Conversa com o Gestor – Ensino Médio: Desafios, habilidades e reformulações
Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação
“O principal desafio do Ensino Médio é ir além do conteúdo, que no Brasil é extenso. Proporcionamos uma formação integral para que os alunos sejam capazes de desenvolver habilidades cognitivas e socioemocionais, além do conteúdo. É essa preparação que faz a diferença para enfrentar a rotina de estudos, o vestibular, a universidade, o mercado de trabalho e os desafios da vida”, destaca Adilson Garcia, Diretor do Ensino Fundamental II e Médio do Colégio Vértice (SP)
Ensinar, dizia o pensador Paulo Freire em “Pedagogia da Autonomia”, não é transferir conhecimento, “mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Nessa perspectiva é possível estender este trecho a toda esfera social, inclusive aos processos intrínsecos que envolvem e convivem com cada estudante durante longos anos.
Se observarmos, de maneira precisa, as propostas e engrenagens que constituem os meandros da educação, encontraremos um denominador comum: todos e todas que atravessam os muros das escolas fazem parte de uma agência social, ou seja, de formação peculiar e complexa a cada estudante que é, de certa forma, movimentado pelas engrenagens pedagógicas.
Na contemporaneidade, questionamentos e desdobramentos evocam transformações, mudanças, análises e discussões que cercam os ideais da educação – e esta noção transcende planilhas de desenvolvimento, mensurações de qualidade, mas destaca, também, os caminhos e desafios enfrentados cotidianamente, nas amplas formas de ensino e nas relações produzidas entre a comunidade escolar. Nessa ótica, novas reformulações são propostas, bem como a aproximação do núcleo escolar aos jovens e a inserção tecnológica em rotinas do aprendizado.
O Novo Ensino Médio, por exemplo, é uma mudança do sistema atual de ensino. Com a flexibilização da grade curricular, o novo modelo permitirá que o estudante escolha uma área de conhecimento para aprofundar seus estudos.
De acordo com o MEC, a nova estrutura conta com uma parte comum e obrigatória a todas as escolas, como prevê a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e outra com os itinerários formativos. Dessa forma, espera-se que o ensino médio esteja mais afinado com a realidade dos estudantes diante das novas demandas profissionais do mercado, de forma que esses jovens sigam o caminho de suas vocações, seja para continuar os estudos no nível superior, seja para entrar no mundo do trabalho.
No centro das mudanças propostas pelo Novo Ensino Médio está o currículo mais flexível. O modelo deixa de ter 13 disciplinas mandatórias e passa a contar com apenas 3. Os estudantes poderão optar por áreas do conhecimento e itinerários formativos, um dos quais é o de educação profissional e técnica. Além disso, o ensino médio passa a contar com maior carga horária, passando de quatro para cinco horas de aula por dia, em cinco anos, e para sete horas progressivamente. O objetivo é fazer com que o estudante conclua o ensino médio na idade adequada, com aprendizado de qualidade.
Com essas recentes modificações, o Colégio do Carmo, situado na Grande São Paulo, iniciou disciplinas optativas para que os alunos consigam fazer suas escolhas com mais critério. “Alguns professores já estão trabalhando de forma interdisciplinar para que os alunos entendam que conteúdos tem uma correlação. Trabalhamos com as disciplinas já divididas por área de conhecimento”, explica Renata Maria Smolka e Gaia, Diretora Pedagógica.
Dentre os principais desafios, na visão do colégio, para o ensino médio, estão: Criar oportunidades, em disciplinas optativas, para que exercitem e conheçam profissões futuras; Tornar os alunos autônomos, proativos, que saibam trabalhar em grupo e exerçam papeis de liderança; Fazer com que os alunos cuidem de o porquê aprender, para tudo que está por vir e estimular o espírito crítico.
“Existe reunião de planejamento no início do ano para traçarmos os rumos do nosso currículo e estratégias para melhor desenvolvê-lo. O realinhamento do currículo escolar é realizado semanalmente com todos os assessores para definirmos e ajustarmos o currículo da escola e os professores são atendidos pelos assessores diariamente”, indica a diretora.
FORMAÇÃO HUMANA
Com método de alfabetização próprio, trabalhando a formação integral do aluno, reforçando a necessidade do acompanhamento individualizado, o Colégio Vértice, localizado na capital paulista, disponibiliza aos seus alunos, através do currículo pedagógico diferenciado e anterior à Reforma do Ensino Médio, cursos eletivos para realizar no contraturno, como Desenho Artístico, Trabalhando com Madeira, Freud Explica, A Química das Engenharias, Espanhol, Orientação Vocacional, Dinâmicas (desenvolvimento de trabalho em equipe por meio de gincanas, desafios e outras atividades), Artes (Cinema e Audiovisual), entre outras opções.
“O formato de avaliação também é diferenciado. A nota de cada disciplina é formada pela média simples das notas quantitativa e qualitativa. A quantitativa é composta pelo resultado obtido em provas e avaliações constantes. Já a qualitativa é o resultado da observação diária do professor em relação às habilidades comportamentais e cognitivas do aluno, como participação em aula, senso de responsabilidade, entre outros aspectos”, informa Adilson Garcia, Diretor do Ensino Fundamental II e Médio do colégio.
