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Guia para Gestores de Escolas

A falta de valorização dos professores e seu reflexo negativo na sociedade brasileira

Os relatórios estatísticos do último exame da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), responsável pelo vestibular da Universidade de São Paulo, mostram que o número de questões para ir para a segunda fase de muitos cursos de licenciatura e Pedagogia gira em torno de 27 itens dentre o total de 90. Carreiras como Direito, Engenharia da Escola Politécnica e Medicina pedem 64, 68 e 80 acertos, respectivamente. Em alguns casos, como Licenciatura em Matemática/Física, o número de candidatos que alcançam a 2ª fase não chega a 2 por vaga. E, apesar destes números serem apenas um recorte de um vestibular, é possível ver por todo o Brasil um enorme desinteresse dos jovens pela carreira de professor.

Um estudo realizado pelo Instituto Semesp – Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação aponta que, se não mudarmos as políticas públicas para atrair as novas gerações para a carreira de professores, teremos um déficit de 235.000 profissionais em 2040. Alguns problemas principais são apresentados na pesquisa sobre o desinteresse em seguir a carreira de professor, como a precarização da profissão, infraestrutura ruim de algumas escolas, falta de equipamentos e materiais de apoio, violência, baixa remuneração e falta de reconhecimento da profissão pela sociedade.

Os resultados do trabalho dos professores vão muito além da sala de aula. Países com maiores níveis de escolaridade são os que têm o maior crescimento econômico e maior qualidade de vida, conforme aponta o estudo dos pesquisadores Mankim, Rommer e Weil. Em geral, os salários dos professores pelo mundo não são altos, porém a remuneração inicial de um professor no Brasil é de apenas 37% do valor da média dos salários da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), como aponta o relatório da Education at a Glance 2022, divulgado em outubro deste ano. Segundo o mesmo relatório, os professores têm, em média, 16 horas em sala de aula de uma carga horária total de 40 horas semanais e assim podem, no restante do tempo, se concentrar em atividades administrativas, como correção de provas, atividades e planejamento. No Brasil, mesmo professores de escolas particulares, onde os salários costumam ser melhores do que no setor público, precisam dar aulas em três ou quatro escolas para complementar a renda e, efetivamente, ficam muitas vezes mais que 40 horas semanais em sala de aula. Assim, o número de alunos e tarefas administrativas aumentam muito, invadindo o fim de semana com estas atividades.

Na Finlândia, país referência em Educação, segundo os resultados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), a relação candidato/vaga para entrar numa licenciatura é maior que 10, enquanto para Medicina é de 8. Ou seja, é mais difícil entrar no vestibular para ser professor do que para se tornar médico. Os salários dos professores na Finlândia estão na média da OCDE, porém, lá, a profissão é valorizada e vista com muita importância pela sociedade. Ministério da Educação e legisladores confiam nos professores que sabem, em conjunto com diretores, coordenadores e familiares, como prover a melhor educação para crianças e adolescentes. No livro “País Mal-educado”, de Daniel Barros, que mostra um raio-x da dura realidade da educação brasileira, há um exemplo de como o governo chileno (Chile tem o melhor resultado do Pisa na América Latina) está fazendo para atrair os alunos para se tornarem professores. Segundo Barros, os estudantes que somam mais de 600 pontos na prova do vestibular (de um total de mil) recebem uma bolsa que cobre a matrícula e as mensalidades nos cursos de licenciatura ou Pedagogia. Se o aluno conseguir atingir mais de 700 pontos, ele ainda ganha uma ajuda de custo no valor de 80 mil pesos chilenos (equivalente a R$ 450,00 reais). E, se a nota for acima de 720, o estudante também tem direito a um intercâmbio de seis meses em uma universidade estrangeira. A contrapartida é que esses alunos precisam trabalhar em escolas públicas por, no mínimo, três anos depois de formados. Em geral, acredito que a combinação de boa formação acadêmica, importância profissional do professor perante a sociedade, cargas horárias e salários justos podem ajudar a reverter o quadro de falta de profissionais em 2040.

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