O buraco entre a pesquisa e a prática
“Temos que devolver a formação dos professores aos professores”
NÓVOA (2003).
Desde os primeiros tempos a Pedagogia estudou a Educação tendo como referência a ciência clássica, utilizando-se de reduções e de classificações padronizadas por meio de ações de causalidade, priorizando análises simplesmente quantitativas e com isso, desfigurando a complexidade da prática educativa (FRANCO, 2012).
Neste proceder, configurou-se um verdadeiro “buraco” entre a ciência e a prática de ensino: — Se por um lado, temos uma escola mais tecnicista que positivista, e assim não aplica as novas pesquisas, seja porque elas são completamente desconhecidas de grande parte do professorado, seja porque são inaplicáveis, mesmo, em face da conjuntura; — por outro lado, a ciência se recusa a aceitar a prática comum dentro da universidade, limita o público alvo de suas pesquisas às pequenas amostragens, não dispõe de métodos para aplicação externa de suas teorias mantendo-as engavetadas nos seus arquivos, conservam suas revistas hermeticamente fechadas à publicação de artigos provenientes da prática, (mesmo que sejam boas práticas), copiam modelos editoriais americanos que deixam ao leitor a sensação clara de que tudo está parecido uns com os outros, tornando desinteressante o aprofundamento da leitura de determinados artigos e teses.
Há uma complicada metodologia aplicada aos trabalhos acadêmicos que se tornou “padrão”, se não for daquele jeito o trabalho não é aceito. Espera-se, sempre, que as teses de conclusão de curso estejam atreladas as referências bibliográficas da Ciência Clássica; essa adaptação dos trabalhos de pesquisa, unida ao interesse do formando pela titularidade em jogo, o faz deturpar suas idéias de cientista, fugindo da prática comum e aproximando-se das teorias, que muitas vezes inibi sua vontade de inovar, desafiar ou criticar. Sendo assim a ciência caminha, senão numa mesmice absoluta, ao menos produzindo muito aquém de sua real capacidade e potencialidade. Há muita informação em circulação, porém como já apregoava Wolton (2006), a quantidade de informação não garante a comunicação, com o leitor. As publicações parecem uma repetição de pautas e falta criatividade nas abordagens.
A formação de professores
Outra vertente dessa situação é a formação dos professores, os novatos que chegam à escola enfrentam um difícil processo para se adequar as demandas impostas pela diversidade e complexidade do ensino atual, descobrem que o conhecimento científico que supostamente aprenderam não é suficiente para dar conta da imprevisibilidade educativa e rendem-se as exigências e possibilidades institucionais (ABDALA; FRANCO, 2003). Cancherini (2009) entende que esta disparidade entre uma formação inicial teorizante e fragmentada, e a complexidade da prática docente provocam insegurança e medo nos novos professores que, na falta de melhor resposta, se utilizam de receitas oferecidas pelos professores mais antigos. Essa adaptação pode ser muito agravada no decorrer do exercício, porque alguns professores parecem deixar de lado sua consciência para conseguir entrar em situação prática e permanecer nela, como cativo, sem conseguir dimensionar qual seu exato papel na escola diante de seus alunos.
A educação anda vivendo momentos de incertezas e perplexidades, sentimos necessidade de uma troca mais efetiva entre os profissionais mais antigos na prática escolar e a pesquisa acadêmica. Há um excesso de discursos, redundantes e repetitivos em ambas as partes, que se traduzem em duas pobrezas: a das praticas e a das pesquisas.
O campo da formação de professores está centrado nesse discurso, desconectado da prática docente. Os textos, as recomendações, os artigos e as teses se sucedem em um ritmo alucinante repetindo os mesmos conceitos, as mesmas idéias, as mesmas propostas, muitas vezes não conclusivas. Nesse clima é difícil que apareça modos alternativos de se pensar a educação. Os resultados do ENEM 2014 estão ai para todo mundo ver: 8,5% do total de candidatos, que representa mais de 500 mil alunos do ensino médio obtiveram nota zero na redação. Nenhuma das partes pode estar feliz com isso.
“Temos que devolver a formação dos professores aos professores” NÓVOA (2003).
Partilhamos da propositura do português António Nóvoa. Médicos, engenheiros, arquitetos, advogados, enfermeiros, têm um papel dominante na formação de seus futuros colegas, mas, o mesmo não se passa com os professores, principalmente nas licenciaturas, onde, ao longo do tempo vários grupos foram assumindo responsabilidades na formação dos professores, tais “especialistas” foram ocupando lugares de destaque nos departamentos universitários de educação e nos cargos políticos das instituições governamentais, valorizando assim, o conhecimento teórico em detrimento do conhecimento prático dos professores.
Caminhos paralelos
Pelo exposto, vemos dois caminhos que, como retas paralelas, parecem nunca se cruzar. A prática docente: como histórica, tecnicista e socialmente organizada, não sai da práxis apreendida; e a ciência na atualidade não sai da mesmice. Algumas pesquisas são aplicadas na prática, principalmente aquelas que passaram por um longo período de maturação, mas, como se diz, ainda é pouco para as necessidades da educação no Brasil que tem milhões de alunos em formação constante e milhares de professores que necessitam dessa aproximação entre a ciência e a prática escolar. Evidentemente que há o contributo de beneméritos professores que são verdadeiras preciosidades invisíveis nesse meio, estudam e pesquisam por conta própria colaborando para com o progresso dos seus alunos, mas há de surgir LIDERANÇAS na área acadêmica para fazer essa aproximação, inclusive com força para atuar junto aos políticos na redução da superlotação das salas de aula.
Esperamos que este artigo promova um pensamento reflexivo, otimista e positivista a cerca da educação brasileira.
Antonio Luiz Dallaqua professor PEB I, efetivo da Rede Estadual, leciona na E.E.Profª Philomena Baylão na DIR Norte2. Formado em pedagogia pela Fundação Santo André e possui cursos sobre alfabetização em Língua Portuguesa e alfabetização matemática. Bacharel em Ciências Contábeis pelo Instituto de Ensino Superior Santo André.