Como escolher um sistema de ensino eficiente para a escola?
Por Rafa Pinheiro / Fotos Divulgação
Contemplando as principais áreas de uma instituição, os sistemas de ensino podem ser considerados como uma das ferramentas centrais de uma escola. Nesse sentido, é preciso observar características fundamentais a fim de escolher um sistema de ensino alinhado às demandas atuais e que se aproxime de forma efetiva da cultura e dos propósitos da instituição
Partindo da premissa de que o sistema de ensino é uma importante ferramenta para a escola e que, cada vez mais, notamos que os sistemas disponíveis no mercado contemplam (e integram) soluções amplas que perpassam o cotidiano escolar, estreitamos o nosso olhar para as particularidades que devem ser consideradas pelos/as gestores/as no momento de escolha de um sistema de ensino para a instituição. Diante de tantas demandas que emergem no processo de ensino–aprendizado como um todo, neste especial da Conversa com o Gestor trouxemos apontamentos de diversos profissionais do setor sobre a escolha de um sistema e as características que devem ser observadas durante esse processo.
“Os sistemas de ensino se destacam por serem soluções amplas, completas, que não estão limitadas apenas ao oferecimento de material didático de qualidade que garanta o aprendizado e o alto desempenho dos estudantes. No entanto, é essencial que os componentes desta oferta diversificada sejam verdadeira e relevantemente integrados. Os sistemas de avaliação oferecidos, por exemplo, devem estar alinhados não só às necessidades do mundo atual e dos exames de renome, mas devem encontrar respaldo no método proposto pelo sistema.
Em outras palavras, um bom sistema de ensino deve ter uma metodologia clara e que se faça presente nos conteúdos educacionais físicos e digitais, evidentemente, mas também nos serviços educacionais oferecidos e em todas as demais frentes de atuação, consolidando-se como um sistema de ensino de fato.
Ademais, há tantos outros pontos importantíssimos que devem ser observados na avaliação de um sistema de ensino e destaco aqui dois. Primeiro: a adequação às necessidades dos estudantes; formatos, abordagens e propostas estão coerentes com os desejos e as múltiplas inteligências das crianças e jovens? Depois: a inclusão da família nos processos de ensino-aprendizagem. Como os responsáveis pelos estudantes estão integrados à proposta educativa e tem seu papel evocado e respeitado? Reflexões como essas são essenciais para identificar um sistema de ensino de qualidade que contribuirá positivamente para o desenvolvimento dos estudantes e para o sucesso das instituições de ensino.”
Júlio Ibrahim – Diretor Adjunto de Sistemas de Ensino da FTD Educação
“Um bom ponto de partida é pesquisar os diversos sistemas de ensino elaborando uma planilha comparativa da entrega de cada sistema, junto dos prós e contras de cada um. Além disso, é importante entender como funciona a assessoria, tanto no momento da implantação, quanto nos anos seguintes. Algumas assessorias têm modelos diferentes quando se trata do ano de implantação e dos posteriores.
Outro ponto importante, do ponto de vista do marketing e dependendo da cidade em que você está, é entender como a marca do sistema de ensino é vista pela sua comunidade, e isso pode ser um diferencial. Às vezes, a escola vai adotar um sistema de ensino cujo a marca já é bem conhecida na comunidade, seja positiva ou negativamente. Em outros casos ela pode até mesmo não ser conhecida e isso é, também, um ponto a ser levado em consideração.
O custo é outro fator e eu acredito que isso deve estar disposto na planilha comparativa. Um dos pontos mais importantes é entender a cultura da sua escola, fazendo essa comparação com os sistemas que estão chegando e estão sendo analisados, pois, a cultura que as escolas têm ou gostariam de implementar pode vir junto ou ser aprofundada pelo sistema de ensino.”
Lucas Seco – Diretor do Colégio Anglo Chácara Santo Antônio
“Ao escolher um sistema de ensino, para quem busca soluções didáticas, deve ficar atento a alguns pontos importantes: o material deve estar atualizado e sincronizado à BNCC; deve ser atualizado periodicamente, pois uma vez que oferece aulas e não conteúdos, as aulas devem estar em sintonia com acontecimentos e formas de trabalho adequadas ao tempo histórico; precisa oferecer um ‘ecossistema’ de soluções educacionais e não apenas ‘apostilas’; o material deve acompanhar uma plataforma robusta e com diferentes recursos e soluções digitais que apoiem a aula dos professores, e também atendam os alunos nas atividades a serem realizadas em casa; deve oferecer um material de apoio para alunos que apresentem dificuldades no tempo regular de aula, pois alunos têm diferentes habilidades e demandas para consolidar suas formações, por isso, precisam poder contar com diferentes estratégias didáticas que atendam as particularidades presentes nas escolas.
