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Guia para Gestores de Escolas

Educação 2022: Apontamentos, sugestões e reflexões para o próximo ano letivo

Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação

Nos últimos dois anos, com a instituição de um cenário pandêmico, expressões como rupturas, reelaborações e adaptações adentraram em nosso vocabulário diário. Na atualidade, com uma flexibilização em ascensão e a esperança de novas vivências e experiências presenciais no âmbito escolar em 2022, quais são as principais características ou mudanças que estarão presentes no próximo ano letivo?

Na última década, em especial, o denso processo educacional – suas estruturas, modulações, metodologias, sistemas e dinâmicas – alcançou a centralidade de debates, reflexões, pesquisas e ações que reverberaram direta e indiretamente no cotidiano escolar. Na atualidade, ainda em um cenário pandêmico – mesmo com as flexibilizações e o aumento de pessoas imunizadas em todo o país – retomamos os debates sobre as mudanças nas instituições e, sobretudo, as possíveis características que marcarão a educação em 2022.

Nesse sentido, com o intuito de adentrar nessa temática, trouxemos, neste especial da Conversa com o Gestor – que marca a passagem de 2021 para 2022 – falas de diversos profissionais que atuam em setores da educação respondendo o seguinte questionamento: Diante de tantas mudanças que atravessamos nos últimos tempos e com os reflexos pandêmicos, quais são, na sua perspectiva, as principais mudanças em toda a estrutural educacional que serão sentidas e incorporadas no ano letivo de 2022?

Evelyn Camponucci Cassillo Rosa

“Entre os diversos reflexos pandêmicos à educação, destacamos os impactos socioemocionais e as desigualdades sociais que ficaram ainda mais acentuadas. A difícil experiência de deixar o grupo social escolar e buscar estratégias para adaptar-se à rotina em casa no início da pandemia, se repete nesse momento, quando crianças e adolescentes voltam a ocupar as cadeiras das salas de aula, readaptando-se à escola e, ao mesmo tempo se ‘afastando’ da segurança que a família simboliza, principalmente tratando-se dos pequenos.

Certamente grandes mudanças estão previstas para este retorno, bem como propostas pedagógicas mais efetivas, que se preocupem com o desenvolvimento integral dos alunos, compreendendo não apenas a dimensão cognitiva, mas igualmente as dimensões motora e afetivo-social; mudanças das metodologias tradicionais de ensino para as metodologias ativas, cujas propostas inovadoras coloquem os alunos no centro do processo de ensino-aprendizagem, desenvolvendo habilidades e competências, em especial as socioemocionais, tão impactadas por conta do distanciamento social.

O cenário do próximo ano letivo certamente exige uma adequação de aprendizagem à nova realidade educacional, que deve ser desenhada a partir das dificuldades dos alunos. Faz-se necessário pensar objetivos de aprendizagem diferentes para crianças com níveis de aprendizado diferentes, planejar e desenvolver propostas de recuperação da aprendizagem, numa perspectiva de avaliação formativa, integrando e incluindo todos os estudantes, de modo que todos possam usufruir o direito de desenvolver-se como cidadãos. Tão necessário quanto quaisquer mudanças previstas, damos destaque ao investimento à formação continuada de professores, crucial para o desenvolvimento das competências pedagógicas, que permitirão planejar ações que atendam a toda esta nova estrutura educacional.”

Evelyn Camponucci Cassillo Rosa – Professora na Graduação em Pedagogia e na Pós-graduação em Alfabetização e Letramento da Universidade Cidade de São Paulo

Andréia Cristina Nagata

“Temos vivido a mudança propriamente dita em nossos currículos. Da pandemia às mudanças curriculares, a escola se viu diante de decisões urgentes, dentre algumas, como trabalhar os Campos de Experiências na Educação Infantil e o Novo Ensino Médio propostos pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular). A introdução das Tecnologias da Informação e Comunicação na prática escolar era uma proposta latente que foi acelerada com a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia da Covid-19.

No meio dessas implementações, a forma de ensinar e aprender foi alterada com o ensino à distância: uma nova modalidade na educação básica. Com isso, surgiram outros desafios, como a consequência do isolamento social vivido por todos nós, evidentemente, professores e alunos, a aquisição de novas habilidades e competências (digitais) que foram apreendidas como num passe de mágica.

