A interdisciplinaridade como alternativa para o ensino integral
* Adalberto Scortegagna
Coordenador do Projeto de Iniciação Científica do Grupo Bom Jesus.
No último século, o mundo presenciou grandes transformações sociais e econômicas. Surgiram novas tecnologias novas estruturas familiares, novos meios de transporte, entre outros. Será que, aparentemente, somente a escola não mudou?
O modelo tradicional de ensino, baseado em disciplinas, vem sendo questionado por diversos pesquisadores. Em inúmeros países, observam-se ações na tentativa de romper com a fragmentação do ensino na Educação Básica.
Recentemente, os meios de comunicação retrataram o exemplo da Finlândia, país que busca transformar o tradicional ensino por disciplinas, implementando projetos multidisciplinares, com foco nos temas importantes do cotidiano, tais como aquecimento global, globalização, blocos econômicos, entre outros. O modelo atual, como conhecemos — uma aula de Geografia seguida por uma aula de Matemática —, dividirá espaço com módulos de aprendizagem multidisciplinar. A proposta finlandesa propõe trabalhar, por exemplo, o ecossistema de florestas tropicais, reunindo os professores de Biologia, Geografia, Química e até mesmo de Matemática, que pode abordar o ritmo de desmatamento da floresta amazônica. A proposta do país nórdico promove um espaço no qual diversos professores em conjunto abordam os diferentes matizes desses temas, transformando a educação em algo multidisciplinar.
Outro exemplo vem do Canadá. A província de Quebec implantou, nas últimas décadas, práticas interdisciplinares nas escolas primárias. O modelo canadense foi analisado por Yves Lenoir, que o retratou em diversos artigos científicos.
Essas inovações metodológicas não são exclusivas de países desenvolvidos. Em Curitiba, o colégio Bom Jesus Divina Providência desenvolve, desde 2014, um projeto em que os professores do Ensino Médio se reúnem quinzenalmente para discutir os conteúdos a serem trabalhados nas duas semanas seguintes e como cada disciplina pode auxiliar na compreensão dos conteúdos das demais. Por exemplo, o professor de Geografia, ao trabalhar astronomia, incorpora conhecimentos da Física em sua explicação, mesmo que de forma superficial. O professor de Física, quando da abordagem desse mesmo conteúdo, incorporará os conhecimentos da Geografia. Ambos também retratarão momentos da Literatura, tais como a obra de Júlio Verne (A volta ao mundo em 80 dias), que se conectam com esse assunto, bem como o professor de Matemática poderá utilizar elementos da astronomia, entre os quais os planetas e o próprio universo, para exemplificar conjuntos.
O projeto-piloto promove a formação continuada dos professores e permite aos alunos a percepção de que um determinado conteúdo não é exclusivo de uma disciplina, mas está conectado com os diversos conhecimentos que vivenciam em seu cotidiano.
Autor: Adalberto Scortegagna é doutor pela Universidade Estadual de Campinas (2009) na área de ensino e história das ciências da Terra; mestre em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (2001) e graduado em Geologia, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1984), e Geografia, pela Universidade Federal do Paraná (2003). Possui experiência na área de Geociências, com ênfase em educação. Atualmente é coordenador de Geografia (Ensino Médio) do CEP (Centro de Estudos e Pesquisa) da Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus, membro do Conselho Editorial da Editora Bom Jesus e professor na FAE Centro Universitário.
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