Autismo: Educação plural e inclusiva
Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação
Os estudantes autistas atravessam adversidades em diversas camadas sociais, vivenciando o preconceito, a falta de informação e uma dificuldade considerável no reconhecimento de suas particularidades. Assim, é preciso um olhar cuidadoso para garantir a inclusão plena para todos os alunos
O TEA – Transtorno do Espectro Autista pode ser definido, em linhas gerais, como um transtorno de neurodesenvolvimento que reflete em interação e comunicação sociais e em comportamentos atípicos. O autismo não se concentra como um único transtorno, mas sim como um espectro de transtornos, e que variam, especialmente em graus de intensidade, em cada indivíduo, tornando o diagnóstico do TEA multidisciplinar.
Tendo como ponto de partida as nuances e os desafios que os estudantes autistas encontram no ingresso – e na permanência – ao sistema educacional regular, e em consonância com o Dia Mundial da Conscientização do Autismo (celebrado no dia 2 de abril), este especial traz diferentes percepções sobre os desafios e os processos de inclusão do estudante autista no ensino regular. Confira abaixo:
“O principal desafio é entender que cada estudante autista tem suas características e necessidades. Sendo assim, a experiência prévia da escola ou dos professores com outros estudantes com o mesmo diagnóstico, por si só, não garante o sucesso da inclusão. Conhecer aquele estudante especificamente, suas principais dificuldades, habilidades e preferências é o primeiro passo. Para isso, é necessário conversar muito com a família e com a equipe de intervenção que acompanha o aluno.
Outro aspecto importante no processo de inclusão é ensinar aos demais alunos o que é o autismo e mostrar a todos que não se trata de um problema ou de uma doença, mas sim de uma condição. Aquele estudante autista gosta de muitas coisas, sabe fazer muitas coisas e isso precisa ser destacado para os demais colegas. É necessário explicar, por exemplo, que o amigo que anda de um lado para o outro dentro da sala enquanto a professora está explicando uma atividade, ou que faz barulhos ‘estranhos’, não está se comportando mal ou desobedecendo uma regra, mas sim que ele precisa fazer aquilo para prestar atenção no que a professora está explicando. É fundamental explicar para todos que, aquele amigo que não responde quando você pergunta alguma coisa para ele, não significa que ele não tenha escutado ou até mesmo entendido, mas sim apenas que ele ainda não consegue responder como as outras pessoas.
Além desses aspectos destacados acima, é fundamental que a escola trabalhe na adaptação do material didático. Muitas vezes, os estudantes não conseguem acompanhar os conteúdos propostos, não porque não são capazes, mas sim porque estes estão sendo apresentados de uma maneira que não faz sentido para aquele aluno. Mais uma vez é necessária a integração da escola com a equipe de intervenção do aluno, para que esta última oriente qual tipo de adaptação será necessária ser feita. Em algumas situações, será necessária a presença de um auxiliar que tenha conhecimento específico na área para acompanhar o aluno em sala de aula.
E por último, e talvez o mais importante, toda a comunidade escolar precisa compreender que ter um ou mais estudantes autistas na sala de aula só agregará para todos, uma vez que conviver com as diferenças é o fundamento número um para uma sociedade mais respeitosa e humana.”
Dra. Lívia Aureliano – Psicóloga e diretora do TatuTEA Espaço de Intervenção Comportamental
“O que é incluir? Dentre os vários significados, gosto de pensar que um educador inclusivo é aquele que não deixa de lado nenhuma criança. É capaz de compreender a dificuldade de cada menino e menina e atuar pontualmente no desenvolvimento das habilidades, que garantem as conexões cognitivas necessárias ao pensamento crítico que ampliará sua visão de mundo. O educador deve perceber e propiciar um método de ensino que favoreça um ambiente escolar onde a participação e a equidade estejam presentes e tenham pertinência para as demandas e preferências dessas crianças.
A inclusão de estudantes autistas no ensino regular, na minha opinião, é uma questão do olhar humanizado das pessoas que os acolhem. O único processo que deve ser desenvolvido é o processo de humanização das pessoas envolvidas no processo de educar. Da mesma forma que focamos nas dificuldades apresentadas no processo de aprendizagem dos ‘típicos’, devemos ter o mesmo cuidado para os processos de aprendizagem dos autistas e das demais pessoas com deficiência. Não são raros os momentos em que nos surpreendemos com a astúcia desses meninos e meninas, que apresentam devolutivas da aprendizagem mais elaboradas que os considerados sem deficiências.