Para 2022, acredito que a escola deverá oportunizar projetos interdisciplinares que viabilizem o cuidado com a saúde mental dos nossos alunos e professores, afetada pela suspensão das aulas presenciais, retomar o processo de ensino e aprendizagem aproveitando as estratégias digitais como um suporte de apoio que promovam a aprendizagem significativa dos alunos sonegada durante a pandemia.”

Andréia Cristina Nagata – Diretora dos Colégios do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional

Virginie Pierin Isber

“Evidentemente a pandemia interferiu na disparidade da aprendizagem dos alunos, entretanto, não apenas devido a fatores negativos – como a falta de comunicação, contato e descontrole emocional, mas também revelou o avanço tecnológico – a organização e o protagonismo. E, dessa forma, as escolas receberão alunos da mesma faixa etária, mas com níveis cognitivos diferentes, o que evidencia a necessidade de mudanças na esfera escolar a fim de garantir o aproveitamento do estudante de maneira vigorosa.

A primeira delas, certamente, é o alinhamento da escola junto à família, uma vez que a pandemia expôs o árduo trabalho do professor e como ele deve ser, ainda mais, valorizado enquanto agente de transformação social. Ou seja, a parceria entre essas duas instituições deve ser sólida e incorporada ao sistema educacional de maneira efetiva.

Além disso, em 2022, com o retorno total das atividades, será preciso que a escola reestruture o cronograma e ofereça um ambiente acolhedor e motivador. Assim, cabe aos professores a construção de planejamentos flexíveis para que seja possível a realização de sondagens acerca do nível de aprendizagem, não omitindo, também, a necessidade de resgatar o interesse do estudante pelo estudo. Contudo, não será possível deixar de lado a ferramenta tecnológica, ela precisa ser uma aliada nesse processo, pois instiga os alunos a desenvolverem suas habilidades e transporem conteúdos teóricos à prática.

Dessa forma, verifica-se que será um ano repleto de desafios, pois a reinserção dos alunos no ambiente presencial deverá ser um trabalho em conjunto e amparado por estratégias que unam a tecnologia junto à metodologia tradicional, bem como o amparo familiar, que deve ser incorporado de maneira expressiva no processo de aprendizagem do estudante.”

Virginie Pierin Isber – Professora de Língua Portuguesa e Corretora de Redação do Curso e Colégio Acesso (Curitiba/PR)

Vanessa Squassoni

“O contexto pandêmico empurrou definitivamente as escolas para o mundo virtual. Por uma questão não só de necessidade de adaptação aos novos tempos, mas de sobrevivência também, quem ainda não estava totalmente adaptado, precisou se adaptar em um curtíssimo espaço de tempo para garantir a oferta formativa, onde quer que o aluno estivesse. A partir desse ponto, o efeito dominó entrou em ação, não só para o próximo ano letivo.

Estruturalmente, a escola garantiu que os professores tivessem plenas condições de trabalho remoto, em termos de equipamentos e formação. As famílias, que não tinham um bom sistema que apoiasse as aulas, precisaram implementá-lo em suas casas. Em paralelo, os professores que ainda não tinham se apropriado de diversas ferramentas didáticas para o ensino à distância, aceleraram os estudos no assunto, pois o cenário passou de ‘um dia vou aprender a usar…’ para ‘tenho que usar hoje…’. São mudanças que contribuíram para incorporar definitivamente novas modalidades de ensino que estavam nos planos.

A volta presencial de uma parcela dos alunos provocou uma nova adaptação, agora no próprio espaço escolar: mudanças constantes de horário de aulas para contemplar quem estava em classe e quem estava em casa; investimento em equipamentos para garantir que cada sala de aula pudesse chegar à casa do aluno; manutenção do espaçamento de 1,5m dentro e fora das classes, manutenção das ‘bolhas de convivência’ com mais monitores que acompanhassem cada uma delas; organização das quarentenas caso ocorresse sintomas da Covid-19 em alguma classe; promover o uso de EPIs por todos que usam o espaço escolar, entre outros. O reflexo desse momento será sentido nos próximos anos.”

