Um pouco mais sobre Dislexia
Estudos atuais a respeito da Dislexia, têm trazido esclarecimentos valiosos não só para os portadores desse transtorno, como ainda para os familiares, professores e profissionais que direta ou indiretamente lidam com crianças e jovens .
Como já muito descrita e comentada, a Dislexia constitui um dos principais problemas de aprendizagem que as crianças podem apresentar, depois de passada a fase inicial da aquisição da leitura e da escrita. São geralmente os professores que percebem entre seus alunos de 1º, 2º e 3º anos do ensino fundamental, algumas crianças que não superam as suas dificuldades nessa área e passam gradativamente a não acompanhar as novas conquistas escolares da sua classe, apesar de serem inteligentes, não possuírem problemas sensoriais ou perceptuais, terem maturidade adequada à sua idade cronológica e haverem recebido uma escolarização de boa qualidade e similar a de seus pares.
Estudos científicos recentes e realizados em diferentes países, têm comprovado que a Dislexia se prende a uma origem congênita, com íntima relação com as áreas neurológicas de Wernicke e de Broca, situadas no córtex cerebral humano, responsáveis pela capacidade da aprendizagem da fala,da leitura e da escrita. Apesar de reconhecermos a enorme importância da afetividade para o sucesso da aprendizagem, nossa experiência profissional em escola especial, escola regular e em clínica de psicopedagogia, nos levou a constatar na prática, a veracidade das afirmações de muitos acadêmicos e pesquisadores da atualidade, quando concluem que problemas de ordem emocional na família e na escola, são antes uma conseqüência e não a causa da Dislexia. Outro modo fosse, todas as crianças com problemas nessas áreas apresentariam sintomas da Dislexia, o que não ocorre.
Além dos casos de comorbidade entre dois ou mais transtornos de aprendizagem, ou seja, quando dois ou mais transtornos aparecem concomitantemente na mesma criança, há ainda alguns outros comportamentos que aparecem freqüentemente associados à Dislexia e que contribuem para mascará-la, confundir seu diagnóstico e que podem ainda ser tomados erroneamente como causa desse transtorno. Um dos mais persistentes, inclusive, é a dificuldade de manter a atenção durante as tarefas acadêmicas que muitos disléxicos apresentam em decorrência da dificuldade e do grande esforço que as atividades de leitura e escrita representam para eles: não conseguindo vencer o cansaço, acabam por perder o foco da atenção com relativa facilidade. Muitas vezes se escuta dos pais e professores a queixa de que certas crianças não prestam atenção e por isso não aprendem a ler e escrever ou compreender corretamente o que lêem: em avaliação psicopedagógica posterior, freqüentemente se verifica que estas não conseguem manter a concentração devido à presença da Dislexia.
Outro problema associado a esse transtorno de aprendizagem, é a baixa auto-estima cuja origem deve-se em grande parte à família e depois à escola, já que esta depende dos juízos de valor emitidos pelas pessoas que cuidam da criança desde cedo. Se alguém recebe muitas críticas ao longo de seu crescimento e poucos elogios que lhe mostrem como as pessoas ao seu redor o admiram e valorizam os esforços, provavelmente se perceberá como pouco capaz. No caso dos disléxicos, essa idéia vai ser fácil e erroneamente corroborada pelas dificuldades acadêmicas, fazendo com que em pouco tempo, sua expectativa de sucesso diminua, enquanto a insegurança, os sentimentos de tristeza e as dificuldades familiares e sociais cresçam e fortaleçam seus sentimentos negativos e a certeza de que são pessoas predestinadas ao fracasso.
Problemas persistentes de aprendizagem, levam freqüentemente a criança disléxica à intranqüilidade, ao nervosismo, à ansiedade, à excessiva emotividade, o que justifica o fato de muitos disléxicos roerem as unhas (onicofagia), sofrerem dos hábitos de apertar e ranger os dentes especialmente à noite (bruxismo) e conversar consigo próprio (solilóquio), além de constantes episódios de enurese e terror noturno, resultando no aparecimento de comportamentos regressivos que retro alimentam seus problemas pessoais e sociais.
A indicação da escola para uma avaliação profissional especializada deve ser levada seriamente em consideração pela família, pois podem ser evitados muitos dos problemas aqui citados a partir de um diagnóstico multidisciplinar e uma intervenção psicopedagógica precoce .
Crianças disléxicas precisam e merecem da parte da sua família e da escola uma atenção especial, empatia e favorecimento de oportunidades de êxito a partir de suas- muitas e importantes– potencialidades. E isso se consegue em primeiro lugar deixando idéias errôneas, pré-concebidas e cientificamente rejeitadas, serem substituídas por uma melhor compreensão do Ser Humano, da criança, do aluno e do filho com problemas de aprendizagem.
Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem e editora da revista Psicopedagogia da ABPp, lém de membro do Conselho Vitalicio da ABPp e coordenadora dos cursos de Especialização em Neuroaprendizagem e Psicopedagogia do Grupo Saber. Sua experiência em falar com a mídia é vasta e seu conhecimento é dos assuntos mais varidados: crianças, pais, escola, comportamento, variedades e conceito.