É importante refletir sobre a educação inclusiva sem achar que, para ela acontecer, será necessário um grande aparato de bens materiais. Claro que, para atender as necessidades dos alunos com deficiência, os ambientes devem favorecer a aprendizagem e acolher suas necessidades, mas o que fará diferença é o respeito e afeto que guiarão nessa relação. O pensamento de educar não importa a quem, fundamentado na certeza de que todas as pessoas gostam e desejam aprender, pois isso é uma característica da natureza humana. Para incluir basta um olhar atento, uma alma humanizada e o desejo de contribuir para o crescimento do outro na certeza de que, é na relação harmoniosa com o outro, que aprimoro minhas condutas, fortaleço meus valores e evoluo como um ator social capaz de contribuir para um mundo de paz.”
Elaine Cristina Simões Brandão – Diretora da Associação Educacional Labor e palestrante da Bett Brasil 2022
“O processo de ensino-aprendizagem de alunos com deficiência, especialmente com TEA, deve ter como prioridade a compreensão de suas características, bem como a identificação das dificuldades de experiências inclusivas na escola, para que as adaptações de ambientes e materiais sejam feitas a fim de facilitar o seu desenvolvimento.
Há muitas estratégias para apoiar e estimular a aprendizagem de alunos com autismo. Muitas delas são igualmente eficazes para outros alunos. Pessoas com autismo geralmente se organizam melhor com uma rotina estabelecida. Assim, o uso de um cronograma claro junto com aulas mais curtas e bem planejadas pode ser uma prática efetiva. De maneira geral, a inclusão de estudantes com TEA e a implementação de estratégias inclusivas pode ser trabalhosa para a escola, pois os materiais e conteúdos são elaborados e desenvolvidos para atender aos alunos neurotípicos, e a adaptação desses materiais demanda a compreensão das necessidades elementares da criança com deficiência. Por isso, a adoção de práticas direcionadas a este público deve ser feita para que o ambiente da escola seja acolhedor e capaz de valorizar as diferenças.
Uma vez adotadas condutas facilitadoras à aprendizagem do aluno com TEA, os educadores se apropriam dos recursos e a dinâmica das aulas flui sem dificuldades. Além disso, práticas de atividades que promovam agrupamentos de alunos neurotípicos ao aluno com TEA podem ser cultivados em sala de aula, oferecendo oportunidades colaborativas e resolução de problemas, e promovendo a interação social entre os pares. Se a escola conhece as necessidades, as dificuldades e as possibilidades de aprendizagem do aluno com TEA, e inclui estes saberes em seu trabalho, então a inclusão deixa de ser algo a mais, e torna-se plena e natural.”
Katia Esper – Fonoaudióloga, mestre em Neurociências e Comportamento, criadora do app Cuca, founder & CEO da Plataforma Digital Educativa Cuca 4.0®
“O desafio da escola é criar situações adequadas para que a criança tenha experiências alimentares positivas e de acordo com seu o interesse. Nem sempre o ‘cardápio padrão’ que a escola possui despertará esse interesse na criança com TEA em se alimentar ou a experimentar alimentos diferentes porque se faz necessário adaptar o perfil de preferência alimentar da criança com os alimentos existentes no cardápio que a escola oferece.
Acredito que é fundamental personalizar um cardápio para essa criança, assim como é fundamental um diálogo regular e sistemático entre família, escola e terapeutas da criança, principalmente com a terapeuta alimentar (se a criança realizar essa intervenção), para adequação na apresentação dos alimentos já aceitos por ela e para aproximação de alimentos novos que a criança não consegue comer ainda. É um trabalho de equipe e de muita parceria, que precisa estar muito bem alinhado entre todos, e que algumas escolas podem apresentar dificuldades em colocar isso em prática.”
Carla Cristina Ribeiro Deliberato CRFa 2-13919 – Fonoaudióloga com enfoque de atuação em dificuldades alimentares e fundadora da Clínica Care Materno Infantil
“Trabalhar com autismo é um desafio, assim como trabalhar com todas as crianças, porque cada uma traz repertórios diferentes e seus próprios momentos de aprendizagem. Como escola, devemos sempre oferecer um ambiente onde os alunos se sintam acolhidos, respeitados e recebam oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento físico, intelectual, emocional e social.
Quando recebemos alunos atípicos no colégio, temos um passo a passo importante para essa adaptação. Iniciamos com uma conversa detalhada com os familiares, estabelecendo um canal de comunicação sempre aberto. Nesse encontro, procuramos entender a rotina e o funcionamento da criança no seu ambiente familiar, verificar os atendimentos terapêuticos, identificando os estímulos que ela recebe e incluir o papel da escola no seu desenvolvimento.
