Bett Brasil 2022: Cocriando a Educação do futuro
Por Rafael Pinheiro / Fotos Divulgação-Bett Brasil
Retornando ao modelo presencial, o maior encontro de educação da América Latina propiciou debates importantes que cercam as necessidades atuais e, também, traçou algumas rotas mirando nas demandas futuras da educação. Recebendo ao todo mais de 30 mil visitantes, o evento reforçou a sua aliança com a tecnologia e a inovação
A 27ª edição da Bett Brasil, que ocorreu entre os dias 10 e 13 de maio, celebrou o retorno do maior encontro de educação da América Latina ao modelo presencial. Após dois anos realizando ações e encontros somente on-line, respeitando o distanciamento físico e social, a Bett Brasil 2022 retomou sua forte conexão presencial com mais de 30 mil visitantes que acompanharam palestras inspiradoras, participaram de oficinas e workshops, e visitaram o espaço expositivo com mais de 270 marcas e startups para conhecerem soluções inovadoras.
“Estamos muito felizes com o resultado da Bett Brasil nesta edição, em especial com o número de visitantes circulando no pavilhão e a lotação total dos auditórios do Congresso e Fórum de Gestores. Isso é um reflexo do aquecimento do mercado para a educação e da expectativa para a volta presencial dos eventos. Recebemos muitos relatos de parceiros e expositores sobre como foi produtiva a feira para o relacionamento e para a efetivação de novos negócios. Tivemos também novas empresas, que já nos procuraram com o interesse de estar na edição 2023”, comemorou Claudia Valério, diretora da Bett Brasil.
Parte da série global Bett Show da Hyve Group, uma das líderes mundiais na realização de eventos considerados referência de mercado, a Bett Brasil agregou em sua diversificada programação conteúdos e atividades presenciais no espaço Transamerica Expo Center, localizado na região sul de São Paulo; como também conteúdos digitais, exibindo palestras e entrevistas ao vivo com convidados na plataforma exclusiva Bett Online.
Na programação presencial, o Congresso Bett Brasil e o Fórum de Gestores trouxeram experiências imersivas realizadas em cinco auditórios e com a participação de referências do setor educacional, como o escritor e psiquiatra Augusto Cury; a diretora do Centro de Políticas Educacionais da FGV, Cláudia Costin; o educador e pesquisador de projetos educacionais inovadores, José Moran; a poeta e psicanalista, Viviane Mosé; o presidente do Instituto Singularidades, Alexandre Schneider; a conselheira do Instituto Península, Ana Maria Diniz; o presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada, Cesar Callegari; o Secretário de Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares; a secretária de Educação do Estado do Amazonas, Maria Josepha Penella Pêgas Chaves; entre outros profissionais.
Tendo como tema central Cocriando a Educação do Futuro, temática inspirada em um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), parte da Agenda 2030 instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), o evento foi estruturado por quatro macrotemas que guiaram os seus conteúdos: gestão educacional para equidade; inclusão e diversidade; competências socioemocionais e saúde mental; e inovação e cenários futuros.
Sobre inclusão e diversidade, em especial, para além do cronograma de palestras, avistamos duas iniciativas práticas ao longo do evento. Um grupo de sete jovens com Síndrome de Down (T21) ficou responsável pela leitura digital das credenciais e entrega de material informativo do evento. Os jovens fazem parte de uma iniciativa realizada em parceria entre a Almaroma e o instituto sem fins lucrativos PAE – Programa Atendentes Eficientes, com apoio da agência Atento, que tem o objetivo de treinar jovens com T21 para trabalhar em funções de atendimento e recepção em diversos tipos de eventos. E no penúltimo dia do evento (12.05), Sara York, pedagoga e mulher trans, ministrou, ao lado do educador Alexsandro Santos, a palestra intitulada “Educação para a diversidade na prática”.
Avaliando essa edição, Adriana Martinelli, diretora de conteúdo da Bett Brasil, acredita que um dos maiores indicadores de sucesso foi a temática proposta. Segundo Martinelli, o mais significativo foi perceber o público vivendo a experiência com as possibilidades de interação, conversa e relacionamento. Ela avaliou ainda que, após esses dois anos de isolamento social causados pela pandemia, as pessoas parecem estar mais atentas à importância da escuta, o que é fundamental no processo de aprendizagem.