Vanessa Squassoni – Diretora Pedagógica Brasileira da Scuola Eugenio Montale

Fernando Shayer

“A pandemia trouxe à tona uma série de questões importantes em relação ao aprendizado dos estudantes na era digital em que vivemos. A primeira diz respeito ao enorme volume de conteúdos e aulas disponíveis on-line. Na minha época, as aulas eram longas e áridas, os alunos tinham que ficar quietos por cinquenta minutos, copiando o conteúdo da lousa ou anotando as falas da professora. E precisávamos aguentar isso por completa falta de opção. Se eu não aprendesse o conteúdo na sala de aula, não o aprenderia mais em lugar algum.

O mais incrível é que isso acontece ainda hoje: nossos filhos, algumas gerações depois, em plena Revolução Digital, ainda passam pela mesma experiência pedagógica dolorida todos os dias. No entanto, hoje eles têm outras opções de aprendizagem. Basta entrar no YouTube e digitar ‘aula de qualquer coisa’ e você encontrará instantaneamente inúmeras aulas, em diferentes formatos, tais como desenhos animados, músicas, aulas expositivas gravadas por professores e videodocumentários internacionais. São conteúdos muito engajadores, normalmente de curta duração, feitos muitas vezes por educadores e que retêm a nossa atenção imediatamente. Para quê gastar tempo e dinheiro na escola, se você tem tudo isso em casa, de graça? A sala de aula tem de oferecer mais do que isso.

A segunda diferença tem que ver com a pandemia e o lockdown. Para as crianças, o efeito da digitalização foi mais exponencial. Nessa fase, interação social é a chave. Não ir à escola, nem ver ou brincar com os amigos, tem um efeito muito negativo no desenvolvimento cognitivo e emocional de uma criança. Por isso, mesmo que não seja ideal a sociabilização dos jovens apenas por meio digital, ela é muito melhor do que o isolamento completo. Como contrapeso, cresceu de tal forma e por tanto tempo a profundidade do vínculo entre os jovens e os smartphones, iPads e computadores, que o padrão de interação deles com o mundo externo tornou-se essencialmente ‘figital’ (físico + digital).

Na volta às aulas presenciais, isso se refletirá no engajamento dos alunos dentro da sala de aula. Uma experiência pedagógica que seja exclusivamente analógica, e em que os professores deem palestras áridas de conteúdo e não estimulem os alunos a criar, se comunicar, interagir ou criticar, será muito prejudicial ao aprendizado. Nessas circunstâncias, o corpo dos alunos estará presente, mas o cérebro, o coração e a alma estarão em outro lugar. O papel da escola na volta às aulas presenciais será esse: prover uma experiência de aprendizagem que vá além da repetição do conteúdo gratuito que está no YouTube, e usar a tecnologia a serviço do engajamento e do aprendizado.”

Fernando Shayer – Fundador e CEO da Cloe 

Viviane Jesuz

“Muitas mudanças previstas para 2022 estão relacionadas ao Novo Ensino Médio. Elas oferecem ao estudante uma possibilidade maior de se preparar para as áreas de interesse que deseja seguir. Durante os três anos que antecedem sua entrada na universidade, o aluno terá a oportunidade de percorrer trilhas aprofundadas, além, é claro, dos componentes curriculares já previstos na BNCC. No caso das escolas bilíngues ou escolas com carga horária estendida em língua adicional, essa proposta será ainda mais dinâmica. As trilhas propostas para os itinerários formativos poderão possibilitar um processo de experimentação através da língua inglesa, que estará alinhado às áreas de interesse de cada aluno. As novidades que estão por vir também dão uma autonomia maior aos jovens que desejam ingressar no universo acadêmico, bem como aos que desejam cursar uma faculdade no exterior.”

Viviane Jesuz – Coordenadora Pedagógica Sênior do Edify Education

Luciano Egewarth

“Nos últimos anos, o cenário educacional brasileiro vem passando por mudanças profundas, relevantes e de grande impacto. Entre elas, cabe destacar: a) os preparativos para um novo Ensino Médio a partir de 2022; b) os investimentos volumosos no ramo educacional privado, com inúmeras fusões e aquisições; c) a grande mobilidade de alunos entre escolas, em virtude dos impactos financeiros da pandemia; d) a solidificação de novas tecnologias e metodologias educacionais; e) a valorização do trabalho docente e escolar em decorrência do distanciamento social; e f) a preocupação da sociedade com o desenvolvimento de crianças e jovens, tanto na parte acadêmica, quanto psicológica e emocional.

