O peso invisível que carrega a escola: a saúde mental do gestor escolar
Por Fernanda King

Muito antes desta onda de matérias a respeito na NR1 e da preocupação com a saúde mental dos profissionais das escolas, eu já pensava com os meus botões sobre quem realmente está preocupado com a sanidade mental dos líderes. Parte pelo fato de fazer palestras para gestores escolares e me conectar intensamente com este público, parte por sentir na pele diariamente o que é gerir uma instituição de ensino.
Afinal, muito se fala a respeito do líder ser um espelho para a equipe, mas ninguém ensina o caminho para que ele esteja bem de fato. Pelo contrário! É cobrança em cima de cobrança. Pensando nisso, elaborei através da minha empresa de consultoria – a King Educacional – em parceria com a School Advisor, com o apoio da Revista Direcional Escolas, da You Bilíngue e da School Picture uma pesquisa para avaliar “os desafios invisíveis dos profissionais das escolas brasileiras”. Cerca de 400 pessoas responderam e os resultados foram bastante interessantes.
Quando eu ainda estava em fase de elaboração do questionário, comentei com um colega de profissão que iria perguntar aos gestores escolares sobre saúde mental, e escutei uma das gargalhadas mais sinceras da minha vida! É… praticamente ninguém está bem nas escolas. Mas será que tem algo que a gente possa fazer para mudar este quadro?
De terapia à meditação, passando por uma agenda estruturada que respeite seus limites, que inclua atividades físicas, horários de lazer e até mesmo momentos para “não fazer nada”, tudo é importante neste autocuidado tão necessário para aquele que cuida de todos. Estar bem física e mentalmente é o ponto de partida para não surtar perante aos desafios diários.
E o que revelou a nossa pesquisa? Em suma, cerca de metade dos profissionais da gestão escolar trabalham pelo menos 40 horas semanais. 22% destes, alegam ser difícil ou muito difícil delegar tarefas; 30% consideram a própria saúde mental regular ou ruim; 70% não estão satisfeitos com a remuneração; 53% já procuraram ajuda para lidar com questões de saúde mental; 65% afirmam não oferecer suporte psicológico para os colaboradores e incríveis 94% consideram o trabalho estressante. E tem muito mais dados bastante interessantes, que em breve destacarei através de vídeos explicativos nas redes sociais.
E quais as dicas práticas para tentar manter a qualidade de vida da equipe pedagógica? Eu destacaria:
– Adotar programas de benefícios que incluam academias e consultas com psicólogos – hoje existem algumas opções com valores bastante acessíveis.
– Ter uma escuta ativa dos profissionais, mas de preferência que não seja diretamente com você, meu caro gestor. Um profissional da área de psicologia no RH ou até mesmo um psicólogo terceirizado pode ajudar muito. Se a nossa mesa virar “o muro das lamentações”, não há como ter concentração para trabalhar. Estabelecer limites é fundamental!
– Investir em capacitação, com palestras que mesclem técnica e motivação. Sim, BOAS reuniões fazem diferença.
A figura do gestor escolar costuma estar associada à liderança, à organização e à tomada de decisões. O que muitos esquecem é que, por trás do profissional que conduz uma escola inteira, há um ser humano que enfrenta pressões cotidianas muitas vezes invisíveis — e que afetam diretamente sua saúde mental.
Gestores escolares lidam diariamente com conflitos, cobranças por resultados, escassez de recursos, sobrecarga de tarefas administrativas e a complexidade das relações humanas em um ambiente vivo como a escola. São responsáveis por equipes, estudantes, famílias, resultados pedagógicos e pelo clima organizacional. Tudo isso em um cenário, muitas vezes, de pouca valorização e reconhecimento.
Este acúmulo de responsabilidades, sem suporte adequado, pode levar a quadros de estresse crônico, ansiedade, insônia e até depressão. No entanto, o tema ainda é pouco discutido nas políticas públicas educacionais, como se o cuidado com quem cuida fosse secundário.
Cuidar da saúde mental do gestor não é luxo — é necessidade. É preciso criar espaços seguros de escuta, promover formações sobre inteligência emocional e garantir uma rede de apoio que envolva a própria Secretaria de Educação, as equipes escolares e a comunidade. Afinal, uma gestão saudável impacta diretamente no bem-estar de toda a escola.
O caminho para uma escola mais humana e eficaz começa pelo olhar atento à saúde de quem a lidera.