O professor que está fazendo falta: absenteísmo e saúde mental
Por Miriam Guimarães
A falta de um professor é um dos piores cenários que uma escola pode ter de enfrentar. É a quebra da rotina escolar que traz muitos transtornos. Muitas reacomodações são necessárias.
Se o professor é essencial, justifica-se a preocupação com os dados a seguir: “No estado de São Paulo, 136 mil licenças médicas foram concedidas a professores, num grupo de 220 mil profissionais, em 2015. A principal causa das licenças ocorre por problemas ligados à saúde mental como pânico, depressão e transtornos de ansiedade”.
Ser um bom professor significa ter muito mais competências do que em outros tempos. Hoje há um abismo colossal entre um matemático que dá aulas e um Professor de Matemática.
Precisamos de professores que vão além da mera “transmissão de conteúdos”, porque o aluno precisa aprender habilidades diferentes. Precisamos que olhem e atendam os alunos, em suas necessidades acadêmicas, sociais e emocionais e saibam interagir construtivamente com elas.
Que professor foi preparado para isso?
A sensação de falta de recursos internos é um fator estressor em todos nós. A percepção de grau dificuldade de uma tarefa se relaciona a quanto nos sentimos preparados para lidar com ela. Sem recursos, nos sentimos vulneráveis e isso traz uma sobrecarga emocional que compromete a saúde. Viver em sobrecarga cotidianamente nos faz adoecer e pode, consequentemente, gerar ausências no trabalho.
Desde 1997, na Espanha, Jose Esteve alertava para as dificuldades dos professores europeus pela falta de preparo que sentiam para atender às novas demandas e previu o crescimento do absenteísmo docente por estresse no mundo todo. É o que vivemos atualmente no Brasil.
E como ninguém ensina o que não sabe, o professor precisa ser preparado com as competências necessárias para gerenciar o novo ambiente de aprendizagem, para que possa implementá-las na sua prática pedagógica.
Saber promover diálogos, estimular o pensamento crítico, mediar conflitos e contribuir para a formação da identidade adulta dos jovens, faz parte da função da escola que forma cidadãos para o séc. XXI; competências que trazem muitos ganhos sociais para alunos e professores.
Além do benefício a longo prazo, há também vantagens imediatas. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos em 2015 apontam que, além de reduzir a quantidade de licenças médicas por estresse, escolas que têm professores com mais recursos socioemocionais:
- Conseguem criar um ambiente emocionalmente favorável, beneficiando a aprendizagem dos alunos
- Funcionam como boa referência para que os alunos também ajam com maior assertividade e equilíbrio.
- Têm maior facilidade em manter as classes calmas, bem organizadas e com mais autonomia dos alunos.
Se, para a escola a falta do professor é pesadelo, um professor com mais recursos pode trazer exatamente o efeito que se deseja: que todo o investimento se reverta no máximo de aprendizagem e no bem-estar geral da comunidade atendida.
Sobre Miriam Guimarães
Coordenadora de equipe de psicólogos e pedagogos da Associação pela Saúde Emocional de Crianças (ASEC) atuando em formação de professores para a Educação Emocional nas escolas e desenvolve treinamentos na área de educação emocional. É Consultora em metodologias de desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais para crianças para a Metodologia Internacional de Educação Emocional – Programa Amigos do Zippy. Professora, com licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências da USP. Mestre em Psicologia da Educação pela Faculdade de Educação da USP. Consultora e Palestrante atuando nas áreas de Educação Emocional, Desenvolvimento de habilidades e competências, Heterogeneidade na sala de aula, Resolução de conflitos, Bullying e Formação docente. É Professora e Coordenadora no Colégio Dante Alighieri, São Paulo.