O impacto da tecnologia no ofício dos professores: novas orientações para o uso do Edmodo e seus reflexos sobre o planejamento pedagógico
Início do ano de 2013. Os professores retornam do recesso e muitos deles acreditam que a abordagem tecnológica em sala de aula, que teve alguns ensaios ao longo de 2012, será tratada como uma onda passageira. Mas aí vem o susto, pois ao chegarem à escola se deparam com uma nova proposta da mantenedora: será preciso utilizar em 2013 a plataforma Edmodo para registrar os conteúdos desenvolvidos ao longo do ano letivo, e inserir abordagens que possam ser retomadas no processo de recuperação, como vídeoaulas, gravações na lousa digital ou em aplicativos como o ShowMe (uma lousa interativa para iPad), podcast etc. Na prática, a instituição determinou aos professores que lecionam para as turmas de 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio um nível de comprometimento maior quanto ao uso da plataforma.
A estes professores, será disponibilizado suporte pessoal para a execução das novas estratégias.
No momento imediatamente posterior à notícia, os educadorees apresentaram muitas dúvidas junto aos professores coordenadores. Houve um clima de incredulidade. Estão falando sério? Será que se ficarmos bem quietinhos, essa ideia maluca não passará despercebida?
Resolveram então chamar o professor responsável pela implantação do Edmodo. Este professor disponibilizou horários e ofereceu três modelos de suporte: 1. Reuniões presenciais abertas a todos os interessados, a serem simultaneamente transmitidas e gravadas no YouTube, com a abordagem introdutória geral ao Edmodo, tal como sugerido pela própria empresa gestora da plataforma; 2. Reuniões individuais ou com pequenos grupos de professores, que poderão escolher o assunto que desejam aprender. Para tanto, foi apresentado um cronograma abarcando todas as funcionalidades da plataforma; e, 3. Vídeos tutoriais a serem postados no canal da escola no Google+.
Deparando-se com esse nível de disponibilidade e organização, o grupo de professores percebeu que o assunto se tornara pouco mais sério e de que há efetivamente uma disposição da mantenedora em prosseguir com as novas estratégias, com sua meta de processar, paulatinamente, a inclusão tecnológica dos professores e de toda sua equipe acadêmica. Mas e agora, questionaram os professorres: Serei capaz de fazer isso? Como fazer? Como começar? De que maneira me programar? Quais os recursos mais simples que já poderia utilizar?
Logo se organizou um primeiro grupo de professores e as reuniões tiveram início. E durante a reunião geral de planejamento, que antecede o início das aulas, foram apresentados os professores novos – mais jovens e recém-contratados. São docentes de diferentes áreas, alguns já familiarizados com alguns ambientes virtuais de aprendizagem. Mas a idade não é condição determinante da relação do sujeito com a tecnologia. Trata-se, antes, de uma questão de atitude. Há professores novos que ignoram a situação. Eles agem mais ou menos da seguinte forma: “sou pago por hora/aula, e não vou fazer nada fora desse contexto”. Entretanto, a chegada de outro grupo que apresente disponibilidade maior frente à tecnologia ajuda a consolidar a decisão da mantenedora e de parte de sua equipe pedagógica em efetivamente levar o processo adianta. Obriga a que os demais arregacem as mangas e se abram às possibilidades desta nova experiência de aprendizagem.
Neste momento, o processo está em seu início. As aulas foram retomadas, e os professores começam a encaixar essa nova agenda em sua organização de trabalho.
É um grande desafio, especialmente para os chamados professores old school, aqueles que possuem um saber elaborado na prática. Muitos possuem didáticas bastante pessoais, que funcionaram durante anos, e ainda funcionam. Além disso, na maioria dos casos, esses professores gozam de considerável prestígio e reconhecimento junto à comunidade escolar. No caso de uma instituição com décadas de existência, um professor com 20 ou 30 anos de casa terá influência sobre várias gerações de ex-alunos, constituídas por muitas pessoas que hoje são pais de família e terão que decidir em qual escola matricular seus filhos.
Assim, é preciso empreender uma mudança de paradigma que seja, no entanto, capaz de conservar o que esses professores construíram ao longo de anos de trabalho. Isso é fundamental para a projeção futura de uma escola com estas características – de transmissão de valores sociais e culturais e de (re) elaboração do conhecimento a partir de novas bases e linguagens tecnológicas. Nesse processo, não se trata apenas de “ensinar” aos professores o uso de novas tecnologias, mas, sobretudo, de descobrir formas pelas quais ela possa transmitir seu legado no novo contexto.
Por Rodrigo Abrantes da Silva*
*Rodrigo Abrantes da Silva é historiador e professor. Especializou-se em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e atuou como pesquisador do Projeto Análise e do Núcleo de Pesquisas de Psicanálise e Educação (NUPPE) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Edita ainda o blog www.aulaplugada.com.
Mais informações: [email protected]