Já em relação ao ano de 2022, há uma enorme expectativa. Após dois anos letivos fortemente impactados, a simples perspectiva de que os próximos 200 dias letivos serão majoritariamente presenciais já é naturalmente animadora. Contudo, as preocupações pedagógicas, decorrentes da pandemia que, na prática, ainda não acabou, não serão todas solucionadas de imediato. Por isso, chamamos a atenção não para o ano vindouro em si, mas para o daqui em diante.

É evidente que sem as soluções tecnológicas disponíveis no momento não teríamos atravessado o biênio 2020-2021 como o fizemos. Sem ambientes virtuais de aprendizagem, câmeras e microfones, compartilhamento de documentos e trabalhos colaborativos é até difícil de imaginar o que teríamos feito. Ainda que não fossem recursos completamente novos, as comunidades escolares mergulharam, cada uma ao seu modo, em um ecossistema inédito e não mais sairão dele. No entanto, ao mesmo tempo que o ensino foi fortemente impactado, é fundamental que olhemos para a aprendizagem com a mesma atenção. Alunos e alunas se viram reposicionados no processo de ensino-aprendizagem. Eles foram ativados, chamados a se engajarem em seus estudos, unindo esforços aos dos professores. E, apostamos, isso também não tem volta.

Neste sentido, o novo Ensino Médio deve corroborar esse papel protagonista e engajado por parte dos educandos, uma vez que seu novo formato pressupõe, obrigatoriamente, a participação ativa do jovem adolescente na escolha de seus itinerários formativos e, assim, na construção de sua jornada formativa para a conclusão do ciclo da Educação Básica. 

Em paralelo, os aspectos socioemocionais, seja o acolhimento individual e coletivo ou o desenvolvimento de habilidades específicas, ganharam destaque. De um elemento secundário ou auxiliar à aprendizagem de habilidades cognitivas e objetos de conhecimento, o universo socioemocional, pelo abalo sofrido neste período, mostrou-se merecedor de toda a atenção e cuidado pelas escolas. 

Querendo ou não, intencionalmente ou não, temos a certeza de que as mudanças necessárias, realizadas pela pandemia e outros fatores contribuíram para valorizar o papel da escola, do professor, do aluno e das famílias no macro cenário da educação brasileira. O desafio reside em garantir a sustentabilidade e o fortalecimento dessas mudanças.”

Luciano Egewarth – Diretor pedagógico e Erik Hörner, Vice-diretor pedagógico, ambos do Colégio Humboldt

Yan Navarro

“A principal mudança será na relação entre as famílias e as escolas. As escolas entraram nas casas dos estudantes e os pais tiveram a oportunidade de acompanhar de perto o desenvolvimento do trabalho dos professores, tanto do ponto de vista pedagógico, quanto na relação professor/aluno. As famílias desejam manter essa proximidade, e as escolas deverão manter seus canais abertos.

Os eventos on-line também permanecerão, tanto para reuniões e encontros quanto para questões pedagógicas. Os alunos se adaptaram, as famílias também. A relação das pessoas com o tempo de deslocamento, especialmente nas cidades grandes e médias, mudou completamente. Dessa forma, a presença física dos responsáveis nos colégios será para momentos especiais.”

Yan Navarro – Diretor acadêmico da rede de escolas Luminova

Edson Luiz Mendes

“Para 2022 os desafios aumentaram, pois os estudantes foram impactados pela pandemia, nos estudos, na convivência familiar, na interação social, na proficiência acadêmica e ainda estão abalados emocionalmente pela pandemia. A sociedade vem exigindo um novo perfil juvenil para o acesso ao mercado de trabalho, com maior criatividade, autonomia, protagonismo e capacidade de trabalho em equipe, junto de certa expertise na relação com as novas tecnologias. As novas profissões, em formato digital, vêm surgindo velozmente e a educação enquanto ‘preparadora ao exercício da cidadania e qualificação ao mercado de trabalho’, precisará avançar no suporte com os equipamentos e ferramentas tecnológicas e digitais. 

A educação é uma das pontes de acesso ao mundo do trabalho nesse início de século XXI – reconhecido como Sociedade da Informação. Utilizar-se de ferramentas digitais educacionais, possibilitar o acesso à internet e a equipamentos tecnológicos, através de metodologias inovadoras, híbridas e ativas, adentrando no perfil da juventude contemporânea, é uma necessidade para os próximos anos.  

