Currículos internacionais: como estamos preparando nossos alunos para o ensino ministrado em inglês?
A internacionalização está para o Ensino Superior assim como o bilinguismo está para a Educação Básica: todo o sistema da educação já despertou para a grande necessidade de transformar seus cursos no meio que formará os cidadãos globais da atualidade e do futuro. Entretanto, na mesma proporção, encontramos com frequência gestores com mais perguntas do que respostas sobre como se preparar e se colocar nesse cenário de uma maneira sólida e eficiente.
No mundo globalizado em que vivemos, as escolas européias e norte-americanas há algum tempo lidam com o desafio de trabalhar com turmas compostas por pessoas de diferentes nacionalidades. Então, para que haja oportunidades iguais para que os alunos compreendam e interajam entre si, o inglês foi eleito como idioma oficial em diversos programas de educação em função de ser a segunda língua da maior parte das nações.
A ideia de estudar no exterior é bastante atraente para os brasileiros que miram uma carreira promissora: ela confere a vivência internacional, a possibilidade do contato com professores que são referência em suas áreas de atuação e também a experiência de conhecer o que outros países fazem e como conduzem determinados assuntos por meio do olhar dos colegas de classe.
Mas, parte dessa experiência também já pode ser adquirida sem precisar enfrentar obstáculos como o dólar alto ou o atual cenário de pandemia. Algumas instituições do País, como a Universidade de São Paulo (USP), Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), Universidade Federal do ABC (UFABC), Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Fundação Instituto de Administração (FIA), caminham para uma internacionalização, ainda que parcial por meio de disciplinas especiais ministradas em inglês.
Essa é uma forma de tornar o processo mais acessível e ainda investir em um formato que estimula a fluência e o raciocínio no idioma, o que contribui em atividades futuras que envolvam interação global, por exemplo. O domínio da língua é verificado durante a seleção inicial e o aperfeiçoamento do idioma, em alguns casos, é estimulado pelo contato com os professores e com os colegas de outras partes do mundo que completam a turma. Não há, entretanto, um padrão determinado – nem toda instituição segue esse modelo.
Entretanto, ao mesmo tempo em que vemos essa evolução acontecer, temos uma situação bastante distante no ensino escolar. Ainda estamos habituados a medir a proficiência da sociedade pelo famoso termo “falar inglês”, sem o envolvimento de parâmetros internacionais que conferem condição de igualdade entre nós e o restante do mundo. A forma como a nossa cultura enxerga a questão da avaliação gera uma divergência entre os objetivos que se pretende e os resultados que são alcançados. Exemplo claro é a parcela de alunos que estudam o idioma por muitos anos e não conseguem o colocar em prática na vida cotidiana e na comunicação.
Temos uma oportunidade se abrindo diante de nós para encontrar o caminho assertivo na prática educacional para medir e relatar resultados, ato que tem relação direta com a ampliação de chances de escolha para os alunos no futuro. Afinal, os horizontes se abrem para quem está melhor preparado e a fluência maximiza possibilidades, permitindo que cada um tenha mais de uma chance de sucesso no caminho trilhado.
As recentes mudanças na base educacional nacional tornaram o idioma obrigatório a partir do sexto ano do Ensino Fundamental a contar de 2019. Esse pode ser o pontapé inicial para ampliarmos o debate em torno da necessidade de pensar o inglês como estratégico dentro da educação e abandonarmos a prática de seguirmos o ciclo sem preocupações com a mensuração.
Aspectos como carga horária, currículo, preparo dos professores e modelo de medição dos resultados precisam ser repensados para o desenvolvimento de um processo de ensino focado em promover mudanças ágeis, caso o programa não esteja fluindo da forma desejada, assim como em aumentar as metas quando as anteriores forem atingidas. Somente dessa forma conseguiremos ajudar o nosso país a se deslocar de uma posição em que menos de 3% da população é fluente para um dia sermos considerados bilíngues.