Deve, ainda, contemplar a cultura da escola que o utiliza; precisa ter uma abrangência nacional e que contemple nas suas aulas exemplos de maneirismos e regionalismos; observar se dentre os serviços oferecidos há um apoio robusto à escola e à formação de professores, pois os materiais físico ou digital (os melhores sistemas do Brasil têm os dois formatos) sozinhos não resolvem os desafios da escola ou promove o desenvolvimento necessário aos alunos; e não pode faltar no ecossistema soluções ligadas à avaliação, pois só ela dá respostas claras e eficientes ao professor, à escola e aos alunos.”
Fabia Antunes – Diretora Pedagógica da Escola Lourenço Castanho
“O primeiro passo para escolher o sistema de ensino é entender quais pontos do seu projeto pedagógico e diferenciais da sua escola serão priorizados na escolha do material. Na visão do projeto pedagógico, deve-se levar em consideração quais são os projetos e metodologias que diferenciam sua escola e que precisam ser mantidas, como, por exemplo, a intensidade do uso de metodologias ativas. Do ponto dos diferenciais, é necessário compreender o que os pais e alunos valorizam na escola e no que eles gostariam que houvesse uma melhora.
Feito isso, o próximo passo é analisar a qualidade dos conteúdos daquela solução. Deve-se checar se os materiais didáticos estão alinhados às normas da BNCC, a qualidade do conteúdo, a adequação da escrita e organização textual dos livros à faixa etária e nível de compreensão dos alunos, a progressão de conteúdos didáticos de forma coerente, o nível de atualização dos conteúdos e a qualidade das avaliações fornecidas pela plataforma. Essa etapa tipicamente envolve um aprofundamento de algumas pessoas selecionadas da escola para tal análise.
O terceiro passo é um estudo dos serviços fornecidos pela plataforma. É necessário entender como é o processo de implantação na escola, como é feito o acompanhamento por meio da consultoria pedagógica e quais pautas formativas a escola poderá utilizar. Além disso, é preciso compreender também como é efetuada e que tipo de consultoria pedagógica é realizada pela escola. O quarto e último passo está ligado à frente da tecnologia, que é uma grande aliada dos professores no processo de ensino e aprendizagem contemporâneo.
É fato que os serviços fornecidos pela plataforma e a questão da tecnologia são difíceis de serem avaliados de outra forma, sem ser na prática. Por conta disso, processos de experimentação e de consultoria com escolas parceiras de cada plataforma são altamente recomendados. Naturalmente, existem interseções entre os passos. A capacidade da plataforma apoiar a escola na implantação de uma cultura de dados, por exemplo, vai depender de uma boa consultoria pedagógica e de uma boa tecnologia. A prática constante de atualização frente aos novos desafios e demandas da educação se faz, hoje, ainda mais necessária. Porém, é importante que a escola analise se a proposta do sistema de ensino evolui de acordo com a sua, para, a partir daí, entender se há conformidade entre os princípios.”
Rafael Martines – Diretor Geral do SAS Plataforma de Educação
“O processo avaliativo diz muito sobre o sistema de ensino. Ter um processo de avaliação contínua, interna e externa com aplicação de provas e atividades física e digital, que leve em conta diferentes evidências de aprendizagem com trabalho de grupo e projeto de pesquisa individual, garante que o processo de construção de conhecimento pelo aluno de forma reflexiva, com uma leitura objetiva de suas habilidades e competências em cada área do conhecimento, indicando assim o próximo passo para a ampliação do conhecimento.
O processo de ensino-aprendizado focado em metodologias ativas também deve ser observado. Em um mundo fluido e cada vez mais digital, em que a escola assume o papel de formar pessoas com habilidades técnicas para o uso de diferentes tecnologias e com competências desenvolvidas para dar significado às ferramentas a partir de sua aplicabilidade social e humana, um sistema pedagógico integrado tem o uso intencional de recursos tecnológicos em um modelo escolar híbrido, que assegura a continuidade do ensino iniciado na escola, em um formato planejado de acordo com as particularidades de cada aluno.
O bilinguismo não pode ficar de fora, ele abrange ganhos tanto no desenvolvimento pessoal quanto no acadêmico. Dentre os aspectos mais relevantes, destaco: criatividade, habilidades para adaptar-se a situações diversas, empatia, resolução de problemas, raciocínio lógico, comunicação e linguagem, e tudo isso vai complementar uma proposta curricular que atenda as indicações da BNCC, preparando em seus aspectos cognitivos, emocionais e sociais para as escolhas universitárias nacionais e internacionais, formando para a vida e para o agora, para além das provas.”