Sem desconsiderar as experiências anteriores, a estrutura educacional necessita de transformações cultural, social e tecnológica, fomentando maior coparticipação, intervenção e resultados práticos (relação conhecimento e contexto – teoria/prática) a partir de novas aprendizagens onde os estudantes sejam sujeitos ativos de seu processo formativo.”

Edson Luiz Mendes – Coordenador pedagógico do Ensino Médio do Marista Escola Social Lucia Mayvorne

Giba Barroso

“A principal mudança, em 2022, será mais focada no novo Ensino Médio, na BNCC e nos itinerários formativos. A BNCC passa a ter 1.800 horas durante o ano e os itinerários formativos, 1.200 horas no mínimo. Eu acho que essa é a maior mudança na educação nos últimos 20 anos. Na verdade, o que ela tenta promover é uma mudança no aluno, preparar o aluno para profissões que não existem ainda, tecnologias que não foram inventadas, desenvolver habilidades como criatividade, comunicação e autoconhecimento, para poder tomar as decisões de forma mais assertiva. O que víamos na escola, até pouco tempo atrás, não era preparar as crianças para ter esse tipo de comportamento, mas passar o conteúdo e ver o quanto de retenção desse conteúdo foi feito. Os aprendizados obrigatórios vão continuar existindo, só que eles passam para as nomenclaturas de competência e habilidade, que são organizados em quatro áreas: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias e ciências sociais aplicadas.

A mudança mais importante que vai ter, além da BNCC, que vai para todo mundo e todos terão que ter esses princípios básicos na educação, são os itinerários formativos, essa sim é uma mudança atual e necessária. É, na verdade, o aprofundamento do conhecimento da formação geral básica, tendo uma maior conexão com os interesses do cotidiano dos jovens. O que nós vimos de 20 a 30 anos para cá? As crianças nascem nativos digitais e encontram uma escola em um formato mais arcaico. Então, toda essa mudança da BNCC e dos itinerários formativos é uma atualização no ensino, onde prepara o aluno para um mundo diferente. A base educacional que temos remonta às cenas da Revolução Industrial; o mundo e a tecnologia mudaram, mas o ensino nem tanto. Esse é o maior desafio: trazer algo atual para os alunos que seja aplicado dentro da sala de aula. Porém, o grande desafio que teremos ano que vem é colocar o professor nesta posição up to date para trabalhar dessa maneira com os alunos, e colocar os alunos como protagonistas, que é exatamente isso que esse novo Ensino Médio busca: o protagonismo do aluno.

Na área pública, também terá um grande desafio, que é a divergência entre escolas aptas e escolas que não estão preparadas, a infraestrutura tanto de formação do professor quanto tecnológica. Então existem algumas demandas que não foram completadas e passamos agora para uma nova fase com uma mudança tão significativa como essa. A ideia é que os alunos passem mais tempo dentro da escola para aprender mais e com um formato diferente. Para a educação privada, esse movimento vai acontecer muito rápido, porque eles têm poder de investimento e de decisões rápidas. Agora, na educação pública, é algo que vai exigir muito esforço político e acadêmico, e a junção dessas duas forças vai fazer essa grande mudança. Mas, infelizmente, o que temos visto na área pública é uma divergência entre o político e o técnico, aqueles que investem em tecnologia e os que não investem, aqueles que investem em formação de professores e os que não investem. Então, o grande desafio vai ser trazer todos para o mesmo ponto, para esse mesmo olhar da educação de itinerários, de BNCC, com esse formato em que o aluno é protagonista e aprende a pensar por conta própria, tomando suas decisões.

Isso é algo que o mundo está buscando. Eu acredito que é um grande passo que o Brasil está dando, colocando a BNCC e os itinerários formativos, mas ainda vai encontrar um pouco de resistência de indivíduos, professores e instituições.”

Giba Barroso – Especialista em educação e um dos idealizadores da plataforma De Criança para Criança

Leo Ferreira

“Entre as principais mudanças para o próximo ano temos a continuidade de melhorias nos modelos híbrido e EAD, no sentido de se adequarem mais às necessidades dos alunos. A forma de ensinar, aprender e avaliar os estudantes seguirá se adaptando nesse sentido. A dinâmica da sala de aula vai continuar se aprimorando nesses modelos. No começo da pandemia, tínhamos professores replicando a aula presencial, mas em um ambiente on-line. Agora os docentes já adquiriram mais prática nessas modalidades e poderão incluir propostas de sala de aula invertida, por exemplo, com o professor dedicando mais tempo para mentoria, apresentando estudos de caso e realizando atividades entre pares.