É importante entender o aluno como único, com suas funcionalidades específicas, sabendo que, até alunos com um mesmo diagnóstico, apresentam características e funcionalidades diferentes e a intervenção deve ser realizada de forma individual, no ritmo de cada aluno. Em nossa escola, construímos o Plano de Desenvolvimento Individual para cada aluno, o qual atualizamos por trimestre ou sempre que necessário. Este documento contém o histórico da criança, eventuais adaptações que estejam sendo implementadas e as orientações às famílias para a estimulação e o acompanhamento do desenvolvimento do aluno.
Outro passo indispensável é trabalhar a formação dos professores e esclarecer sobre a condição do aluno para a comunidade escolar. É importante reiterar como esses estudantes possuem maneiras diferentes de aprender e de estabelecer relações afetivas. Quando essas relações são consolidadas, o aluno passa a se sentir seguro no espaço escolar, o que favorece o seu desenvolvimento acadêmico e social.”
Dionéia Menin da Silva Oliveira – Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil e do Fundamental I do Colégio Albert Sabin
“A acessibilidade para o autismo é a informação. É muito importante ter em mente que os autistas têm o direito de estudar em escolas regulares. Para ser uma escola inclusiva é importante, em primeiro lugar, conhecer o aluno, através de uma entrevista com os pais, conhecer as habilidades que o aluno possui, as dificuldades de comportamento e principalmente as sensibilidades sensoriais.
Após conhecer o aluno, suprir as suas necessidades através de um planejamento, criando um plano individualizado, adaptando o material, o conteúdo, a avalição, o ambiente de acordo com as sensibilidades sensoriais, além de fornecer um profissional de apoio caso seja necessário. A educação inclusiva tem como princípio que todas as pessoas devem aprender juntas. ‘A inclusão acontece quando se aprende com as diferenças e não com as igualdades’ (Paulo Freire)”.
Amanda Ribeiro – Diretora da Incluir Treinamentos
“O acesso ao ensino é um direito de todas as crianças e jovens, independentemente das suas caraterísticas. O Brasil tem avançado em relação à inclusão, tanto do ponto de vista da legislação como das práticas pedagógicas, porém precisamos avançar ainda mais. Uma das mudanças importantes é compreender que todos somos diferentes. Essa é a nossa maior qualidade! As diferenças nos modos de ser e pensar das pessoas, quando partilhadas, favorecem experiências de aprendizagens mais profundas e diversificadas. Se observarmos a forma de aprender de cada aluno, veremos que uns aprendem mais facilmente através de imagens, outros preferem ler e reler determinado argumento, outros ainda aprendem mais quando debatem sobre algum assunto, e assim é com todos. Por isso a escola não pode ter apenas uma abordagem metodológica. É necessário utilizar diversos recursos para despertar o interesse dos alunos e aprofundar as aprendizagens. Uma educação que concebe essa importância da variação de estratégias, já compreende que a escola homogênea ficou no passado.
A aprendizagem na escola é, essencialmente, coletiva. Esse é um dos nossos grandes desafios no século da rápida informação, aprender a estar com o outro. Esse processo, vivido em grupo, ganha contornos individuais, pois compete aos educadores traçar o plano de estratégias que poderá fomentar aprendizagens para cada um dos estudantes. Os alunos com autismo são alunos como todas as outras crianças, e devemos nos debruçar, cotidianamente, para trazermos as melhores intervenções e propostas. O currículo, entendido como um percurso formativo, deve ser projetado para cada criança e seu contexto.
Outro ponto importante é a escola construir um caminho de diálogo com a família das crianças e, quando se trata de alunos autistas, também com os outros especialistas que os acompanham, para que a rede de apoio seja constituída e a escolha de condutas seja acordada. O transtorno do espectro autista é diverso e cada indivíduo terá diferentes características, mas algumas estratégias podem beneficiar a todos. As orientações das atividades precisam ser claras e a gestão do tempo precisa ser sinalizada com marcadores. Também é importante utilizar imagens e símbolos que possam ajudar este aluno a estar na escola e a participar como deve ser. A questão dos ruídos também pode ser um desafio para a aprendizagem da criança com autismo. Por isso, os educadores devem estar atentos a esses fatores. Voltamos ao raciocínio anterior, todas as crianças aprendem mais e melhor em um ambiente mais sereno e acolhedor. Outro recurso valoroso para promover a inclusão com qualidade é ter, em sala de aula, profissionais de apoio, quando necessário. Algumas crianças e jovens precisam deste suporte.