“As temáticas do Congresso e do Fórum de Gestores foram muito bem recebidas pelo público e registramos muitas interações nas palestras com perguntas, comentários e provocações, o que mostra que os conteúdos atenderam às expectativas no sentido de fomentar o diálogo e oferecer insights para repensar o futuro da Educação. Os debates que aconteceram nos dias da Bett Brasil são claramente um caminho para o que vai acontecer no futuro de curto e médio prazo nas escolas”, ressaltou a diretora.
PARTICIPAÇÃO DO MEC
“A Bett Brasil é uma oportunidade única para conhecer as inovações e fazer parcerias de qualidade”, afirmou Victor Godoy, ministro da Educação, durante a abertura do evento. Compondo a cerimônia de abertura ao lado de representantes de outras instituições, como Sebrae Nacional, UNDIME, CONSED e FENEP, Godoy reforçou, em sua fala, a importância de uma atuação conjunta de toda a rede de ensino em prol da recuperação das aprendizagens, sobretudo nesse período de retomada das aulas presenciais nas escolas.
“É uma satisfação muito grande estarmos aqui nesse período em que retomamos as aulas presenciais. Temos como diretriz, no Ministério da Educação, trabalhar na perspectiva da recuperação das aprendizagens e também do uso da tecnologia com ênfase na transformação digital da educação brasileira”, destacou o ministro. Na prática, Godoy ressaltou duas ações que estão sendo desenvolvidas pela pasta para o cenário atual. Uma delas é a “Plataforma de Avaliações Diagnósticas e Formativas”, que foi disponibilizada para todas as escolas do país para o acompanhamento do desempenho dos estudantes durante todo o ano letivo e a organização do trabalho pedagógico das escolas. E a outra é o investimento que será realizado, de cerca de R$ 1,2 bilhão, no Programa Educa Mais Norte e Nordeste para fomentar a capacidade de acesso a políticas de educação na região.
Além da fala do ministro, a equipe técnica do MEC ministrou palestras ao longo do evento abordando estratégias nacionais e tecnológicas para a recuperação de aprendizagens, e estratégias e políticas para o fortalecimento do ensino profissional no Brasil. Já no estande do MEC, presente no evento, os visitantes conheceram alguns experimentos desenvolvidos com o uso da tecnologia para o fomento da educação. Entre eles, projetos do Laboratório de Criatividade e Inovação para a Educação Básica (LabCrie) e uma maquete tátil de relevo construída por professores e estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) do campus de Jundiaí.
NOVO ENSINO MÉDIO
No painel “Implantação do Novo Ensino Médio”, no Fórum de Gestores, Rossieli Soares, o ex-ministro e ex-secretário de Educação do Estado de São Paulo, chamou a atenção para a criação de um novo formato de escola, que seja atrativa aos jovens. “O período que contempla o Ensino Médio é o que mais registra evasão escolar. Uma avaliação conjunta feita em setembro de 2020 revelou que 54% dos jovens se sentiam desestimulados a estudar. Em maio do mesmo ano, o percentual era de 46%. Isso mostra o tamanho do desafio e a urgência de adaptações”, afirmou.
Segundo Rossieli, o desafio de uma escola participativa aumentou ainda mais após a pandemia. O Estado de São Paulo iniciou a implementação do novo sistema em 200 escolas estaduais em 2019 e em 2021, durante a pandemia, expandiu e aprimorou o novo Ensino Médio, que agora conta com 3.510 horas/aula e contempla temas como liderança e cidadania, cultura e empreendedorismo.
O Amazonas foi um dos primeiros estados a implementar o novo Ensino Médio. Um dos métodos utilizados nesse programa é o Centro de Mídias de Educação, que leva aprendizado aos municípios mais distantes por meio do ensino remoto. “A distância e a geografia são grandes desafios para o avanço da educação no estado, mesmo assim, investimos e hoje isso é uma realidade”, afirmou a secretária de Educação do Estado do Amazonas, Maria Josepha Penella Pêgas Chaves, que também participou do painel.