As avaliações provavelmente seguirão de forma mais frequente, permitindo um maior acompanhamento do progresso dos alunos e transformando as tarefas em momentos de aprendizagem.

E quando pensamos nos professores e nas instituições, o uso de tecnologias que diminuam o tempo em correções, que permitam enxergar padrões de comportamento em sala de aula e que ao mesmo tempo ofereçam uma visão do desempenho de cada aluno, será muito importante para mantê-los motivados a trabalharem nas melhorias dos cursos.”

Leo Ferreira – Regional Marketing Manager LATAM, Turnitin

Priscila de Moraes

“O ensino escolar continuou durante o período da pandemia. As escolas usaram o que possuem de melhor, o professor. Estes, através de inúmeras ferramentas, já conhecidas e outras que foram buscar conhecer, puderam acessar seus alunos, mesmo à distância, e realizaram um trabalho exemplar. Garantiram acompanhamento, significado, individualização, flexibilização, atenção e cuidado, características importantes para um bom ensino ocorrer. Essas características ficaram marcadas nesse processo educacional que se formou tão rapidamente para atender as necessidades de cada um de seus alunos. Além de manter tais características no ensino para os anos que virão, temos a urgência de focar, como nunca, no desenvolvimento emocional e social de nossos alunos. Garantir que eles possam ter vivências que se rarearam no período pandêmico mais crítico. Estes desenvolvimentos, social e emocional, são de extrema importância para se garantir o bom desenvolvimento acadêmico dos próximos anos, assim como reorganizar os critérios de aprendizagem e conteúdos, valorizando cada vez mais o desenvolvimento de habilidades. Estas, uma vez desenvolvidas, colaboram para que os conteúdos sejam apreendidos mesmo que em tempos diferentes de outrora. Mais do que nunca o professor também precisa ser acolhido, eles tiveram que proporcionar um ensino que não vivenciaram, o qual muitos tiveram que despender uma energia que nem mesmo eles tinham, mas fizeram seu trabalho. Este desgaste precisa ser olhado e cuidado por todos. Levamos deste período a possibilidade de termos mais trocas com as famílias. A presença delas na escola é sempre muito importante, contudo, antes da pandemia era possível perceber como estar presente no espaço escolar era difícil para muitos pais. Os compromissos, de trabalho e sociais, acabam competindo com eventos e reuniões escolares. O modo on-line, para algumas reuniões, veio providenciar um número maior de conversas sobre os filhos com a escola. Essa estrutura permite maiores possibilidades de horários, podendo garantir um acompanhamento do que é relatado e orientado, com devolutivas e combinados em tempo mais rápido, mais assertivo, proporcionando respostas deveras positivas na relação de parceria família e escola, colaborando, cada vez mais, com o bom desenvolvimento do aluno.”

Priscila de Moraes – Coordenadora Pedagógica da Escola do Futuro

Juliano Costa

“Particularmente, entendo que o ano letivo de 2022 será um ano de síntese, ou seja, um ano de combinação entre melhores práticas, modelos pedagógicos e de gestão educacional anteriores à essa pandemia e elementos diversos que surgiram dentro do cenário pandêmico, a exemplo da multiplicação de soluções digitais de aprendizagem, hibridização do ensino e virtualização da aprendizagem. No entanto, cada um desses itens precisa ser analisado à luz dos efeitos pedagógicos obtidos e das limitações que as unidades escolares têm para implementar essas soluções, seja no campo estrutural (instalações, recursos, etc.) seja no campo educacional (formação de professores, gestão curricular, dentre outros).

