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Guia para Gestores de Escolas

A necessária reforma do Ensino Médio

As últimas semanas foram tomadas por um intenso debate sobre a reforma do Ensino Médio. A polêmica em torno da edição da MP 746 sobrepôs-se ao centro do debate: a inadequação dos atuais currículos escolares em todos os níveis do sistema escolar, da Educação Infantil ao Ensino Superior. Há uma crise que está muito além das questões políticas atuais.

A crise da educação é, na verdade, uma crise civilizatória. Há quase um século, filósofos e sociólogos apontam o esgotamento de muitas das propostas da Modernidade, destacadamente aqui do Iluminismo. A fragmentação do saber em hiper especializações hoje não responde mais às necessidades de problemas cada vez mais complexos.  Não se trata somente de separar os saberes, e sim de integrar pontos de vista para tentar equacionar a atual complexidade das questões contemporâneas.

A quebra das “empresas.com” no início deste século, a crise econômica de 2008 em nível global, os movimentos de junho de 2013 e a atual crise política no Brasil e no mundo indicam que as soluções não serão dadas isoladamente. Dessa forma, discutir a atual divisão em disciplinas estanques, filha direta do enciclopedismo, se faz fundamental. A pulverização do conhecimento em muitas especialidades não contribui para a compreensão do mundo contemporâneo. A escola atual ignora a cultura infanto-juvenil, quando não a despreza.

O recente falecimento do ídolo sertanejo Cristiano Araújo, desconhecido do mundo acadêmico, as surpreendentes competições de games em estádios, os encontros de jovens em congressos de HQs ou as batalhas de Passinho apontam que uma série de outros saberes é produzida no seio da juventude e não é tematizada pela escola, absorta em seu modelo herdado do século XIX.  Os alarmantes índices de evasão no EM apontam claramente o esgotamento do modelo.  A tradição “vestibularesca” na educação dos jovens aponta para uma contradição grave.

A necessidade precoce da escolha da profissão é herdeira direta da Revolução Industrial, típica do final do século XIX e início do Século XX. Em uma sociedade do aprendizado, pós-industrial e pós-muitas outras coisas, exigir definições de carreiras aos 16 anos também parece um contrassenso. Para jovens que viverão mais do que a população adulta atual e verão emergir muitas novas funções sociais em pouquíssimo tempo, parece bastante inadequado exigir tomadas de posições tão precoces.

Assim, qualquer que seja a reforma, integrar o jovem ao seu meio, tematizar as cidades, a qualidade de vida, a cidadania ativa, o trabalho dentro de um conceito de formação integral são questões emergenciais. Assim, é preciso discutir as especializações, permitir uma flexibilização que leve em consideração os conhecimentos gerados pela juventude, abarcar novos modelos do mundo do trabalho, dos serviços à economia criativa, do empreendedorismo social aos novos modelos fabris, da nova agricultura à necessidade de renovação dos serviços públicos.

Sobretudo, a reforma, qualquer que seja, deve levar em consideração os modelos emergentes de cooperação, de conexões entre jovens, os suportes de comunicação, a criatividade, a necessidade de customização e, sobretudo, o cultivo do senso crítico.

Miguel Angelo Thompson Rios: MBA pela Fundação Instituto de Administração (FIA) – Marketing de Serviços; Doutorado e Mestrado pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e Graduação em Ciências Biológicas, pela Universidade Mackenzie. Atualmente é diretor executivo do Instituto Singularidades.

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