Você se sente exausto?
Cuidado: pode ser um dos sintomas da Síndrome de Burnout
A Síndrome de Burnout
Se você se sente emocionalmente esgotado, sente que suas relações pessoais ficaram distantes e está perdendo a vibração na profissão, cuidado: você pode estar com a Síndrome do Burnout.
O psicanalista americano Herbert J. Freudenberger, em 1994, criou o termo Burnout (“estar queimando de dentro para fora”) para designar um distúrbio psiquico de fundo depressivo, que acompanha quadro de esgotamento físico e mental intenso, relacionado à vida profissional.
Freudenberger notou em si mesmo uma mudança profunda no atendimento aos seus pacientes: o prazer que sua profissão lhe trazia havia se esgotado e transformado em um peso muito difícil de carregar: estava cansado e frustrado. E, não era só ele que se sentia assim. Vários de seus colegas apresentavam o mesmo quadro: eles tratavam os pacientes com crescente insensibilidade e cada vez menos interesse.
O burnout é considerado uma síndrome de esgotamento profissional e é muito mais comum do que se imagina. Desde 1998, a Organizção Mundial da Saúde considerou o burnout como um grande problema de saúde no mundo moderno. É considerado um risco ocupacional principalmente para os profissionais que cuidam da saúde, educação e serviços humanos. Conforme a população estudada, a prevalência de burnout varia entre 4 e 86%.
Segundo Manfred Schedlowski, professor de psicologia do comportamento, do Instituto Superior de Tecnologia de Zurique (ETH), “Nos últimos dez ou 15 anos, principalmente nas grandes cidades, a vida tornou-se mais rápida e mais agitada. Hoje, sentir-se estressado praticamente integra o cotidiano profissional.”
O bunout se estabelece no nível mais alto do stress: é um stress crônico vivenciado por profissionais que lidam de forma intensa e constante com pessoas e com as dificuldades e problemas alheios ou situações de atendimento.
Os profissionais com burnout podem sofrer prejuizos em três dimensões: individual, profissional e organizacional. Na dimensão individual, o profissional apresenta exaustão emocional e física, que é caracterizada por carência ou falta de energia e entusiassmo, sente-se como se todos seus recursos estivessem esgotados e também há o aparecimento de doenças psicossomáticas. No nível profissional, ele tem sua perfomânce reduzida, faz um atendimento negligente ao cliente ou com seus colegas de trabalho. Em termos organizacionais, conflita-se com membros da equipe, falta no trabalho e despenca a qualidade de seu serviço.
No Brasil, desde 2001, o Ministério da Saúde reconhece que a “Síndrome de Burn-out ou Síndrome do Esgotamento Profissional” é um tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. O profissional tem necessidade de julgar seus afazeres como significativos, valorizados e importantes. O burnout, portanto, se restringe basicamente aos profissionais motivados.
Como identificar o burnout
Burnout é uma síndrome composta por exaustão, desilusão e isolamento em trabalhadores. Os sinais e sintomas da Síndrome de Burnout se estabelecem lentamente: inicalmente são notados pelos colegas de trabalho e por aqueles que são atendidos pelo profissional. Em estados mais avançados, a própria pessoa começa a notar desânimo, desmotivação pelo trabalho, aparecimento de alguns sintomas e doenças psicossomáticas, como fortes dores de cabeça, tontura, taquicardia, oscilação de humor, dificuldade de concentração, hipertensão, ansiedade, problemas cardíacos, pré-diabetes, distúrbios do sono, problemas digestivos entre outros. Começam faltar frequentemente no trabalho. Está ainda relacionado ao abuso de substâncias recreativas e ilícitas, problemas no casamento e na família. É recomendado que quem apresente estes sintomas procure um profissional qualificado para uma avaliação.
Mecanismos do stress
O stress é uma resposta fisiológica automática do organismo frente ao perigo iminente, real ou imaginário, que prepara o corpo para luta ou fuga. Em situação de risco há liberação de adrenalina no sangue pela glândula suprarrenal que ativa nosso sistema nervoso visceral, aumentando os batimentos cardíacos, acelerando a respiração, o suor começa a escorrer pela testa. O sangue é desviado para musculatura nos preparando para ação. Quando o agente estressor é retirado, a secreção da adrenalina é normalizada e as funções fisiológias retornam à normalidade. Este é o stress agudo, que nos defende.
Porém, como vivemos submetidos à ação de muitos agentes estressores no dia a dia, como a conta do cartão de crédito com valor inesperado, o estouro no cheque especial, a ameça constante do chefe, dificuldades finaceiras, o cunhado que pediu um dinheirinho emprestado, fechada no trânsito, entre tantos outros eventos cotidianos, esses pequenos estresses criam tentáculos que nos afixia. Nesse estado crônico, há liberação no sangue do hormônio cortisol, que quando em excesso, nos faz muito mal à saúde.
Síndrome do “Ego Profissional”
A Síndrome de Burnout afeta principalmente os professores e trabalhadores da educação, da saúde (enfermeiros, fisioterapeutas, médicos), policiais, assistentes sociais, agentes penitenciários, operadores de vôo, call center entre outros.
Estudos realizados mostram que profissionais que apresentam estilo de vida caracterizado pela extrema competitividade, agressividade, impaciência, fala explosiva, constante vigilância, tensão da musculatura facial e sentimento de estar continuamente sobre pressão é um dos maiores candidatos à síndrome. Pessoas com tendência a reagir a situações de ameaça com grande intensidade, que elevam seu estado de ansiedade.
