrem várias ordens de críticas e pressões, porque tornam, muitas vezes, seus discursos pedagógicos fragmentados, distantes de suas práticas reais de sala de aula”, completa.
Na opinião de Cleide Terzi, o preconceito que se manifesta quanto ao uso do material apostilado se deve às ações de escolas que pretendem fazê-lo mecanismo de controle e coerção da ação dos professores. A assessora complementa que, como se trata de uma questão complexa, é preciso discutir esse preconceito em várias direções de abordagem, inclusive a respeito do papel de autoria que se atribui à função dos professores. Cleide levanta algumas questões: “Qual o lugar do material didático no percurso da aula? É figura central? O professor discute, avalia e planeja os direcionamentos dos conteúdos e intervenções didáticas? Os docentes apenas dão ‘vozes’ e circunstâncias aos livros didáticos e apostilas adotadas? Quais valores direcionam essas escolhas no grupo de direção, coordenação pedagógica e professores? Quais ‘culpas’ ou ‘desculpas’ são atribuídas à adoção de determinados materiais? Como as escolas têm criado instrumentos e situações de estudo e avaliação dos materiais apostilados?” “Enfrentar essas questões possibilita um caminho mais responsável da instituição escolar (estatal ou privada), em seu compromisso público-educador de garantir a formação dos alunos”, arremata a educadora.
SERVIÇO
Cleide do Amaral Terzi
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Sonia Colombo
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