Alunos do Peretz jogam RPG em sala de aula
Diferentes disciplinas apostam no jogo como método eficaz de aprendizagem
O RPG (Role Playing Games) é um jogo de interpretação de personagens, uma história contada em conjunto que pode mudar a qualquer momento, pois sua narrativa não supõe um roteiro fixo, dado que os jogadores influenciam tanto quanto são influenciados pelo enredo. Ele pode ser jogado em forma de tabuleiro, mesa, eletrônico e livro-jogo.
No contexto escolar, vale pensar em qual formato melhor se adequa à proposta e à idade.
Existem diversos sistemas (conjunto de regras) de jogos desse gênero e há possibilidade de criação de um sistema de regras adequadas para se utilizar em sala de aula. Segundo o educador e expert em RPG, Thiago Azevedo, as histórias devem ser adaptadas à realidade de cada curso, sala, comunidade.
Thiago Azevedo, professor de História do Ensino Fundamental II do Colégio I.L Peretz, onde o RPG está presente em três disciplinas, a saber História, Inglês e, em breve, Língua Portuguesa, destaca que o jogo é um importante aliado na aprendizagem e fixação de conteúdo para os alunos. “Vemos o prazer que eles sentem e como apreendem os ensinamentos”, comenta. E ressalta: “A vantagem do RPG é que praticamente qualquer item de qualquer disciplina pode ser trabalhado, inclusive seu emprego é uma maneira absolutamente eficaz no quesito interdisciplinaridade”.
No caso de História, solicitou aos alunos do 8º ano que criassem um personagem de qualquer classe social, gênero, cor, que vivesse na sociedade mineradora do séc. 18 (conteúdo curricular). “Esse já é foi considerado um primeiro passo para avaliar se os alunos entenderam como funcionava tal sociedade, quais conflitos existiam, quais os papéis sociais etc.”, comenta.
Após a criação e escolha dos personagens, tendo o professor como narrador da história, contextualizando o ambiente e ditando as regras, foi proposto que os alunos jogassem por cinco aulas, nas quais vários pontos seriam trabalhados. Em cada aula, os alunos seguem a história, quase como que a representando. O professor Thiago lembra, porém, que a administração do tempo é fundamental, pois a carga horária não permite que todo o conteúdo do ano seja trabalhado por meio da técnica do RPG.
Já na área de Inglês, o intuito foi o de aprimorar o aprendizado da língua de uma maneira lúdica e diferenciada. Com essa proposta, a teacher Patricia Del Valle colocou suas turmas do Fundamental II para criarem livros de RPG nesse idioma. Cabe ressaltar que as aulas de Inglês no Colégio I.L. Peretz são divididas em níveis de conhecimento, obedecendo aos critérios de avaliação dos exames internacionais da Cambridge University.
Por meio desse projeto, cada grupo de estudantes criou uma história de mistério de um modo diferente, no estilo “crie seu próprio enredo”, e o 9º ano se aterá à ficção científica. “É uma versão mais simples do jogo de RPG, que normalmente é grupal, os personagens têm ‘poderes diferentes’ e devem seguir regras estabelecidas antes do início do RPG”, explica a teacher. Ela destaca que o grupo possui um bom conhecimento do idioma, o que lhes permite aplicar os tempos verbais corretos, pedindo auxílio apenas para o significado de uma ou outra palavra.
Dessa forma, os alunos praticam a escrita em uma segunda língua de um modo que não é abordado nos livros didáticos e nem mesmo no material voltado para exames internacionais. “Essa diferença e novidade faz com que o interesse deles seja muito maiores. Há um aumento do vocabulário ativo, porque precisam conseguir transmitir a ideia original”, atesta a teacher. Além disso, tanto na apresentação do projeto quanto na finalização, os alunos são motivados a ler (primeiro, livros originais, e depois os dos colegas), ampliando assim o nível de leitura, ferramenta fundamental no ensino de uma segunda língua.
O processo conta com sete fases, sendo a primeira o contato com o histórias de RPG em inglês. A seguir, discutiram o formato do livro (números de parágrafos, esquema, informações necessárias para escrever o parágrafo principal, recurso de voltar ao início e estilo). Daí por diante, eles escrevem o livro para posteriormente a professora fazer a correção individual e depois uma correção conjunta, tanto no que diz respeito à gramática quanto à estrutura. Por último, vem a digitação, ilustração e diagramação.
O projeto teve início em março e deverá ser finalizado agora no 2º semestre. Envolve turmas de Inglês do Curso Fundamental II, totalizando 24 livros escritos por 60 alunos.
De acordo com a professora Patrícia Del Valle, esse projeto é mais interessante para ser trabalhado com a faixa etária do Ensino Fundamental II, porque além de curtirem histórias de mistérios é muito significativo para eles ter como resultado final um livro.
A professora completa: “O contato com a língua inglesa, o envolvimento dos alunos, a criação de um produto final diferenciado e a motivação deles frente ao idioma me dão a certeza de um esforço bem empreendido”.