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Guia para Gestores de Escolas

Música para educar

*por Heloísa Helena Baldo

O que antes era considerada uma brincadeira ou uma distração para o aprendizado dos alunos, agora se tornou uma aliada importante na educação infantil. A música está ganhando cada vez mais espaço no ambiente escolar, principalmente após a lei nº 11.769, que determinou obrigatório o ensino dessa arte em todas as escolas de Educação Básica do país, desde 2012. Nos últimos anos, diversas pesquisas vêm reforçando a relevância da utilização da música no aprendizado dos pequenos.

Um estudo realizado pelo Laboratório de Música e Neuroimagem da Universidade de Harvard (EUA) pontuou os efeitos cognitivos do treino musical em crianças e descobriu que ele melhora as habilidades motora, auditiva e verbal, além de estimular o raciocínio. Os resultados também apontaram que a música pode auxiliar crianças com dislexia a remediarem suas dificuldades linguísticas. Outra pesquisa, realizada pela equipe do Instituto para a Música e a Mente, da Universidade McMaster (Canadá), comparou crianças em fase pré-escolar que tiveram aulas de música com outras que não tiveram. Aquelas que tiveram mais contato com a música mostraram estímulos cerebrais maiores na região do córtex auditivo, afetando positivamente a atenção e a memória. Concluiu-se, por meio desses benefícios, que a música auxilia no aprendizado de outras áreas.

A música contribui para a formação integral do individuo. Por meio dela, a criança entra em contato com o mundo letrado e lúdico. Sua importância é inegável como instrumento pedagógico, o qual deverá ser trabalhado e estimulado, provocando nos alunos possibilidades de criar, aprender e expor suas potencialidades. Na educação, a música pode envolver outras áreas de conhecimento. Na Matemática, por exemplo, está presente quando marcamos um ritmo. Na Educação Física, quando as crianças participam das brincadeiras cantadas e das rodas. Além disso, há várias letras de música que nos ajudam a facilitar a aprendizagem de números, quantidade, classificação e seriação. Entretanto, toda essa gama de possibilidades deve ser utilizada de forma contextualizada, cuidando para que não se perca o trabalho da música com fins em si mesma.

A apreciação e interpretação musical utilizando diferentes estilos musicais demonstram que as crianças podem aprender a ouvir e comunicar seus sentimentos (alegria, tristeza, tensão, amor, amizade, respeito, carinho). Afinal, a música alimenta a alma e eleva o espírito. Segundo o educador musical inglês Keith Swanwick, apreciar uma música não é algo que sabemos desde sempre, não é instintivo. Precisamos educar nossos ouvidos para a apreciação. À medida que aprendemos a escutar, nossa experiência com a linguagem musical se torna cada vez mais rica, pois aprendemos a interpretar a intencionalidade de cada artista em uma composição e, depois, passamos a desenvolver nosso próprio potencial criativo para nos expressar por meio da música.

Para incluir esse recurso nas aulas, o professor, primeiramente, deve procurar definir seus objetivos em relação ao projeto de Educação Musical. Por exemplo:

  • Integrar as crianças por meio da música;
  • Brincar com a música, imitando, inventando e reproduzindo criações musicais;
  • Incentivar, por meio da música, a capacidade de execução das crianças, envolvendo os movimentos do corpo;
  • Edificar a autoconfiança nas crianças, por meio do fazer musical;
  • Desenvolver hábitos de leitura a partir da utilização de músicas;
  • Incentivar a partir da música, a produção textual.

Escolhido o objetivo, defina com quais compositores quer trabalhar: compositores de música clássica? Música popular brasileira? Músicas infantis? Em relação às atividades com a música como linguagem própria, há muitas possibilidades: exploração do conceito de som e silêncio – com brincadeiras de estátua; produção de vários tipos de sons com o corpo – arrastando os pés, batendo as mãos nas diferentes partes do corpo etc.; estímulo ao desenvolvimento da linguagem falada por meio de canções que utilizam a linguagem gestual; incentivo à criatividade, concentração e memória pela imitação de sons criados pelos colegas; utilização de brinquedos de diferentes texturas, formas e tamanhos, que produzam sons diferentes: estímulos auditivos, visuais e motores por meio de canções interpretadas com gestos; movimentos rítmicos, explorando todo o esquema corporal e acompanhamento das músicas com palmas.

Na hora de planejar as aulas, além de começar a partir de onde as crianças já sabem a respeito da linguagem musical, é importante que o professor pense em como ampliar o repertório dos alunos, estimulando-os a fazer uma audição cada vez mais crítica das obras: a apreciação de obras musicais de diferentes épocas e lugares; as atividades de percepção; a percussão corporal e com instrumentos; a apresentação de instrumentos musicais e da escala musical; a dança e as atividades de produção sonora, como o canto, por exemplo. Nem todas as atividades têm de acontecer em uma só aula. Você deve planejar de acordo com os objetivos que deseja alcançar com a turma.

Não se esqueça de oferecer às crianças informações sobre a história da música no decorrer das aulas. Por exemplo, se você for trabalhar com o compositor clássico Mozart, deve estimular a audição e falar sobre esse compositor austríaco, que, desde os quatro anos, já compunha e tocava piano em apresentações para o público e para a nobreza do seu país. Depois, apresente algumas das suas composições (escolha as mais breves) e, quem sabe, realize um relaxamento com os alunos usando essas músicas.

Caso a sua opção for trabalhar com músicas brasileiras, realize uma audição com os alunos e convide suas famílias para esse evento. São inúmeras as opções. Uma sugestão: não trabalhe com  muitos compositores. Escolha um ou, no máximo, dois para que os alunos se apropriem de suas obras, as mesmas tenham um significado para eles e permitam uma culminância com o envolvimento das famílias ou colegas de outras salas.

*Heloísa Helena Baldo é consultora pedagógica da Rede Pitágoras.

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