Os desafios da comunicação afe(a)tiva na educação durante a pandemia
Vivemos um momento bastante atípico. Instituições de ensino do mundo inteiro enfrentam os desafios da educação frente a uma pandemia que impôs novos paradigmas para educadores – não apenas sobre o conteúdo, mas também sobre a forma de construção dos conceitos. Não falo apenas das mudanças de calendário e adequações no planejamento pedagógico; esta nova realidade impacta o papel do educador, que passou a entrar dentro da casa de cada um de seus alunos e, consequentemente, na rotina das famílias, para tentar constituir relações educacionais, e também afetivas, por meio da comunicação e da virtualidade.
A comunicação afe(a)tiva – ou seja, a comunicação ativa e afetiva – é fundamental neste momento e, ao mesmo tempo, uma tarefa delicada dos educadores, pois temporariamente precisa acontecer no ambiente virtual e não apenas na sensibilidade das relações presenciais. As aulas invadiram os espaços das redes sociais e das plataformas de conteúdo, e é preciso atentar-se que tais locais possuem dinâmicas específicas e comuns a toda comunidade educacional. Isso significa que não funciona reproduzir o modelo de aulas presenciais: é preciso readequação, desaprender para reaprender a utilizar as ferramentas virtuais de maneira efetiva e saudável.
Professores e alunos estavam acostumados a utilizar as redes sociais de acordo com a dinâmica própria das mesmas: o imediatismo, a validação externa de likes, a multiplicidade de informações oferecidas simultaneamente. Tudo isso muda quando reestruturamos o ambiente virtual para uma relação não mais de descompressão, mas de responsabilidade e cuidado. Assim, quando pensamos a dimensão educacional desta relação à distância, fica explícita a necessidade de revermos como se dá este processo nessa nova realidade, como passamos a mensagem, as regras de convivência e até mesmo a intervenção de uma nova ética para o uso adequado da internet.
É preciso mudar o mindset, a maneira de enxergar o processo de ensino e de aprendizagem para toda comunidade escolar. Não devemos esperar que os professores sejam youtubers. Trata-se de novas estratégias para propor ao aluno novos questionamentos e desafios que o mobilize. Para isso, enquanto gestor, é fundamental trabalhar com os professores todo o processo de planejamento diferenciado, linguagem, apropriação das ferramentas e, deste modo, estimulá-los a sair do lugar comum, porque é isso que vai motivar a sala de aula neste momento.
Muitas vezes o aluno está em aula ocupando um espaço comum com a família e isto deve estar previsto pelo professor para envolvê-los no projeto pedagógico, principalmente na Educação Infantil e Ensino Fundamental Anos Iniciais. É verdade que as aulas não presenciais desafiam os estudantes a estabelecerem uma postura mais autônoma, mas não devemos esquecer que, mesmo cada um em sua casa, respeitando a evolução individual, o processo de aprendizagem também pode ser comunitário.
Apesar da realidade diversa das instituições de ensino, a chave para enfrentarmos esse contexto é a criatividade. Não existe uma resposta pronta para esta nova realidade, mas no Colégio Renascença, por exemplo, a parceria entre escola e famílias foi fortalecida por meio da escuta atenta em encontros realizados on-line com bate-papo sobre temas diversos, desde a ansiedade do momento até dicas sobre como ajudar os filhos na lição de casa.
Com o retorno das atividades extracurriculares, tem sido possível acolher os alunos com rodas de conversas e dinâmicas que possibilitam um olhar profundo para eles mesmos e para o outro. O momento indica novas possibilidades de acolhimento e a equipe pedagógica precisa ficar atenta a todas elas.
Por Prof. João Carlos Martins, Diretor-Geral do Colégio Renascença