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Guia para Gestores de Escolas

Saúde mental na escola: vamos falar sobre isso?

Por Leo Fraiman

Saúde mental era algo considerado distante do mundo escolar em uma época de maior comprometimento com os resultados acadêmicos. Mas vivemos hoje um momento muito diferente: em praticamente todas as escolas do mundo, vemos uma atenção crescente às questões emocionais.

Isso não se deve apenas à pandemia ou ao modo como as relações na sociedade vêm se construindo, de uma maneira bastante apressada, desconectada e desumanizada. Cresceu também a quantidade de notícias que, muitas vezes, nos atordoam, com uma negatividade crescente, fazendo-nos sentir assombrados, pessimistas e com a sensação de que o mundo é ruim.

Rutger Bregman, em seu livro “Humanidade: uma história otimista do homem”, mostra que o placebo, ou substâncias que não têm efetivamente uma química que faça a diferença no corpo, pode nos beneficiar. É como a água com açúcar que muitos alunos procuram em nossas enfermarias, ou na sala da orientação, quando se sentem sozinhos, inseguros ou carentes.

Assim como há o placebo, que dribla nosso cérebro com aquilo que não é, para produzir um efeito do que queremos que seja, existe o nocebo, ensina Bregman. Ou seja, a criação de uma realidade que, na prática, não tem evidências sólidas.

Pesquisas mostram como muitas pessoas tendem a achar que o mundo piorou, que a vida está mais difícil, ou pior em vários aspectos, contra diversas evidências. A esse respeito, noticiários constantes, que nos trazem a negatividade citada, podem afetar de maneira bastante dolorosa nossa saúde mental. Some-se a esse caldeirão de questões as mídias sociais e o uso insano de telas e estará feito o panorama que tem abalado tanto a saúde mental de nossos alunos.

Cabe então a pergunta: o que fazer diante disso tudo? Em primeiro lugar, vale lembrar aquilo que a neurociência tem nos ensinado: não há uma distinção absoluta entre o emocional e o cognitivo. Diversos estudos acadêmicos têm mostrado que o desenvolvimento de competências socioemocionais anda lado a lado com o desenvolvimento cognitivo.

Afinal de contas, como nos ensina António Damásio em seu livro “E o cérebro criou o homem”, aprendemos aquilo que faz sentido, que toca o nosso coração, que tem significado. Então, que tal transformar a sua escola em um ambiente onde as relações sejam significativamente bem cuidadas, em que as pessoas possam se expressar com a certeza de não serem julgadas? Que tal criar uma cultura na qual se reconheça que toda emoção, sendo parte de nossa expressão humana, é válida, bem-vinda e respeitada?

Sim, isso quer dizer que não há emoção boa ou ruim. Raiva, tristeza, medo, ansiedade e nojo, tudo isso faz parte de sermos humanos. E não podemos controlar as nossas emoções. O alvo de controle está nos nossos comportamentos.

Ambientes seguros para se trabalhar e estudar favorecem muito a saúde mental. Uma outra possibilidade é envolver seus professores nisso. Pense em uma conversa com os profissionais de Educação Física, para que tragam importantes insights aos estudantes sobre a importância do sono, ou de uma boa alimentação. Que tal o seu professor de História fazer uma reflexão sobre como se vê a saúde mental ao longo dos tempos?

Uma outra possibilidade é um professor de Geografia promover um sarau cultural, no qual cada um fale um pouco sobre suas origens, costumes, crenças e valores, formando um ambiente em que todos se sintam incluídos, pertencentes e seguros. A área artística pode montar um painel com fotos sobre as emoções humanas e o valor da diversidade nas sociedades.

A literatura pode trazer textos ou poemas ligados ao tema. E, claro, pode ser feito um painel com os próprios alunos e seus familiares, no qual se debata a questão, refletindo sobre o aumento alarmante de ansiedade, depressão e outras temáticas. E compartilhando serviços, livros, sites e outras maneiras que a nossa sociedade dispõe hoje para lidar com o fato de que a vida de todos nós merece cuidados.

Momentos delicados pedem atitudes dedicadas. Não basta ficarmos assombrados com os aumentos de casos ligados à saúde mental. A escola pode sim ser um lugar de superação, de acolhimento e de crescimento conjunto.

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