Por fim, o tema da inclusão é urgente e imprescindível, por isso é fundamental que a escola tenha momentos formativos especializados para sua equipe. Devemos acolher os alunos com suas características e particularidades. Os professores sabem que é parte de suas atribuições educar a todos, mas a escola deve favorecer que seus educadores tenham formação e estrutura para melhor realizar seu trabalho.”
Silvia Adrião – Diretora Pedagógica da Escola AB Sabin
“São muitas as dificuldades apresentadas para a inclusão dos autistas na escola, tanto na pública como na privada. Vivemos em uma realidade na qual não existe inclusão de fato. Hoje não temos políticas públicas e temos um sistema educacional que parece trabalhar contra a inclusão – seja por falta de conhecimento por parte dos profissionais, política ou por aceitação. Também não existe a possibilidade de a prática clínica comportamental nortear o plano educacional dentro da escola regular.
Além disso, a importância da relação da família com a escola é de suma importância ao contexto educacional. Para falarmos de inclusão é necessário começar dentro do núcleo familiar e ampliar para a escola e demais esferas. A família precisa compreender sobre o autismo e como manejar situações para ajudar a criança quando necessário, o que pode ser feito a partir de princípios baseados em evidências científicas comportamentais.
Uma dica importante são as redes de apoio e o cuidado da saúde mental da família. Feito isso passamos a pensar na esfera educacional. O ensino inclusivo é um direito conquistado e é dever de toda sociedade aceitar e respeitar as diferenças. Desse modo, consideramos que a inclusão dos autistas gera grandes lacunas no que se diz na concretização do mesmo, bem como a maneira de aceitar e trabalhar, que vai muito além de teorizar.
É preciso se mobilizar e oferecer informações de conteúdos para que se abandone a ideia de que os indivíduos com necessidades educativas especiais devem ficar à margem da sociedade, pois os mesmos possuem direitos e deveres como todo cidadão. É preciso proporcionar para a sociedade uma visão reflexiva sobre a inclusão e exemplo de cooperação uns com os outros em toda gama de interação social.”
Thainara Morales – Pedagoga, pós-graduada em psicopedagogia clínica e institucional, pós-graduada em análise do comportamento aplicada, com MBA em gestão de pessoas, liderança e psicologia positiva e mestranda em neurociências. Diretora da Clínica Arte Pisco.
“O primeiro ponto que abordo é lidar com o preconceito e a discriminação que ainda existem associados a falta de informação das pessoas. A dificuldade começa para conseguir matricular em uma escola que os receba e os acolha. Mesmo tendo uma lei que garanta a eles a escolaridade, não é incomum para o aluno e para as famílias ouvirem que a escola não tem vaga, ou que não estão preparados para aceitar o aluno, ou dizem que não tem a estrutura necessária. As pessoas tendem a olhar para a deficiência, para a falta, para o que eles não conseguem fazer, para as limitações que podem ter e se esquecem que existe uma pessoa ali, para além do diagnóstico que podem possuir. Existe também alguém capaz de aprender, de participar, de ter experiências, vivências, dentro das possibilidades de cada um.
Outro fator relevante para considerarmos é que não existe um aluno autista, não temos um padrão, uma unicidade. Existem vários alunos que apresentam níveis distintos de TEA, características diversas, possibilidades diferentes e que podem vivenciar a escola de forma única também. Os professores devem sim buscar informações sobre o TEA, mas entendendo cada aluno como sujeito único, buscar conhecer a história desse aluno, estar atento às demandas deles, para poder pensar em estratégias de inclusão. Mas esse é um ponto muito sensível e que precisa de atenção, pois conhecer as individualidades desse aluno não é para planejar atividades especialmente para ele realizar dentro da sala de aula, isso pode até ser necessário a depender do caso, mas inclusão em si não consiste apenas em buscar adaptações individuais para os alunos autistas, mas conhecer a necessidade deles para propor algo para todo o grupo realizar no coletivo. A estrutura física da escola pode ser um dificultador, salas com grande quantidade de alunos, falta de mediadores ou falta de qualificação deles adequadas, mas vale lembrar que nem sempre isso pode ser uma questão.
Vale lembrar que vivemos numa sociedade capacitista, que ainda mantém a padronização dos corpos, que ainda utiliza o conceito de normalidade ao se referirem às pessoas. Temos um longo caminho pela frente quando falamos sobre inclusão e devemos ter urgência nesse caminhar.”