Assim, quando pensamos no cenário pré-pandêmico, percebemos que vários elementos do ecossistema escolar eram fundamentais ao sucesso dos processos de ensino-aprendizagem e também do desenvolvimento integral da criança e do adolescente. A saber: as relações sociais presenciais auxiliavam fortemente o desenvolvimento da identidade, do repertório socioemocional, da saúde física e da saúde mental; a infraestrutura física dava aos estudantes o sentimento de pertencimento, de uma certa cultura educacional e de um ambiente propício e focado na aprendizagem; a rotina acadêmica – com seus horários, procedimentos, tempos e movimentos – disciplinava nos estudantes nos ‘momentos de aprender’, e isso é especialmente importante para crianças em fase de organização pessoal e autogestão; e a presença de diversos agentes educacionais no mesmo ambiente – professores, supervisores, psicólogos, auxiliares, diretores – gerava um grupo de adultos capazes de dar a devida orientação acadêmica, pessoal e emocional para um grupo extremamente dependente desse suporte ao longo da vida. Nesse sentido, a escola enquanto entidade física deve voltar muito mais valorizada do que antes da pandemia e o seu papel será reforçado como instituição fundamental para o desenvolvimento social.

Por outro lado, a pandemia também trouxe aprendizados latentes que, se já não estavam no radar do sistema educacional, já se deslumbravam no horizonte da educação como possibilidades de melhoria e inovação em um ambiente tão seguramente conservador quanto o ambiente escolar: a possibilidade de virtualização das atividades escolares, especialmente as aulas, se tornou um fato concreto e, a despeito da limitação dos seus efeitos em crianças pequenas (3-7 anos) se mostrou muito possível de ser implementada como parte da rotina escolar em crianças maiores, adolescentes e adultos (que já tinham essa modalidade no EAD). A diversificação dos recursos digitais de aprendizagem, desde salas de videoconferência especialmente formatadas para execução de aulas até softwares de conteúdo digital e gestão da aprendizagem personalizada, foi muito acelerada e hoje os professores e gestores escolares têm à sua disposição uma gama de ferramentas que, com a devida seleção e preparação para uso, podem catapultar o aprendizado a níveis anteriormente impossíveis de serem atingidos apenas pela escola física regular. A ampliação da capacidade digital dos docentes e da autonomia do estudante, uma vez que ambos os grupos – alunos e professores – foram obrigados pela pandemia a saírem completamente da sua zona de conforto e buscar soluções para manter o ritmo da aprendizagem (no caso dos professores, formação; no caso dos alunos, autonomia).

É óbvio que os cenários para 2022 continuam sendo desafiadores e o retorno à escola nos moldes presenciais de 2019 parece ainda um sonho um pouco distante, mas entendemos que um esforço extra nessa jornada de adaptação ao novo, de combinação de oportunidades entre o passado e o presente para se construir o futuro é o melhor caminho que a educação pode seguir nesse momento de retomada.”

Juliano Costa – Professor e vice-presidente de produtos educacionais Pearson LATAM

Celso Kiperman

“Acreditamos que o ensino híbrido será uma grande tendência e democratizará o acesso à educação de qualidade para mais pessoas. O aluno recebe on-line o conteúdo para estudar. Ele vai se preparar, estudar aquele material no seu ritmo e da forma que lhe for mais adequada, e depois ele vai para o campus da universidade para interagir com seus pares, desenvolver atividades práticas. Nesse modelo de sala de aula invertida, o aluno vai ter o professor como um mediador desse processo de aprendizagem. 

Além disso, as pessoas vão viver mais e terão de ir estudando e reaprendendo ao longo de toda vida ou desaprendendo e tendo que reaprender. É o conceito de lifelong learning. E nessa perspectiva, todos vão ter múltiplas e diferentes atividades ao longo do seu ciclo de vida. E isso vai ao encontro da estratégia que a +A Educação está desenvolvendo na forma de soluções educacionais que respondem a essas tendências. Por exemplo, com a oferta de pílulas de conhecimento, microcertificações. Esperamos contribuir com soluções integradas de conteúdo, tecnologia e serviços que expandam os horizontes do conhecimento e promovam o pensamento crítico nas pessoas.”

Celso Kiperman – CEO da +A Educação

Marco Zanini

“Para 2022 a tendência é que o sistema EAD, que durante a pandemia foi instaurado em todas as instituições educacionais, seja não só mantido, como apresente também inovações em suas plataformas, com novos formatos de chats, testes on-line, salas de videoconferência, aulas ao vivo, etc. Além desse cenário do ensino híbrido, onde o professor precisará de qualificação também nos meios digitais, as mudanças tecnológicas devem chegar até as escolas e universidades em ambientes como a biblioteca e o laboratório de informática.

