NR 1 – Sua Escola Está Preparada?
Por Eric Amorim

Desde 2012, trabalho exclusivamente com escolas, acompanhando de perto os bastidores da gestão escolar. Hoje, muitos dos meus amigos são diretores, coordenadores e mantenedores, e eu entendo bem os desafios que você enfrenta diariamente. Administrar uma escola vai muito além do que o olhar externo costuma enxergar: é lidar com uma comunidade exigente, cumprir metas pedagógicas rigorosas, equilibrar recursos quase sempre limitados e, ao mesmo tempo, manter sua equipe engajada e emocionalmente sã. Agora, com a chegada de uma nova obrigatoriedade na legislação trabalhista, esse desafio ganha uma nova camada: a gestão dos riscos psicoemocionais no ambiente escolar.
Ponto de atenção: não se trata mais apenas de segurança física. A saúde emocional dos colaboradores agora é parte obrigatória da gestão escolar.
Historicamente vistas como locais de baixo risco ocupacional, as escolas passarão, a partir de maio de 2025, a serem cobradas de forma mais ampla e rigorosa. A atualização da NR 1 – Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais traz um olhar atento à saúde emocional dos colaboradores, reconhecendo esse aspecto como essencial à segurança e ao bem-estar no trabalho. Isso significa que a ausência de estratégias claras e de registros objetivos pode, inclusive, ser considerada negligência.
Eu sei bem que a rotina escolar é intensa: pressões de pais, cobranças por resultados, demandas administrativas, crianças agitadas, barulho constante, e a exigência de estar sempre pronto para acolher, ensinar e resolver conflitos. E enquanto tudo isso acontece, os sinais de sofrimento emocional dos professores e funcionários muitas vezes passam despercebidos.
A CNN Brasil trouxe um dado contundente: 1 em cada 3 professores da educação infantil sofre de burnout. Isso significa que, se você lidera uma equipe de 30 professores, possivelmente 10 deles estão mental e emocionalmente esgotados. E mais: com a nova norma, não se trata mais apenas de cuidar, mas de comprovar que medidas foram adotadas para prevenir esses riscos.
Ponto de atenção: a ausência de comprovação pode resultar em multas, ações trabalhistas e até processos regressivos do INSS. Mesmo em casos de assédio institucional indireto (como metas abusivas ou silenciamento de queixas), a gestão pode ser responsabilizada.
Imagino que você esteja se perguntando: como se preparar?
A falta de ação pode gerar processos trabalhistas por danos emocionais, afastamentos frequentes, custos com substituições, queda de desempenho escolar e até perda de credibilidade institucional. Mas a boa notícia é que é possível se antecipar, proteger sua equipe e fortalecer sua escola com base em estratégias acessíveis e sustentáveis.
Veja três estratégias fundamentais:
- Elabore um Mapa de Riscos completo e atualizado, incluindo os riscos psicoemocionais. Não basta registrar ruído e ergonomia: é preciso ouvir a equipe, identificar sinais de esgotamento, registrar causas e definir medidas que possam ser acompanhadas ao longo do tempo.
Importante: registre tudo. A ausência de documentação poderá ser interpretada como negligência. Toda a escuta deve gerar evidências formais que provem a intenção preventiva da escola.
- Crie e divulgue uma política institucional de cuidado emocional, com canais seguros de escuta, protocolos de acolhimento, parceria com profissionais de psicologia e campanhas internas de educação emocional.
Ponto de atenção: um ambiente escolar que não fala abertamente sobre bem-estar tende a silenciar o sofrimento e multiplicar os afastamentos.
- Capacite coordenadores, orientadores e direção para reconhecer sinais de sofrimento, acolher com empatia e agir preventivamente, evitando o agravamento de situações silenciosas. Líderes bem treinados são a chave para a transformação de clima organizacional.
Ponto de atenção: líderes despreparados podem ser agentes de risco sem perceberem. É essencial que saibam agir com escuta, empatia e conhecimento dos limites legais.
Ao adotar essas medidas, a escola não apenas se protege juridicamente, mas também fortalece sua cultura institucional. O reflexo disso é direto: menos rotatividade, mais produtividade, maior engajamento da equipe e um ambiente mais leve, criativo e colaborativo. Famílias percebem o cuidado, alunos sentem a diferença e a imagem da escola se consolida como um referencial de responsabilidade socioemocional.
E mais: cuidar da saúde mental no ambiente escolar é também um ato de humanidade, de liderança consciente e de visão de futuro. A prevenção de riscos psicoemocionais vai além da obrigação legal: é parte de uma educação que valoriza pessoas.
Esteja preparado. Transforme a exigência legal em um diferencial positivo. Busque apoio especializado, implemente uma cultura de prevenção e mostre que sua escola é, de fato, um lugar de acolhimento, proteção e valorização de todos.