Conversa com o Gestor — Colégio Graphein: especialização em inclusão
Matéria publicada na edição 73 | Novembro 2011- ver na edição online
Prática coletiva com olhar individualizado.
Surgido há 35 anos no bairro de Perdizes, em São Paulo, o Colégio Graphein adquiriu há pouco mais de duas décadas a nomenclatura e o modelo de ensino atualmente implantado, posicionando-se como “colégio regular especializado no atendimento de estudantes que apresentam singularidades no processo de escolarização”. Mas seus gestores podem dizer que desde o princípio começaram a colher subsídios para desenvolver uma metodologia própria de trabalho, voltada a explorar os potenciais de cada aluno, independente de seu perfil.
Segundo relata a diretora e mantenedora Nívea Maria de Carvalho Fabrício, sua experiência começou com berçário, depois houve a implantação gradual da Educação Infantil e Ensino Fundamental, ao mesmo tempo em que se iniciou o trabalho de inclusão. Em um primeiro momento, foram estruturadas salas separadas, depois unificadas, entretanto, a escola percebeu que ambas as alternativas não atendiam às necessidades da inclusão. Nívea revela que um novo modelo foi discutido e gestado ao longo de 1988, para que em 1989 surgisse a proposta em curso: o Projeto Singular, baseado em 18 módulos semestrais, o qual prevê um planejamento educacional e pedagógico específico para cada aluno. Mesmo que a organização curricular atenda ao padrão das séries estipuladas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o processo de ensino-aprendizagem acontece em grupos reunidos por afinidades de interesse, habilidades e repertórios, com no máximo doze estudantes.
De acordo com a orientadora educacional Paula Virgínia Viana Cantos, esta organização não abre mão do objetivo de se chegar ao final do ano com o domínio do conteúdo previsto. De outro modo, porém, trabalha concomitantemente ao conteúdo para que o estudante adquira, de maneira gradual, condição de gerir com autonomia sua vida social e acadêmica. Ou seja, outro forte objetivo de uma instituição como o Graphein é propiciar a conquista da autogestão, “em que o aluno consiga lidar com muitas de suas características positivas, mas que também saiba trabalhar com as negativas, buscando alternativas a ela”, define Paula.
Na verdade, a orientadora observa que o ideal seria que toda escola trabalhasse desta maneira com o conjunto dos estudantes. No Graphein, o ponto de partida para a construção da metodologia própria foi dada pelo paradigma dos sociogramas, ferramenta exploratória e de diagnóstico que propõe trabalhar os grupos conforme centros de interesses comuns, constituindo-se, desta forma, coletivos mais harmônicos.
As salas correspondentes aos 18 módulos semestrais são trabalhadas coletivamente, mas com planos de aula individualizados, que se modificam conforme o desenvolvimento do aluno nas atividades realizadas em grupo. São “redes de ‘ensinagem’”, em que o professor trabalha temas comuns, mas com desafios específicos a cada um, explica a diretora Nívea. Segundo ela, o propósito é reunir turmas que reconheçam “o que o outro (colega) tem e lidem com as diferenças sem colocar juízo de valor”.
Nesta dinâmica aberta e em movimento, Nívea e Paula admitem que o dia a dia do professor “não é fácil”. “Sua missão diária é observar, planejar e ‘replanejar’ o tempo todo”, comenta Paula, lembrando que isto exige, sobretudo, um profissional com grande disponibilidade emocional e pessoal para repensar continuamente seu trabalho em função da criança, jovem ou adolescente. Por outro lado, exige que a escola faça um acompanhamento sistemático da prática pedagógica, incluindo esse corpo a corpo também na relação com os pais, para que entendam “a dinâmica e o prognóstico desse aluno e ajustem as expectativas”.
A equipe de educadores do Graphein está composta por 18 professores polivalentes ou especialistas, uma coordenadora (responsável pelo acompanhamento em sala de aula), duas orientadoras (que atuam mais próximas aos pais), além de 12 monitores, a maior parte deles exercendo a função de auxiliares de ensino. Na direção, além de Nívea, outro mantenedor responde pela parte administrativa. A escola desenvolve um trabalho semanal com os professores, intercalando encontros individuais e coletivos e, quando necessária, orientação com especialistas da área mais clínica.
Mas Nívea deixa uma ressalva importante. “Não temos o perfil clínico, trabalhamos com educadores e psicopedagogos com foco na escolarização. A criança tem direito a ser escolarizada.” Se há necessidade de um atendimento clínico, isso é repassado à família. “Claro que se precisar trabalhar a psicomotricidade, a escola irá se preparar e proporcionar isso a ele”, acrescenta Nívea. A diretora faz questão de destacar que há preocupação em se fazer cumprir com os propósitos da escolarização, mesmo porque, muitos dos alunos do Graphein concluem o Ensino Médio e prosseguem em sua trajetória escolar, nas universidades. E para aqueles que preferem se inserir no mercado de trabalho, a escola implantou em 2009 atividades para qualificação profissional, nas áreas de designer gráfico, reciclagem e artesanato. O Graphein atende a 104 alunos, distribuídos entre os anos finais da Educação Infantil e o Ensino Médio.
Por Rosali Figueiredo