Com o desenvolvimento tecnológico em todas as esferas da educação, será ampliado o uso do Certificado Digital, documento eletrônico que tem como objetivo identificar e autenticar organizações e pessoas físicas com segurança. Assim, com o aumento do uso da assinatura digital e do e-diploma, será extremamente necessária uma maior preocupação quanto a segurança das informações nesses meios digitais. Principalmente após um ano em que escolas e universidades perceberam que suas redes podem ser hackeadas, com o risco do vazamento de dados de professores e alunos, como nome, RG, CPF, data de nascimento e endereço de e-mail.

Logo, a expectativa é que seja implementada uma maior segurança digital com o uso da criptografia, acelerando a criação de ambientes seguros para os certificados digitais e garantindo a ética da LGPD (Lei Geral da Proteção de Dados Pessoais). Nessa perspectiva, as instituições buscarão acompanhar o desenvolvimento tecnológico e fortalecer uma cultura de segurança cibernética, trazendo para 2022 um número maior de palestras e treinamentos educativos para alunos, professores e funcionários sobre segurança digital.”

Marco Zanini – CEO da Dinamo Networks

Mônica A. Weinstein

“Em 2022, teremos um cenário com defasagens de aprendizagem com extensão ainda não totalmente compreendida. A priori, existirão, no próximo ano, dois grandes desafios imediatos. O primeiro desafio diz respeito à reintegração dos alunos do ensino básico à vida escolar. É fundamental que a mentalidade necessária para uma educação para toda a vida seja colocada em pauta, quer seja pela ressignificação do vínculo dos alunos com a aprendizagem, quer seja pela ampliação do repertório de aspirações educacionais e profissionais ao alcance deles. Será necessário um planejamento intencional para que se criem aspirações de longo prazo, sobretudo para os jovens. 

O segundo desafio imediato refere-se ao planejamento e execução da recuperação das perdas de aprendizagem que ocorreram durante o período da pandemia da Covid-19. Embora alguns alunos tenham conseguido seguir aprendendo durante a pandemia, a imensa maioria terá aprendido menos do que deveria. Alguns terão retrocedido, perdendo conhecimentos e habilidades que outrora possuíam. É imperativo concentrar esforços na recuperação das habilidades básicas, oferecendo currículo e instrução que se adaptem ao nível de aprendizagem das crianças na reentrada na escola para evitar que elas fiquem com defasagens de longo prazo. O Banco Mundial, inclusive, pediu que os sistemas de educação comecem a planejar programas de remediação em larga escala (Banco Mundial, 2020).  

Em poucas palavras, a escola não poderá retomar suas atividades como de costume, virando a página sobre o hiato da interrupção causada pela pandemia, pois a retirada da sustentação que o sistema escolar representava na vida desses milhões de alunos durante os dois últimos anos terá deixado marcas complexas e duradouras, que apenas poderão ser mitigadas com a repactuação de novos vínculos de propósito de longo prazo, e com o fechamento prioritário das defasagens dos conteúdos essenciais de alfabetização, letramento e numeramento.”

Mônica A. Weinstein – VP de Pesquisa, Desenvolvimento e Impacto do Alicerce Educação 

Ana Ligia Scachetti

“O ano de 2022 será marcado tanto pelos problemas como pelos aprendizados que a pandemia deixou na área da Educação. Do lado dos problemas, temos que ter em mente que os alunos estão marcados por dois anos letivos bastante instáveis. O primeiro desafio é garantir que os estudantes voltem, se reconectem e se sintam bem na escola. Com isso assegurado, precisamos apoiá-los na recomposição da aprendizagem, promovendo diagnósticos e instrumentos de avaliação processual que permitam saber onde cada estudante está e utilizar estratégias como reorganização das turmas e oferta de aulas extras para recuperar temas específicos, sempre com apoio constante aos professores.

Em relação aos aprendizados, precisamos reconhecer quais soluções adotadas durante a suspensão das aulas presenciais podem ser incorporadas no dia a dia escolar. Nossa relação com a tecnologia não é a mesma. A escola pode continuar utilizando os recursos para aprimorar o ensino e personalizar a aprendizagem, dentro e fora da sala de aula. Outro aspecto é em relação às famílias. A aproximação que o período emergencial gerou não precisa acabar. Podemos aproveitar para envolver pais e responsáveis de outras maneiras na escola, com uma gestão mais participativa e aberta.”

Ana Ligia Scachetti – Jornalista e pedagoga, gerente de Conteúdo da Associação Nova Escola

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