Melhorando a aprendizagem por meio do desenvolvimento efetivo das habilidades de leitura
Na última edição do PISA (2012), cujo foco foi a Matemática, realizou-se, concomitantemente, um teste, em meio eletrônico, visando a avaliar o grau de competência dos jovens para resolver problemas relacionados a situações do cotidiano que exijam conhecimento matemático aplicável e não apenas intelectual. Ao todo, 85.000 estudantes de 15 anos de 44 nações fizeram o teste. A pontuação média entre todos os participantes foi de 500 pontos, enquanto os brasileiros marcaram 428. O Brasil ocupou a 38ª posição.
Na prova de Matemática, as dificuldades advindas do raciocínio lógico e da consistência de conhecimentos básicos do conteúdo escolar são conhecidas. O que chama atenção, nesse último resultado, é a relevância para a resolução da compreensão das situações-problemas circunstanciadas nas questões propostas. Nesse sentido, pode-se verificar que estão em jogo as habilidades de leitura, em todos os seus níveis desde o mais básico até o mais complexo, uma vez que é fundamental interpretar o enunciado da questão para respondê-la adequadamente.
Inevitável, por conseguinte, retomar a discussão sobre o desenvolvimento da competência leitura como esforço de todas as áreas de conhecimento presentes no currículo da educação básica. No Brasil, após a formulação dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) de Língua Portuguesa (Brasil,1998), o texto passou a ser tomado como objeto central no ensino de Língua Portuguesa. Assim, ensinar Língua Portuguesa passou a ser equivalente a ensinar leitura e produção de textos.
De acordo com esse documento, o texto, visto como espaço de interação, requer apresentar aos alunos caminhos de contato com as práticas de letramento, para que o processo de formação de um leitor competente e da autoria se construa no ambiente pedagógico. Para isso, reconhecer as marcas constituidoras da textualidade e analisá-las para identificar os propósitos comunicativos, são passos necessários tanto para a leitura quanto para a escritura de textos diversificados.
A proposta do PISA (Programa internacional de avaliação de estudantes) dialoga com tais aspectos, pois visa a promover o letramento em leitura, o que, nos PCN (1998), denominou-se de práticas de letramento. O PISA (2007) define letramento em leitura como a capacidade de compreender textos escritos, utilizá-los e refletir sobre eles, com a finalidade de atingir objetivos próprios, aprimorar e desenvolver conhecimentos e o próprio potencial, bem como participar ativamente da sociedade.
Nesse contexto, está prevista a leitura de textos contínuos (narração, exposição, argumentação, descrição etc.) e não contínuos (gráficos, quadros, tabelas, diagramas, mapas etc.), considerando cinco processos: recuperar informações; construir uma compreensão geral ampla; desenvolver uma interpretação; refletir sobre o conteúdo e a forma de um texto e avaliá-lo.
No PISA, a proficiência em Leitura é definida como uso e compreensão de textos escritos e como reflexão sobre os mesmos, os alunos devem ser capazes de executar uma ampla gama de tarefas utilizando diferentes gêneros de texto, que não se restringem a trechos de livros conhecidos e textos contínuos, mas abrangem listas, formulários, gráficos e diagramas. As tarefas propostas englobam desde a identificação de informações específicas até a capacidade de compreender e interpretar corretamente os textos apresentados, o que inclui a reflexão sobre o seu conteúdo e sobre suas características.
É preciso que os jovens sejam capazes de entender e não apenas decodificar o que está escrito. Ao reproduzir a variedade de tipos de textos que existem na vida real (mapas, tabelas, lista de instruções etc.), o PISA apresenta elementos presentes em várias disciplinas. A leitura faz parte de todas elas. A maior dificuldade para os nossos jovens ocorre quando se pede para refletir sobre o que está escrito nas questões discursivas, ou seja, para demonstrar sua compreensão.
A leitura, nesse contexto, torna-se algo fundamental, pois se constitui como um conjunto de práticas que desenvolvem a potencialidade do sujeito. A leitura é capaz de promover transformação social, já que não deve ser apenas a decodificação de letras, mas deve mobilizar a interpretação do mundo, conforme se constata na matriz de referência do PISA.
Desse modo, os resultados do PISA revelam que a leitura, nas escolas brasileiras, ainda não se constitui como um bem cultural plenamente desejado e compreendido pelos alunos, os estudantes desconhecem seu poder como instrumento de cidadania e como direito individual, seja pelo baixo nível de proficiência ou pela formação leitora mais ampla.
É importante a existência do desenvolvimento de habilidades específicas de leitura na proposta curricular, afinal este é o papel da escola: desenvolver as habilidades de leitura e escrita, ao lado da aprendizagem específica dos conteúdos conceituais.
Aspectos importantes da proposta de leitura, desenvolvimento da escrita competente, observando-se estrutura, utilização de recursos linguísticos e desenvolvimento do tema, com base na Teoria dos Gêneros; análise e reflexão sobre a língua, privilegiando-se uma abordagem funcional da gramática, com base nas pesquisas linguísticas.
A leitura estrutura a aprendizagem de todos os conteúdos escolares. Quanto mais competente leitor for o aluno, mais se desenvolverá em todas as áreas do conhecimento.
Ensinar as práticas de leitura e escrita é mais do que ensinar a ler e a escrever corretamente; é garantir ao sujeito a oportunidade de se aventurar na língua para libertar o pensamento e compreender o mundo. A aprendizagem está estreitamente vinculada ao contexto sociocultural do sujeito, pois pressupõe um ativo processo de reflexão a partir do qual o estudante lida com as informações e delas se apropria por diferentes vias. Entende-se, assim, que as práticas pedagógicas serão mais legítimas quando aproximarem, de fato, a escola e a vida.
Ser leitor não é resultado de um processo natural. É preciso, além da interferência educacional e cultural, contato permanente com o material escrito, variado e de qualidade, desde cedo, fruto de uma ação consciente da sua importância e função social. O acesso à leitura é uma das mais importantes conquistas do cidadão e ele deve apropriar-se dela como meio de promover sua vida social e intelectual. Talvez essa promoção seja o maior desafio educacional brasileiro na contemporaneidade.
Suely Nercessian Corradini é diretora pedagógica do Colégio Vital Brazil, na zona Oeste de São Paulo. Possui graduação em Letras e em Pedagogia, mestrado em Educação, Arte e História da Cultura e doutorado em Educação pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, com o tema “Indicadores de qualidade em educação: um estudo a partir do PISA e da TALIS”.
Mais informações: www.vitalbrazilsp.com.br