Como Singapura moldou sua identidade educacional – Parte II
Por Ademar Celedônio
Dando continuidade ao meu último texto, no qual relatei um pouco sobre a minha imersão profunda no sistema educacional de Singapura, ressalto, agora, que Singapura tem consistentemente obtido resultados impressionantes nos rankings internacionais, como o PISA, que avalia o desempenho dos alunos em áreas-chave, como leitura, matemática e ciências. Esses resultados ressaltam a eficácia das políticas educacionais adotadas, bem como a dedicação dos professores e do sistema educacional de Singapura em promover um aprendizado de alta qualidade.
A curta história de Singapura desde 1965 é uma jornada de desenvolvimento e transformação. Após a conquista de sua independência, com uma visão estratégica, liderança visionária, investimentos maciços em educação e inovação, o país rapidamente emergiu como uma potência econômica de destaque. Esses esforços deram frutos e Singapura se estabeleceu como um dos países promissores da Ásia, alcançando altos índices de crescimento econômico e qualidade de vida, mesmo com o enfrentamento de seus desafios contemporâneos, que envolvem questões como a diversificação econômica contínua e o equilíbrio entre crescimento e sustentabilidade ambiental.
Uma das pedras angulares desse sucesso econômico foi a ênfase de Singapura na educação de alta qualidade. Compreendendo que o capital humano é um recurso inestimável, o governo investiu no desenvolvimento de um sistema educacional de classe mundial. O currículo de Singapura foi projetado para desenvolver habilidades essenciais nos alunos, como pensamento crítico, resolução de problemas e criatividade. Desde cedo, os alunos são incentivados a explorarem conceitos e a aplicarem seu aprendizado em situações do mundo real. As políticas educacionais revolucionárias adotadas em Singapura proporcionaram uma força de trabalho altamente qualificada, capaz de enfrentar os desafios complexos e em constante mudança do mundo moderno. Dessa forma, a abordagem educacional de Singapura tem sido amplamente reconhecida e a educação desempenha um papel central na transformação do país em uma economia avançada e competitiva.
O Ministério da Educação de Singapura define o currículo para todas as escolas primárias e secundárias do país. O currículo é dividido em duas partes: o núcleo e as disciplinas eletivas. O núcleo inclui matemática, língua inglesa, língua materna, ciências e estudos sociais. Ademais, o sistema educacional de Singapura é altamente padronizado e enfatiza a excelência acadêmica. Os alunos são avaliados regularmente e os resultados são usados para determinar sua colocação em escolas secundárias e universidades. O sistema também enfatiza a importância da educação moral e cívica, bem como a educação física e artística.
O currículo de Matemática de Singapura é normalmente revisado a cada seis anos e tem passado por pequenos ajustes desde sua publicação em 1990. A Resolução de Problemas ocupa uma posição central neste modelo e está dependente de cinco componentes inter-relacionados: conceitos, procedimentos, processos, metacognição e atitudes. Ao analisar um livro de Matemática do 9º ano do Ensino Fundamental, pude constatar que continha muitos exercícios de fixação e algumas seções de aplicação da Matemática no mundo real. Todos os objetos de conhecimento estavam baseados nos pilares de números, geometria/grandezas, probabilidade e estatística, os mesmos abordados no PISA. No entanto, em comparação com o currículo brasileiro, estimo que seja cerca de 40% menor. O currículo de Ciências da Educação Básica de Singapura enfoca o espírito científico e a investigação, e baseia-se em três domínios essenciais para a prática da Ciência: 1) conhecimento, compreensão e aplicação; 2) habilidades e processos; 3) ética e atitudes.
Por fim, essa ênfase na educação de qualidade não apenas beneficiou os indivíduos, mas também desempenhou um papel crucial no crescimento econômico de Singapura. A mão de obra altamente capacitada e qualificada contribuiu para atrair investimentos estrangeiros, estimular a inovação, impulsionar o empreendedorismo e criar um ambiente propício para o desenvolvimento de setores-chave, como a tecnologia, os serviços financeiros, a logística e as indústrias criativas. Além disso, a educação em Singapura também promoveu uma mentalidade empreendedora e uma cultura de aprendizado ao longo da vida, na qual os cidadãos são incentivados a buscarem constantemente o aprimoramento de suas habilidades e atualizações de acordo com as demandas do mercado global.