Os alunos, conta Adilson, também participam de projetos internos e externos multidisciplinares e desenvolvem aptidões como liderança, empreendedorismo e trabalho em equipe. Os estudantes são motivados a criar, resolver problemas e construir propostas inovadoras.
“Nós priorizamos os valores éticos e humanos, como o respeito ao próximo e a solidariedade. O nosso modelo pedagógico prepara o aluno da Educação Infantil ao Ensino Médio para a vida, tornando-o um cidadão crítico, atuante, consciente e capaz de enfrentar os desafios da vida e do mercado. Trabalhamos com a certeza de que estamos colaborando na contínua transformação de seres humanos em indivíduos conscientes de seus direitos e deveres, que atuarão com valores éticos e morais em nossa sociedade, para torná-la melhor a cada dia”, ressalta.
Tendo como ponto de partida a formação integral do aluno, o Colégio Vértice promove atividades que transcendem a sala de aula com propostas de ações internas e externas em diversas áreas, como: Palestras promovidas pelo Colégio com atletas de alto rendimento; Palestras para pais e alunos sobre universidades no exterior; Bolsas de intercâmbio cultural, dentro da iniciativa PASCH, em várias cidades da Alemanha; Encontro anual de alunos com ex-alunos para debates e trocas de experiências sobre mercado de trabalho; Participação em competições estudantis globais de esporte (Futsal) e acadêmica (engenharia e aerodinâmica), representando o Brasil; Participação em Ações Comunitárias para a captação de doações para as instituições ajudadas pelo Colégio.
“Acreditamos que o conhecimento não é um fim em si mesmo, mas um meio para preparar o aluno a enfrentar os desafios da vida e formá-lo como cidadão, pronto para o mercado de trabalho, de um mundo global e em constante mudança. Estas iniciativas colaboram com esta proposta”, destaca o diretor.
CONTEÚDO, TECNOLOGIA E PROGRAMAÇÃO
A sociedade atual está pautada, de certa forma, pela tecnologia. Assim, o diálogo tecnológico, o trabalho com plataformas e a possibilidade de intercalar novas metodologias explora interesses e amplia repertórios. “Não há como não se pensar em trabalhar tecnologia na educação hoje em dia”, diz Luisa Ferraiuoli, Gerente de Inovações Educacionais do SAS. “Trazer isso para a sala de aula é, além de aproximar o cotidiano escolar do social, fomentar o interesse do aluno em vivenciar essas experiências”.
Segundo Luisa, o aluno do Ensino Médio tem, em geral, uma carga horária maior que as dos demais segmentos. Dessa forma, soluções digitais ajudam esses alunos a potencializarem seus estudos, além de perceber que as ferramentas auxiliam nas áreas com dificuldades. “O que estou querendo dizer: aluno que tem mais aptidão para Biologia, por exemplo, e apresenta dificuldades em entender Filosofia, busca videoaulas, questões ENEM etc. para melhorar seu desempenho, e consegue”.
Além dos aparatos e soluções digitais, instituições escolares expandem o conhecimento no campo tecnológico e fornecem materiais para a produção de aplicativos e softwares, através da linguagem da programação.
Em Curitiba (PR), o Colégio Positivo oferece aulas de linguagem de programação para os alunos de Ensino Médio e Fundamental desde o início de 2016. As turmas têm aulas semanais ou quinzenais e desenvolvem desde aplicativos mobile para o sistema Android, até dispositivos utilizando a plataforma Arduino, que podem ser utilizados em robôs, projetos de automação, projetos de iluminação, entre outras coisas.
O professor de Lógica de Programação do Colégio Positivo, Fernando Dimas Souza, conta que a linguagem aumenta a capacidade cognitiva desses alunos, desenvolvendo, inclusive, a capacidade de solucionar problemas logicamente. “Programar nada mais é que conversar com a máquina e ensiná-la a fazer o que você quer. Quando o aluno desenvolve essa capacidade, ele adquire mais autonomia, raciocínio lógico e confiança”, explica. A intenção, segundo o professor, é que, no futuro, os alunos possam criar os próprios programas e resolver problemas do cotidiano por meio desse conhecimento tecnológico.
“No início, boa parte dos alunos não entendem o motivo da disciplina, mas, no decorrer do ano, eles criam interesse e começam a fazer seus próprios projetos e nos procuram para auxiliá-los”, garante Dimas. Apesar das aulas não contabilizarem notas na grade curricular, as turmas têm boa participação dos alunos e alguns começam a considerar a área de tecnologia da informação como uma possibilidade para o vestibular. “Hoje, a área tecnológica é uma das que crescem mais no mercado, com salários atraentes e inúmeras vagas disponíveis para mão de obra capacitada”, explana o professor, sobre as oportunidades para quem quer seguir carreira.
Saiba mais:
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