Karla Lacerda – Diretora do Colégio Progresso Bilíngue Santos
“O primeiro ponto é o alinhamento de concepção de educação, o sistema deve trazer consigo os mesmos princípios pedagógicos, para que haja coerência nas práticas propostas. A metodologia da escola deve ser facilitada pelo material didático, uma escola que valoriza as vivências e o conhecimento prévio do estudante precisa de um sistema que abarque esse olhar e seja um potencializador.
É importante observar a coerência entre o discurso e as ferramentas que o material traz. Um sistema que defende a criatividade e protagonismo, deve propor atividades abertas em seu material, deve haver espaço para a produção criativa e autoral e não apenas textos e perguntas a serem respondidas, sem acolher ou estimular a reflexão, a escrita própria e elaborada, o registro de vivências e produções colaborativas.
Essa é uma escolha importante para a escola, e a gestão deve avaliar para além da propaganda e do conteúdo apresentados, mas aprofundar na forma como o material está organizado, se as ferramentas disponíveis atendem a proposta pedagógica, se a empresa oferece assessoria, formação e de que maneira isso acontece. A falta de suporte é um dos maiores fatores que provoca a insatisfação dos gestores e corpo docente, e a consequente troca de sistema de ensino.
Olhando para o mundo atual e para o compromisso das escolas em preparar os alunos para o futuro, o material didático deve favorecer o desenvolvimento das competências e habilidades. Não dá mais para ficar somente no conteúdo, a própria BNCC já traz novas demandas, portanto não se deve escolher o material apenas pelo discurso, mas sim pelas propostas e ferramentas que irão promover a colaboração, busca por soluções de problemas reais, com intencionalidades claras, estimular a criatividade (atividades prontas e consignas fechadas não promovem a criatividade), e de fato, o protagonismo. Um material didático fechado e focado somente em conteúdo não promove o protagonismo do aluno, não oferece caminhos para o estudante ir além e se desenvolver integralmente, e esse é o principal papel da escola.”
Cristine Soares – Diretora Geral do colégio Guaiaúna e fundadora do VIVA Metodologia Ativa
“Um sistema de ensino não se resume apenas na escolha de um material didático, mas deve englobar um conjunto de soluções e serviços que agreguem ações coerentes e competentes que assegurem o aprendizado dos educandos. Um material didático pode ser um excelente guia para docentes e discentes, mas é fundamental que seja verificada a linguagem acessível dos textos teóricos e exercícios diversificados, propondo explicações de qualidade e completas que agucem a curiosidade do aluno pelo conhecimento. Que ofereçam recursos extras, como audiovisuais, explicações diferenciadas e exercícios complementares, tanto para alunos com dificuldades, como para alunos que desejam ir além dos conhecimentos básicos. E, principalmente, que façam do aluno, o protagonista e o líder de suas ações e de seu conhecimento.
O sistema de ensino precisa ter a ‘cara’ da escola. Estar em sintonia com o Plano Político Pedagógico da instituição, a forma como atende as demandas das famílias, como aproxima o corpo discente e docente com vínculos afetivos que favoreçam um aprendizado contínuo e de qualidade aos seus educandos é que fará a diferença para um efetivo aprendizado.”
Denise Bernardo – Diretora Pedagógica do Educandário-Ânglo de Santo André
“A aquisição de um sistema de ensino é uma decisão muito séria e deve ser tomada com muita responsabilidade por parte de todos os envolvidos. A escola precisa escolher produtos e serviços que ajudem a alavancar o seu projeto, e ao mesmo tempo avaliar se os seus valores, crenças e desafios comungam estrategicamente com as soluções proporcionadas pelo sistema de ensino escolhido.
Esse projeto precisa de uma implantação sólida que obrigatoriamente passa pelo reconhecimento daquilo que a escola já tem como inegociável, aquilo que caracteriza a sua identidade e a construção de um caminho que se traduz cotidianamente na formação de todos os envolvidos. Nessa tomada de decisão também é importante observar se a proposta e os objetivos buscados se concretizaram no cotidiano das outras escolas que já fazem parte desse grupo.
É preciso contar com um sistema de ensino vivo, com capacidade de dar respostas para os desafios atuais que a sociedade impõe e na velocidade que esse cenário exige. Outro fator preponderante é a oferta de ferramentas tecnológicas e como elas conversam com os outros recursos fornecidos, além de avaliar se realmente fazem sentido para a aprendizagem dos estudantes. Olhar para o uso desses instrumentos com alunos, professores e gestores escolares é perceber neles, acima de tudo, um movimento que garanta mais personalização e, por consequência, mais aprendizagem, com dados para melhores planejamentos e que garanta a velocidade necessária para que a escola otimize seus processos e se preocupe com o que verdadeiramente importa: formar estudantes que sejam protagonistas em suas vidas e que estejam preparados para os desafios presentes e futuros.”