O novo Ensino Médio na região consiste na formação geral básica e em itinerários informativos divididos em quatro eixos: inovação científica, processos criativos, mediação e intervenção sociocultural e empreendedorismo. O estado possui seis escolas bilíngues com aulas de inglês, japonês, francês e espanhol, além de laboratórios de makers. A nova metodologia do Ensino Médio foi aprovada em 2017, pela Lei Federal n° 13.415 para todo o Brasil.
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
O olhar atencioso para a tecnologia, especificamente para as soluções e ferramentas digitais que possam ser utilizadas a fim de dinamizar e auxiliar no cotidiano escolar, é um dos propósitos do evento. No cenário atual que atravessamos, após dois anos do início da pandemia, a relação entre educação e tecnologia se tornou um elo inseparável, o que reflete na procura por inovações e tendências digitais que consigam abarcar as múltiplas demandas da educação na atualidade.
Vera Cabral, diretora de educação da Microsoft Brasil – a Microsoft é parceira global do evento – acredita que a tecnologia é uma grande aliada do professor, porque oferece um conjunto de possibilidades que ajudam a individualizar os estudantes. Com soluções de análise de dados que disponibilizam informações em tempo real sobre cada aluno é possível identificar as dificuldades e preparar materiais e estratégias específicas para a necessidade de cada aluno. “É importante respeitar o tempo de cada um aprender”, avaliou Vera.
Durante o evento, a Microsoft apresentou o novo Windows 11, que oferece recursos de produtividade e inclusão, bem como funcionalidades que atendem aos desafios do mundo híbrido e ajudam os alunos a aprenderem mais com menos estresse. Já o Windows 11 SE para a Educação foi desenvolvido com foco na nuvem e tem o objetivo de tornar o aprendizado acessível a todos os alunos de maneira simples e econômica.
“Depois de dois anos de pandemia, as pessoas estavam muito ansiosas em trocar experiências e refletir sobre como será o cenário daqui para frente. A percepção é de que a tecnologia na educação é uma realidade e não dá pra voltar atrás, apesar do retorno ao presencial. Em relação à procura, percebemos que os computadores para estudantes continuam tendo bastante relevância, e o fato de termos computadores com Windows a preços extremamente competitivos foi muito bem recebido. Além disso, as ferramentas de inclusão e de gamificação, em especial com o Minecraft, também foram fortemente demandadas, bem como o uso de dados para tomadas de decisão”, comentou a diretora.
Agrupando mais de 270 marcas e startups no espaço expositivo do Transamerica Expo Center, as empresas, nacionais e internacionais, realizaram diversas ações em seus estandes, como palestras, demonstrações de produtos e serviços, propiciando experiências diversas para o público visitante. Entre os destaques apresentados, estavam iniciativas de ensino híbrido, metodologias ativas, escolas de idiomas e programas de educação bilíngue, grupos de educação e sistemas de ensino, e programas focados em competências socioemocionais.
ARENA STARTUP
Observando o movimento crescente de edtechs (startups especializadas em educação) nos últimos anos, nesta edição do evento a Bett Brasil reservou uma área especial no espaço expositivo com o intuito de oferecer mais visibilidade aos empreendedores do segmento: a Arena Startup. Apresentando plataformas e aplicativos para diversas áreas das escolas, a lista de edtechs que estiveram presente no evento inclui marcas como Árvore Educação, Nave à Vela, EscolaWeb, Escola Manager, Jovens Gênios, KUAU, Escola em Movimento, Estante Mágica, Piraporiando e Kanttum.
Estreitando o olhar para soluções que contemplavam a gestão, especificamente a área financeira das escolas, que ainda sofrem – em variados níveis – os reflexos da pandemia, conhecemos as propostas de algumas fintechs (startups de produto financeiro): isaac, EduPay e Educbank.
