O ideal e o real
Sem querer ser pessimista mas sim realista, selecionei algumas publicações recentes que infelizmente constatam as deficiências do ensino brasileiro.
Apenas 32,8% dos professores que trabalham nas séries finais do ensino fundamental (5º ao 9º anos) têm licenciatura na área em que atuam. No ensino médio a porcentagem sobe um pouco, mas mesmo assim não passa dos 48,3%
No Brasil 3,8 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos estão fora da escola. Na capital paulista, 173.815 crianças e adolescentes de 4 a 17 anos estão fora da escola.
Outras 14,6 milhões de crianças/adolescentes de 6 a 17 anos estão em atraso escolar em todo o Brasil. Do total de adolescentes e jovens de 18 a 24 anos que não estavam estudando em 2010, 21,2% tinham abandonado a escola após o ensino médio e 52,9% deixaram os estudos sem completar o ensino fundamental.
Com a taxa de 24,3%, o Brasil tem a terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100 países com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), só atrás da Bósnia Herzegovina (26,8%) e das ilhas de São Cristovam e Névis, no Caribe (26,5%). Um a cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série. É o que indica o Relatório de Desenvolvimento 2012, divulgado nesta quinta-feira (14) pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
A taxa de distorção idade-série (BRASIL, 2013) 15,4% 1º ao 5º ano, 27,5% 6º ao 9º ano e 29,5% EM (BRASIL, 2013). Os dados são do Censo Escolar do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2013). As maiores taxas de distorção idade-série no ensino médio público ocorrem nas regiões Norte e Nordeste, em escolas de áreas rurais. Consideradas escolas em zonas urbana e rural, Pará (57,3%), Sergipe (50,7%) e Piauí (49,2%) têm as maiores taxas. As menores são registradas em São Paulo (17,1%), Santa Catarina (18,4%) e Paraná (24,3%).
Nesse ritmo, alcançaremos os Estados Unidos em 18 anos e a média dos países-membro da OCDE em 21 anos. (OCDE 2012 referente ao resultado do PISA)
Todos esses dados — importantes para análise e reflexão — entristecem e preocupam, pelo menos, àqueles que valorizam e reconhecem a importância do conhecimento para que nossos jovens tenham a possibilidade de escolher um caminho de vida.
Uma das metas do Plano Nacional de Educação, ainda em discussão na Câmara dos Deputados, prevê que, em 2022, a totalidade das escolas tenham professores com formação específica em nível superior na área em que atuam. E até lá?
Certamente, a urgência é criar estratégias de formação e preparação dos docentes que estão em serviço para que dominem os conteúdos e o que está por trás deles e saibam utilizar estratégias adequadas para promover o desenvolvimento de competências cognitivas e não-cognitivas, de forma precisa.
Entretanto, precisamos lidar com o que temos de uma maneira bem realista. Isso significa buscar soluções simples, implantá-las, fazer a gestão de todo o processo, avaliar sua eficácia e, principalmente, dar continuidade aos bons projetos, independentemente de mudanças de governo. Educação ideal é essa que se busca na realidade cotidiana, corrigindo as falhas, aprimorando o que é bem feito. Além disso, boa educação se faz na prática com bons planos de aula e estratégias renovadas que têm relação com situação de vida dos alunos.
Crianças e jovens aprendem pelo engajamento em sua formação pessoal e pela percepção de que seus conhecimentos modificam sua vida em família e suas chances de sucesso pessoal e profissional. Assim sendo, todo aluno deve conhecer o plano do curso, o cronograma das atividades, os objetivos, as competências a serem desenvolvidas.
Professores também devem estar engajados, comprometendo-se com a elaboração de aulas adequadas ao progresso gradual de seus alunos com bom equilíbrio entre teoria e prática/demonstração. O uso de recursos e tecnologias de visualização de fatos e fenômenos reais criados e exibidos em linguagem apropriada a cada faixa etária resultarão em bom desenvolvimento, principalmente se houver entusiasmo e interesse verdadeiros dos professores. Outro meio importante de diálogo e acesso são os meios de comunicação digitais, os quais, dentre outras coisas, ampliam a possibilidade de o aluno expor suas dificuldades individuais e manter uma comunicação mais direta com o professor. Quase desnecessário dizer que a seriedade com que as tarefas e atividades dos alunos são tratadas tem forte impacto no modo com que o aluno realiza seus trabalhos. Corrigir, indicar caminhos e subsidiar o progresso individual são compromissos essenciais à prática docente.
Suely Nercessian Corradini é diretora pedagógica do Colégio Vital Brazil, na zona Oeste de São Paulo. Possui graduação em Letras e em Pedagogia, mestrado em Educação, Arte e História da Cultura e doutorado em Educação pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, com o tema “Indicadores de qualidade em educação: um estudo a partir do PISA e da TALIS”.
Mais informações: www.vitalbrazilsp.com.br