Estamos formando adultos para o futuro?
No último mês de julho, o Congresso Nacional aprovou a nova reforma para o Ensino Médio, menos de 7 anos após a aprovação da última grande reestruturação do segmento, e dois anos e meio após a sua implantação.
No vaivém das incontáveis mudanças na educação brasileira, nos deparamos com alguns dados preocupantes: de acordo com pesquisa divulgada pelo SEMESP em 2023, a taxa de evasão do Ensino Superior ultrapassa os 55%. Já em levantamento recente, feito pela empresa Geofusion, que aplicou o cruzamento de informações dos ministérios da Educação e do Trabalho, verificou-se que apenas 12% dos egressos das universidades conseguem emprego de nível superior, nem sempre compatível com sua área de formação. Os outros 88% assumem funções de nível médio, ou dedicam-se a atividades autônomas, como o microempreendedorismo.
A pergunta é: onde estamos errando? Nunca tivemos tantos jovens na faculdade, mas somos um país que lê pouco (por exemplo, os brasileiros consomem, em média, três vezes menos livros por ano que os canadenses). Assumimos o posto de oitava economia do mundo, mas temos uma taxa de endividamento doméstico que aflige quase oito em cada dez famílias. Ampliamos o acesso às escolas, e, no entanto, quase um terço de nossos adultos são analfabetos funcionais.
Sobre esse dilema, há dois pontos, que julgamos essenciais, e, aqui, pretendemos destacar: planejamento e estratégia.
Conta-se que o general e político romano Marco Vipsânio Agripa (64 a.C./12 a.C.), além de grande comandante militar, foi um genuíno melhorador da vida dos habitantes de Roma. Redes de abastecimento de água, coleta de esgoto, templos e estradas foram construídos sob seu governo, e nada escapou de sua preocupação com uma infraestrutura duradoura, capaz de atender as necessidades dos romanos, com segurança, por séculos. Curiosamente, Agripa jamais aceitou receber os créditos por suas obras, atribuindo o sucesso de seus feitos a Augusto (o primeiro imperador romano) e “ao Senado e o Povo de Roma”.
Por aqui, a disposição, associada à absoluta falta de vaidade pessoal de Agripa, poderiam servir de exemplo a muitos gestores públicos brasileiros. Falta, porém, entre nós, a virtude de planejar a longo prazo.
A cada governo, aparecem novas propostas para “reinventar o ensino”, e os conflitos entre estados e federação tornam impossível um pacto nacional pela educação. Por outro lado, a carência de infraestrutura e material humano qualificado inviabilizam qualquer nova prática. A implementação do Novo Ensino Médio, em 2022, e sua reformulação, já em 2024, são sintomas dessa constatação.
Há, ainda, o problema das estratégias equivocadas. Estatisticamente, a maioria das propostas – exceção à louvável BNCC –, para o ensino brasileiro nem sequer toca no problema da educação infantil e anos iniciais, quando estes deveriam ser matéria prioritária de qualquer debate público sobre o tema.
Ademais, em um mundo no qual as transformações, sobretudo no campo da tecnologia e das mídias sociais, são quase cotidianas, vemos que as metodologias em sala de aula estão se tornando insuficientes e até mesmo obsoletas, com enorme velocidade.
O resultado dessa sequência de erros já é bem conhecido, e boa parte dele já foi mencionada há pouco: crianças com déficits graves em Português e Matemática; indivíduos ansiosos, inertes, incapazes de assumir uma posição proativa em suas próprias vidas; profissionais que não encontram lugar no mercado de trabalho em suas respectivas áreas de formação e novas frentes de trabalho, para as quais a maior parte dos jovens não está qualificada, além do completo despreparo para os desafios pessoais, emocionais e profissionais da vida adulta.
Se você, estimado leitor, chegou até aqui com o mesmo incômodo que aflige estes autores, deixamos um alento: há esperança.
Em primeiro lugar, precisamos assumir a educação infantil e os anos iniciais como problemas fundamentais do nosso ensino. Uma transformação que comece pela base, e que incorpore as novas demandas do mundo moderno, preparando os adultos do futuro para a vida real.
Em segundo lugar, mas não menos importante, um pacto social de longo prazo que contemple não apenas conteúdos e metodologias, mas, principalmente, a melhoria real da infraestrutura de nossos espaços de ensino, e a qualificação e formação continuada de nossos profissionais da educação.
Não é uma tarefa fácil. Mas é possível.