Impactos do bullying e cyberbullying na era digital

O professor Dr. Antonio Lourenço Neto, referência nacional nessa temática, alerta para os impactos ocasionados pelo bullying e cyberbullying no âmbito escolar. De acordo com o especialista, autor de inúmeros livros sobre esse fenômeno e outros desafios da contemporaneidade, é preciso estar atento, além das questões psicopedagógicas, aos desafios oriundos da recorrente judicialização, no atual cenário educacional, cuja responsabilidade, seja por ação ou omissão, das instituições e mantenedores opera sob o viés objetivo da reparação, ou seja, não há espaço para discussão de culpa.

O bullying [intimidação sistemática] e cyberbullying, ambos considerados um tipo de violência, são definidos através de um padrão de comportamento – indesejado e agressivo – entre crianças em idade escolar, envolvendo um real ou percebido desequilíbrio de poder, seja no formato presencial ou digital. Caracteriza-se por ser um evento repetitivo, sistemático e com objetivo claro de humilhar a vítima. Atualmente, é configurado como crime, por força da Lei Nº 14.811/2024.
O que antes não passava de brincadeiras de mau gosto, hoje representa um grave perigo à saúde mental de crianças e jovens do mundo inteiro. Para comprovar este fato, fizemos um recorte a partir de dados recentes, tendo como referência a Europa e a América Latina, a fim de caracterizar e confirmar que, de fato, estamos diante de um fenômeno de impacto global. Sendo assim, na Europa, segundo o estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC)/WHO Europa (2022), cerca de 11% dos adolescentes foram vítimas de violência na escola, sem diferença marcante entre gêneros. A mesma pesquisa aponta que 15% dos jovens relatam ter sido alvos de intimidação nas redes digitais, e 12% admitem já ter praticado esse tipo de agressão virtual. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), nos meios digitais, houve um aumento comparado a 2018: entre meninos, de 12% para 14%; entre meninas, de 13% para 16%. A América Latina, por sua vez, lidera os casos de intimidação sistemática. Dados de 2022 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), Costa Rica é o país com mais bullying no mundo. 44% dos estudantes do país dizem já ter sofrido com isso em algum momento na escola. Além deste, outros países latino-americanos estão entre os 20 com mais incidência do fenômeno. Colômbia aparece em 11º, com 23% dos casos. Peru e Chile estão, respectivamente, empatados no 18º lugar. Já o Brasil ocupa a 16ª posição, ou seja, figuramos entre os 20 países com mais casos de bullying do mundo.
É preciso entender que a prática do bullying e cyberbullying geram traumas profundos. Deve-se abandonar a conivência disfarçada de “brincadeira”. A vítima se sente sozinha, envergonhada, impotente. Estudos já associam o bullying à depressão, à ansiedade e, em casos extremos, ao suicídio. No ambiente virtual, essa dor é potencializada: a humilhação se torna pública e pode ser replicada, incontáveis vezes, impedindo que a vítima tenha um espaço seguro para se recuperar.
Combater esse percalço exige ação conjunta. Além da obrigação legal do Estado e institucional da sociedade, as famílias devem manter diálogo aberto com seus filhos, incentivando-os a relatar situações de conflito. As escolas, por sua vez, precisam implementar políticas claras de prevenção e acolhimento, indo além de campanhas pontuais. É urgente e obrigatório, que se faça, conforme a legislação vigente orienta, a revisão dos documentos escolares – PPP e Regimento –, incluindo um capítulo referente à política antibullying adotada pela escola, contendo as especificações acerca das estratégias de enfrentamento, apoio à saúde mental e fomento à cultura de paz.
Tem-se, então, um desafio: formar uma geração que saiba usar a tecnologia com consciência, para construir e não destruir! Ensinar empatia, respeito e responsabilidade digital é tão urgente quanto alfabetizar. O bullying e o cyberbullying não são apenas problemas de crianças ou adolescentes — são espelhos daquilo que estamos tolerando como sociedade, e cumpre, sobremaneira, as instituições de ensino, a missão de conscientizar acerca disso.
Antonio Lourenço Neto é professor, advogado, escritor e palestrante. Diretor Executivo do Grupo IC Educação (CE). Doutor em Educação. Mestre em Direito. Especialista em bullying, cyberbullying e saúde mental.
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