O espaço tem impacto sobre o comportamento humano
Os arquitetos contemporâneos entenderam a filosofia de Gilles Deleuze, que demonstra a distinção entre heterogênese e repetição. Ambientes sempre iguais, repetidos e sistemáticos, tendem a promover uma reação de tédio, de monotonia e de desinteresse. Por isso, o que está “fora” da pessoa, à sua volta, interfere no seu pensamento e nas suas atitudes. Por isso, o mobiliário é importante ferramenta para o aprendizado. No nosso caso, não fazemos tão somente mobiliário. Nosso negócio é combinar espaço e design, para incentivar comportamentos que desejamos que aconteçam – ou não aconteçam – dentro daquele espaço.
Vamos a um exemplo. Se você vai a um cinema, meio vazio, e vê pessoas sentadas ali e acolá, qual a sua decisão? Sentar-se ao lado de uma família que não conhece? Provavelmente não. Certamente vai procurar um espaço mais desocupado para se sentar. Estamos falando da teoria ambiental do comportamento, que envolve três coisas: agrupamento, territorialidade e comportamento situacional. Tudo isso tem a ver com respostas pessoais a situações dentro de um ambiente, em termos de distanciamento ou proximidade, em zonas de caráter íntimo, pessoal, social e público. A zona íntima é, por exemplo, o abraço ao amigo que encontramos; a zona pessoal pode ser o relacionamento de dois colegas de escola trabalhando juntos num mesmo projeto; a zona social é participar de uma missa, ao lado de pessoas conhecidas e/ou desconhecidas; a zona pública é o cumprimento de longe a pessoas conhecidas, mas com as quais não se tem proximidade.
Ao entrar num hotel, o saguão moderno, bem equipado e com equilíbrio de mobiliários e de cores, com pessoas circulando e com ruídos de vida cotidiana, é natural uma reação simpática. Mas ao entrar numa livraria tradicional, com os móveis vetustos e sólidos, quase sempre com pouca gente e envolto em silêncio, o impacto é diferente – a gente pensa na história que aquele ambiente guarda. Aí está o ambiente causa impacto sobre o nosso comportamento.
Em San Diego, Califórnia, existe a Academia de Neurociência para a Arquitetura, que estuda as respostas das pessoas ao ambiente construído, e como desenhar ambientes que se alinhem com a forma com a qual as pessoas pensam, sentem e operam. Se conseguirmos construir ambientes com essas características, certamente chegaremos a instalações melhores. No caso da educação, como podemos construir ambientes que estimulem o interesse pelo aprendizado? Precisamos, primeiramente, identificar as demandas. Quais são as expectativas dos alunos? Citaremos quatro: experimentar, definir um estilo pessoal de vida, aprender o que seja relevante si e, afinal, ter retorno do investimento que fizeram na universidade.
Os comportamentos nas escolas estão mudando. Os alunos exigem novas abordagens pedagógicas, projetos experimentais, aprendizado multimodal e recursos online combinados com aulas presenciais. Se os comportamentos mudam, os ambientes precisam igualmente mudar. Não se pode mais pensar na antiga disposição de salas de aula com 40 carteiras em filas, mesmo que haja um projetor no teto para exibir, na tela em frente, imagens de apoio. Qual é, então, o novo mobiliário desejável? É aquele que, diante do condicionamento comportamental que já adquirimos desde pequenos (sentar e ouvir), muda para mudar a atitude e permitir que cada aluno aja diferentemente. Este é o nosso desafio: pensar para prover um design que transforme as condições ambientais que promova empatia com o colega, o professor e afinal o aprendizado. O que quer dizer que devemos experimentar o lugar da pessoa que vai utilizar o espaço e verificar o que ela sente naquele local. Numa sala de aula comum, as mochilas e apetrechos dos alunos ficam no chão, porque não há espaço para guardá-los. As carteiras não comportam o material necessário para uso nas aulas, como celular, calculadora, réguas T, cadernos, livros, tablets. A disposição do mobiliário não permite que os alunos se movam confortavelmente nem interajam satisfatoriamente.
Portanto, é preciso reinventar as carteiras. Porque são novos tempos, novos alunos, novas pedagogias e novos comportamentos. Mas reinventar implica projetar, idealizar, testar, aperfeiçoar os espaços dessa carteira para que, sem virar uma enormidade, ter boa superfície de uso, seja confortável e permita guardar material. E, além disso, pensar em diferentes formatos de disposição dessas carteiras para que todos os alunos se vejam uns aos outros, e todos vejam o professor – ou a tela – para cada dinâmica diferente de aula. Que tal pensar em encaixes na própria carteira para laptops? Ou cores diferentes para vários conjuntos de carteiras?
Essa mudança requer um ambiente colaborativo, flexível com métodos de aprendizagem, feedback imediato, movimentação, engajamento e sensação de pertencimento.