Arma dentro da sala de aula
O vídeo gravado dentro de uma sala de aula de uma colégio particular em Belém, frequentado por alunos de classe média alta, viralizou nas redes sociais em 16/01/19. A reportagem realizada pelo G1 (veja aqui) informa que o vídeo foi gravado pelos próprios alunos e publicado em uma rede social As imagens mostram uma sala de aula cheia de adolescentes, sendo que um deles aparece sentado, com uma bolsa ao seu lado onde a arma está escondida. Uma colega retira a arma de dentro da sacola e a exibe, rindo. Alguns alunos chegam a ficar assustados, mas prosseguem a dar gargalha com a situação. As imagens mostram ainda o professor que estava na sala de aula recolhendo o objeto. De acordo com a administração do colégio, o vídeo refere-se a uma situação ocorrida no primeiro semestre de 2018 e que a arma era de brinquedo.
Muito se pergunta se a nova gestão governamental é um fator de influência no uso das armas de fogo, mas a reportagem já esclarece que o fato é anterior às eleições presidenciais.
O cerne da questão não é apenas o uso de armas de fogo e sim como os nossos jovens estão sendo educados para problematizar a questão dentro e fora de aula. Será uma grande oportunidade para os análise e discussão do ponto de vista multidisciplinar.
Ao contrário do que prega o imaginário popular, comprar uma arma de fogo no Brasil é uma tarefa simples há tempos. É necessário que a pessoa – maior de 25 anos – comprove idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral; ter ocupação lícita; residência fixa; e, comprovar capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio da arma de fogo.
Com a assinatura do decreto, cidadãos brasileiros com mais de 25 anos poderão comprar até quatro armas de fogo para guardar em casa. O que muda é a ausência de necessidade de uma justificativa para a posse da arma. Antes esse item era avaliado e ficava a cargo de um delegado da Polícia Federal, que poderia aceitar, ou não, o argumento.
Poderão adquirir armas de fogo os militares e agentes públicos ativos e inativos da área de segurança, bem como os moradores de áreas rural e urbana com índices de mais de 10 homicídios por 100 mil habitantes. Donos e responsáveis por estabelecimentos comerciais ou industriais também poderão adquirir armas, assim como colecionadores, atiradores e caçadores, devidamente registrados no Comando do Exército.
O decreto também exige que pessoas que vivem com crianças, adolescentes ou pessoas com deficiência intelectual apresentem declaração de que sua casa tem cofre ou local seguro com tranca para armazenamento.
O vídeo que viralizou na internet na escola paraense demonstra que a população tem interesse, curiosidade e precisa, desesperadamente, ter mais informações sobre a questão armamentista. É importante ouvir, ler e refletir em questões extremamente sensíveis, como o feminicídio. Alguns especialistas afirmam que o numero de mortes envolvendo mulheres e pessoas do gênero feminino podem aumentar e, por outro lado, existem especialistas que entendem que as mulheres poderão usar das armas de fogo para o exercício da legitima defesa, legalmente previsto no artigo 23, II do Código Penal.
O desleixo na educação das crianças, a desvalorização da honra do trabalho honesto e a cronificação da vida bandida explicam a recepção tolerante para o flagrante do porte de arma de fogo em sala de aula, que viralizou na Internet e pode ser revisto neste link.
Infelizmente, todas as escolas estão sujeitas a esta situação. Portanto, tem pertinência expor contexto e efeitos sobre este tipo de ocorrência.
Jovens armados, inclusive para se exibir em salas de aula mesmo com réplicas, são fruto de falhas na função educacional dos pais. Independente de credo, classe social e condição econômica, é de se supor que a função paterna aplique o bom senso de ensinar o que é certo e errado. As amizades da rua só influenciam por meio das lacunas deixadas pelos responsáveis em educar a transformação de seres humanos em adultos.
Outro ponto que deveria incomodar educadores em geral, e as famílias em particular, é a campanha permanente de desrespeito ao homem e à mulher que trabalham. Esta dita obrigação para se viver, feita de sol a sol (e para a maioria das mulheres, noite à dentro), é, nos meios de comunicação, absolutamente nada. Não há honra em ser trabalhador. E, tromba-se com isso, pais transmitem essa percepção para os filhos. Prevalece a verdade não mostrada.
O pior é que muito dos ícones com glamour são os contra sistema. Apenas a educação e a implementação de politicas de compliance escolar colocará fim nessa sequencia de eventos virtuais danosos.