Gestão — Planejamento de Estudos do Meio
Matéria publicada na edição 64 | Dezembro 2010/ Janeiro 2011 – ver na edição online
Como se organizar e o que cobrar de seus parceiros
O ecoturismo tornou-se recurso de aprendizagem a partir da introdução da Política Nacional de Educação Ambiental, em 1999, conquistou a adesão das escolas e alunos e busca se profissionalizar, proporcionando uma experiência rica, segura e confortável.
Por Rosali Figueiredo
Quando fecharem o calendário e o planejamento escolar de 2011, entre os meses de dezembro e janeiro, as escolas anteciparão boa parte dos passeios que farão ao longo do ano, como no caso do Colégio Franciscano Nossa Senhora do Carmo (Franscarmo), localizado na Vila Alpina, zona Leste de São Paulo. “A coordenação pedagógica costuma me passar no final de janeiro toda a programação que haverá no período”, afirma a assistente de marketing e eventos, Vilma de Godoy Alves. Algumas atividades acabam agendadas no transcorrer do ano, mas Vilma consegue organizá-las bem, cuidando de toda a logística ou contratando parceiros. O Franscarmo realiza de três a quatro saídas por série no ano, da Educação Infantil ao Ensino Médio, levando os estudantes a parques ecológicos e de diversão, espaços pedagógicos, viagens de estudos do meio, de confraternizações e formaturas. Leva ainda a museus, espetáculos teatrais e universidades.
Mas são os estudos do meio uma das modalidades que mais crescem na rede de ensino, o que tem feito, por exemplo, a Fazenda Ituau, localizada em Salto, Interior do Estado, a investir ano a ano na ampliação de sua infraestrutura. Especializada em educação ambiental e alimentar, a Fazenda recebe hoje 120 estudantes por dia e tem recusado pedidos de grupos maiores. “Em 2011 aumentaremos nossa capacidade para 160 alunos”, afirma o empresário Cyro Cury, que está ampliando as instalações sanitárias, pretende contratar mais monitores e irá inaugurar o Espaço do Educador. A Fazenda Ituau iniciou os trabalhos com estudos do meio em 2007, aproveitando sua expertise em manejo sustentável na produção de frutas, legumes e verduras, bem como o mercado que se abriu a partir da instituição da Política Nacional de Educação Ambiental.
Introduzida pela Lei Federal 9.795/99 e regulamentada pelo Decreto 4.281/2002, ela incluiu o ecoturismo como um dos recursos de aprendizagem dos programas de educação ambiental da rede pública e privada. A educação ambiental ganhou, desde então, status de requisito para autorização e supervisão das atividades de ensino. “Ela não deve ser implantada como disciplina específica, mas desenvolvida de maneira integrada de acordo com o plano escolar anual”, afirma Marlene Schneider, do Departamento Pedagógico do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo).
Segundo o professor Sérgio Domingos de Oliveira, do curso de Graduação de Turismo e Hotelaria da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus Experimental de Rosana, “o fenômeno é formalmente novo, mas sempre aconteceu na prática, apenas está mais organizado”. Graduado em Turismo e doutor em Gestão Ambiental, Sérgio Domingos observa que os estudos do meio representam “uma forma importante de assimilação do conhecimento, pois vivenciar in loco algumas experiências transforma-se uma aprendizagem mais eficiente”.
Cuidados básicos
Para tanto, é preciso, em princípio, realizar um levantamento da área e observar de que forma o local se integra aos objetivos pedagógicos da escola. O professor da Unesp recomenda sempre a participação de um guia local, que conheça bem a região e suas peculiaridades, de forma a enriquecer a experiência. Também Cyro Cury defende “um preparo anterior à visita, para que esta funcione como um start ou complemento ao programa escolar”. E ao parceiro contratado pela mantenedora cabe, conforme Cyro, “oferecer conteúdo e abordagem adequada à faixa etária que está sendo recebida”. A Fazenda Ituau trabalha com um monitor para cada dez estudantes, profissional graduado em Turismo, diz.
Outra contrapartida que cabe ao anfitrião é organizar bem o roteiro da visita e assegurar “dinâmicas lúdicas”, como o plantio de mudas, a participação em gincanas de conhecimentos, desafios tipo “caça aos alimentos perigosos” e refeições criativas e informativas. Claro que não se pode descuidar da estrutura física nem da segurança. É necessário dar conforto aos visitantes, observa, com acesso fácil à água potável, bem como oferecer recursos de primeiros socorros, com monitores treinados a agir em situações de quedas, picadas de insetos e animais peçonhentos, além de reações alérgicas.
Por outro lado, as escolas devem orientar os estudantes para o uso de uniformes, bonés, protetores solares e a hidratação contínua. No Franscarmo, é indispensável a autorização dos pais e o uso do uniforme escolar. Crianças devem portar crachás de identificação. Segundo Vilma, o colégio mantém um seguro de responsabilidade civil com cobertura adicional para as saídas, “excluídos danos decorrentes de atividades como acampamento (neste caso, os seguros são feitos pela empresa parceira), parques de diversão e passeios com animais”.
Segundo a assessora pedagógica do Sieeesp, Marlene Schneider, a autorização dos pais ou responsáveis para os passeios é exigida pelo Artigo 83 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal 8.069/90). O Sieeesp orienta que os pedidos de autorização informem o nome do professor responsável, objetivos, local, horário de saída e chegada e tempo de duração. Esse documento deverá ficar sob a responsabilidade do professor, finaliza Marlene.
Saiba mais:
Cyro Cury
www.fazendaituau.com.br
[email protected]
Prof. Dr. Sérgio Domingos de Oliveira
Unesp/Campus Experimental de Rosana
[email protected]
Vilma de Gody Alves
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