Alberto Serra – Diretor pedagógico do Poliedro Sistema de Ensino
“No Colégio Nossa Senhora das Dores, por exemplo, o sistema de ensino escolhido para o Ensino Médio atendeu aos princípios, aos valores e aos objetivos do Projeto Político Pedagógico da instituição. É um sistema de ensino que visa, além do protagonismo do estudante, a criação de um espaço colaborativo de construção de conhecimentos e aprendizagens mediadas pelos valores de solidariedade, justiça, amor, fraternidade, humanização, acolhida, excelência, respeito, ética, família, participação, conhecimento, transparência, multiculturalidade e respeito ao meio ambiente.
As estratégias utilizadas pelo CNSD, em parceria com o sistema de ensino adotado, são apropriadas para promover a reflexão crítica, a construção de aprendizagens significativas e o alcance de bons resultados pelos alunos no ENEM e em outros processos seletivos para o ingresso na universidade. Além disso, o trabalho com projeto de vida, em parceria com a atuação da pastoral educativa realizada no CNSD, é organizado de forma a atender às dimensões fundamentais para a formação integral do educando. Nessa perspectiva, enquanto educadora, acredito que um sistema de ensino quando escolhido por uma equipe de profissionais para fazer parte do projeto pedagógico da escola precisa ser bem estudado e analisado para que realmente apresente soluções, sempre respeitando a identidade da instituição.”
Anna Paula Jorge Jardim – Diretora Acadêmica do Colégio Nossa Senhora das Dores de Belo Horizonte
“Escolher um sistema vai muito além da escolha de um material didático, pois, além dos objetos de conhecimento, antes chamados de conteúdos, e da metodologia apresentada, um sistema de ensino possui um conceito de educação no qual ele foi concebido, que nos permite perceber se o foco está, principalmente, no acadêmico, na formação humana, no socioemocional, ou se tem uma visão mais completa, contemplando as diversas perspectivas, já que é daí que derivarão todas as propostas do currículo, as metodologias de ensino e aprendizagem, e as avaliações.
Outro aspecto fundamental é o diálogo e a aderência entre os princípios e valores da escola e os do sistema de ensino, bem como o alinhamento entre a visão e missão de educação, a ser percebido nas propostas educacionais, como por exemplo o estímulo ao raciocínio lógico, além de fomentar discussões e opiniões sobre diversos assuntos com o intuito de desenvolver o pensamento crítico dos estudantes, a cidadania e o amor ao próximo. E, além de oferecer plataformas e outros recursos tecnológicos adequados a realidade dos estudantes, o sistema deve contribuir na formação dos docentes e gestores da instituição e, é claro, não ultrapassar o orçamento disponível.”
Eldo Pena Couto – Professor e diretor do Colégio Arnaldo
“A adoção de um novo material, e principalmente de um sistema de ensino, é um processo complexo, mas existem alguns pontos que devem ser levados em consideração.
1 – Adequação do material a BNCC e a reforma do ensino médio – no fundo todos os materiais buscam se apresentar como adequados. Dito isso, é muito importante realizar uma análise profunda do material frente aos documentos normativos e estar muito atento às propostas muito inovadoras e um pouco marqueteiras que acabam se distanciando muito do que é feito em sala de aula e do aprofundamento de objetos de conhecimento.
2 – O sistema de ensino, além do material didático, seja ele físico e/ou digital, é composto de uma plataforma digital com diversas soluções agregadas – importante saber qual a plataforma, quais as ofertas digitais, quais relatórios e quais soluções compõe a oferta do sistema de ensino e se essas ‘soluções’ conversam com o material didático e com a proposta da escola.
3 – A marca do sistema é normalmente vista como algo fundamental – na minha visão, isso é relativo, claro que temos marcas consolidadas que ajudam as escolas a captarem alunos, no entanto, com o crescimento dos sistemas de ensino, é fácil viver a seguinte situação: os seus concorrentes já adotam os sistemas mais conhecidos pelo público em geral. O que fazer? Minha opinião é analisar a qualidade pedagógica do sistema em primeiro lugar, ter um sistema ‘novo’ pode ser uma grande vantagem – você é o pioneiro! Você crava a sua bandeira com um produto de qualidade.
4 – Qual o apoio que o sistema oferece no treinamento das suas equipes (pedagógica e de gestão)? Qual o apoio que o sistema oferece ao marketing de sua escola? Esses são pontos fundamentais.”
Claudio Falcão – Diretor do Sistema de Ensino pH