Teu chefe te apoia? O suporte oferecido por ele pode ser decisivo em seu estado de saúde. Quando a pessoa recebe suporte e supervisão adequados na execução do trabalho, na verdade está recebendo suporte emocional. Este fator é o que vai permitir que na maturidade o profissional desenvolva melhores estratégias de enfrentamento permitindo-o a lidar com situações estressantes relativas ao trabalho de forma mais adequada e menos estressante.
O burnout pode levar o profissional a se afastar do trabalho para tratamento da doença, sendo necessária sua substituição por transferência ou contratação, bem como treinamento para o novo membro, gerando custos adicionais para o empregador, perda de produtividade e da qualidade de serviços prestados.
E você professor?
Uma das categorias que se torna muito exposta aos agentes estressantes psicossociais é a de docente. Os agentes estressores a que enfrenta são próprios da organização acadêmica e do ambiente escolar. Estes agentes desequilibram as expectativas profissionais e pessoais, bem como sua realidade com o trabalho diário. As estratégias de enfrentamento da situação nem sempre são adequadas e adaptativas, levando o profissional à deterioração e desgaste de seus recursos emocionais.
Isaac A. Ferenhof, do Instituto Superior de Estudos de Caxias, relata que em 71 docentes das oito escolas pesquisadas apresentam transtornos mentais. Cem por cento dos professores demostram despersonalização apurada: “coisificam” as pessoas, os alunos, os colegas, a direção. O vetor estressante advém de várias situações, sendo que, em sua opinião, a realidade da política educacional – municipal, estadual ou federal – não contempla a profissão docente. “A ecologia da escola encontra-se abalada por vários fatores, entre eles, o descaso das autoridades do Estado – sujeira, grafitagem, alusão a siglas de grupos marginais ou a gangs rivais, cerceamento do direito do cidadão-professor de ir e vir, violência física e psicológica, rendição diante do quadro de marginalidade intra e extramuros escolares, desrespeito à função docente. Os professores sentem suas qualidades pessoais definharem, adoecem e entram em Síndrome de Burnout”.
Em outro estudo, Emilse Servilha, da PUC de Campina, demonstra que o estresse foi apresentado por 47,8% das docentes universitárias avaliadas, casadas e na faixa de 40 a 49 anos, com predomínio de sintomas físicos. Mary S. Carlotto e Lílian S. Palazzo, da Universidade Luterana do Brasil, Canoas, avaliaram burnout em professores de escola particular na região de Porto Alegre. Demostraram “que grande parte dos professores nega sentimentos de distanciamento de seus alunos; o mau comportamento do aluno foi o elemento mais assinalado por eles como fator de estresse percebido no trabalho”. Os professores apresentaram nível baixo nas três dimensões que compõem burnout: exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal no trabalho.
Portanto, o ambiente de trabalho, a relação com a supervisão, a carga de aulas, relacionamento com os alunos parecem ser agentes estressores eficientes no burnout de docentes.
Como tratar o burnout
Muitas vezes é necessário o uso de remédios que devem ser receitados pelo seu médico ou psiquiatra, bem como contar com ajuda psicológica. O professor Schedlowski recomenda às vítimas do burnout complementarmente a aprender uma técnica para relaxar, como yoga, meditação, mindfulness, treinamento autógeno ou relaxamento muscular. Mais recentemente foram desenvolvidos sistemas de biofeedback que ajudam as pessoas que sofrem de sintomas psicossomáticos provenientes de stress, burnout, ansiedade, depressão, pânico, bem como hipertensão, asma, arritmias a reduzi-los. Um desses kits de biofeedback disponíveis no mercado brasileiro é o biofeedback cardioEmotion, desenvolvido e comercializado pela NPT – Neuropsicotronics (www.cardioemotion.com.br), empresa sediada no Centro de Inovação, da Universidade de São Paulo (Cietec).
O kit cardioEmotion é de extrema simplicidade no uso e ensina a pessoa a se autocontrolar e a reequilibrar sua fisiologia de forma interativa, com a ajuda de um simples computador doméstico. Um sensor não invasivo é colocado no dedo da pessoa, como se fosse um dedal de plástico, que capta o batimento cardíaco e envia para o computador. A pessoa é ensinada em tempo real a reduzir o estado stress e ansiedade por meio de treinamento orientado pelo próprio programa de computador, que oferece toda a ajuda e informações necessárias.
Se você sofre de stress, se o burnout já se manifestou ou se está ansioso com seu emprego ou com o amanhã, faça o treinamento com o biofeedback em sua casa. São só 20 minutos diários de treinamento. Assim você poderá reorganizar sua vida profissional, sem stress.
Marco Fabio Coghi, diretor geral, é pesquisador, químico (CRQ-4 nº 04203774), conferencista, fisioterapeuta pós-graduado (CREFITO-3 nº 125813-F). Professor convidado da pós-graduação da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), do Curso de Especialização em Medicina Comportamental (UNIFESP – Coordenação do Prof. Dr. José Roberto Leite), do Curso de Gerenciamento de Stress, do International Stress Management Association (ISMA), do Curso de Neuropsicologia Aplicada a Reabilitação (coordenação Dra. Livia Stocco Sanches Valentin).