Luciana Diniz – Pedagoga e consultora pedagógica do LIV
“O acesso à escola regular do sujeito autista é um direito assegurado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Contudo, em grande parte das instituições, apenas se cumpre a exigência da norma em questão. Nesse cenário, há tão somente a integração, com o ingresso do aluno, onde ele segue se adaptando a uma estrutura preexistente, tal como faz na sociedade. Já na inclusão, que é o que verdadeiramente se busca, o foco de transformação recai sobre a escola. Ela quem precisa se redesenhar para não somente reconhecer, mas apreciar as singularidades.
Dessa maneira, a proposta é que a escola se aproprie cada vez mais de ferramentas que dialoguem com o conceito social de educação especial, minimizando assim os entraves que dificultam o sujeito a participar plenamente de suas atividades. Eliminar ou, ao menos, minimizar essas barreiras, auxilia na promoção de acessibilidade. E nesse sentido, a produção de materiais mais criativos e interativos pode ser muito benéfica, possibilitando uma aprendizagem sensorial mais prazerosa e estimulante, através da experimentação.
Com isso, teremos ambientes projetados desde sua idealização para o convívio, a troca e a interação. Neles as diferenças serão algo esperado e desejado, pois somente com esse estímulo conseguiremos seguir na busca pelo desenvolvimento pleno de crianças e adolescentes. Com o intuito de superar os principais desafios atuais a ideia que nos norteia é valorizar cada vez mais a diversidade, diminuindo possíveis segregações e estimulando o contato e o afeto entre todos os estudantes.”
Bruna Richter – Psicóloga
“De um modo geral, a educação é um direito social básico garantido pela Constituição Federal (CF) a todos e todas, sendo dever do Estado e da família promove-la e incentiva-la a fim de garantir o pleno exercício da cidadania para toda a população, desde o ensino infantil até o superior (arts. 6º e 205 e seguintes). Por sua vez, a educação de crianças e adolescentes tem especial destaque constitucional, a partir da leitura do art. 227, que impõe integral e absoluta prioridade na proteção deste direito infanto-juvenil e o dever solidário entre Estado, sociedade e família, de garanti-lo, o que também vem previsto no art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, bem como no art. 8º da Lei Brasileira de Inclusão.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seu art. 2º, igualmente dispõe que a educação é um dever da família e do Estado, tendo por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, bem como garantindo seu preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. A mesma normativa insere na rede regular de ensino a modalidade de educação especial e inclusiva, para educandos com deficiência, com respaldo na Lei Brasileira de Inclusão que representa um significativo avanço nas pautas de diversidade, igualdade e combate ao capacitismo na medida em que conceituou o que é acessibilidade e quais são as barreiras a serem quebradas para inclusão social e exercício da cidadania por parte da pessoa com deficiência, entre outros temas correlacionados.
Veja-se que a Declaração de Salamanca, editada com patrocínio da UNESCO/ONU, em 1994, prevê linhas de ação sobre necessidades educativas especiais e estabelece que a convivência comunitária escolar de alunos com deficiência no ensino regular é salutar para todos os alunos, tendo em vista que afirma que diferenças humanas são normais e que a aprendizagem precisa ser adaptada à criança, respeitando-se o seu ritmo e suas necessidades, tendo em vista que uma “pedagogia centrada na criança é beneficial a todos os estudantes e, consequentemente, à sociedade como um todo”. Especificamente sobre crianças e adolescentes dentro do espectro autista, a Lei n. 12.764/2012 garante o acesso à educação e, inclusive, que a pessoa com TEA deve ser incluída nas classes comuns de ensino regular, com direito a um acompanhante especializado, justamente na linha da legislação pátria supracitada, a qual é endossada pela Convenção de Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU de forma global a respeito da educação inclusiva.
Contudo, embora a lei garanta de forma ampla o atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, incluindo aquelas que estejam dentro do espectro autista e, com absoluta prioridade, no tocante à educação de crianças e adolescentes, ainda se enfrentam diversos desafios na inclusão e na acessibilidade dos materiais e instalações das escolas, bem como para disponibilização de profissional habilitado para prestar o devido apoio escolar aos infantes com TEA a fim de que se garanta o amplo acesso à educação inclusiva de qualidade, nos termos da própria Constituição Federal. Assim, é possível acionar o Conselho Tutelar, a Secretaria de Educação do Município ou do Estado onde a criança reside, ou mesmo o Judiciário diretamente, através do Ministério Público, para fazer valer este direito. Isto porque, ignorar a robusta legislação protetiva que temos, é assumir verdadeira discriminação da pessoa em razão de sua deficiência, podendo até configurar crime em alguns casos mais severos, até mesmo de descaso, omissão e negligência.”
Marilia Golfieri Angella – Advogada de Família, Criança e Adolescente fundadora do Marilia Golfieri Angella Advocacia Familiar