Participando pela primeira vez do evento, o isaac, maior plataforma de serviços financeiros feita para escolas, oferece soluções direcionadas aos gestores e mantenedores. “A missão das escolas é educar, mas seu dia a dia é tão ou mais complexo que o da maioria das empresas. Administração, planejamento, campanhas, folha salarial, reformas e investimentos em melhorias pedagógicas, por exemplo, são tarefas da rotina de um diretor ou diretora escolar, e que estão diretamente ligadas ao cenário financeiro da instituição. Foi com essa realidade em mente que o isaac surgiu: facilitar a gestão financeira das escolas do Brasil”, explica David Peixoto, CEO e cofundador da plataforma.
Assim, o isaac auxilia na gestão financeira da escola, que segue com a mesma autonomia, mas com receita mensal garantida. E ainda oferece flexibilidade aos responsáveis pelos alunos, que podem pagar a mensalidade no PIX, crédito, débito ou boleto. Com isso, as escolas conseguem dedicar mais tempo e recursos para tirar planos do papel e se relacionar com os alunos e suas famílias. Até o momento, o isaac já garantiu o recebimento em dia, sem complexidade, de mais de R$ 1 bilhão em mensalidades.
O EduPay lançou durante o evento o produto “Mensalidade Garantida”, que traz previsibilidade financeira para as escolas da educação básica manterem suas contas sempre em dia. “Devido à pandemia, estimamos que hoje 70% das escolas têm problemas para fechar as contas. Ao garantirmos receitas previsíveis todos os meses, as escolas passam a ter inadimplência zero, saem do vermelho e começam a operar no verde”, garante Anderson Morais, CEO da startup.
O novo produto funcionará da seguinte maneira: as escolas passarão por um processo de análise da gestão financeira. Após a aprovação, receberão mensalmente a receita garantida, mesmo que as famílias atrasem os pagamentos, com um desconto de administração que será variável de acordo com o tamanho e a gestão da escola. A fintech assume, então, o processo de cobrança das mensalidades junto às famílias. De acordo com o CEO, a expectativa do EduPay Mensalidade Garantida é de, no primeiro ano de atuação, apoiar cerca de 600 escolas no Brasil, “o que geraria previsibilidade financeira na gestão de 200 mil alunos e gerenciando recebíveis de aproximadamente R$250 milhões”.
Já o Educbank, principal ecossistema financeiro dedicado à educação básica, disponibilizou três experiências sensoriais em seu estande: com óculos de Realidade Virtual, o visitante vivenciava uma montanha-russa, representando as turbulências associadas com a rotina de um mantenedor; uma atividade de realidade aumentada; e a inauguração do “Museu da Inadimplência”, com um display horizontal emoldurado, onde foram apresentadas imagens de profissionais de educação em situação de frustração e tensão devido aos problemas financeiros.
A ideia da fintech era conscientizar o público sobre a urgência do tema, propondo alternativas e soluções financeiras que sanam definitivamente o problema crônico nas escolas, a inadimplência. “Nosso objetivo é que a inadimplência seja uma peça ‘histórica’, exposta em um museu do passado, para refletirmos o impacto negativo, tanto acadêmico quanto institucional, para pensarmos o futuro das escolas sobre esse novo ângulo”, enfatiza Danilo Costa, fundador do Educbank.
PROFESSOR TRANSFORMADOR
Realizado em conjunto pelo Instituto Significare e a Bett Brasil, a segunda edição do Prêmio Professor Transformador tem como intuito destacar projetos alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que são desenvolvidos em diversas escolas pelo país. Nesse sentindo, valorizando a implementação de projetos transformadores, 12 finalistas em quatro categorias do ciclo básico (Educação Infantil, Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio) foram selecionados e os nomes das/dos vencedoras/es foram anunciados durante a cerimônia de premiação – que ocorreu no segundo dia de evento (11.05) e contou com a participação internacional da DJ e ativista Rivkah, que com apenas 14 anos é a produtora de música eletrônica mais jovem do planeta.
Com mais de 800 projetos inscritos nessa edição, as/os professoras/es vencedores em cada categoria receberão, além do prêmio de R$ 7 mil, troféu, certificado, divulgação do projeto em matéria especial para veiculação na mídia e o certificado “Escola que acredita na transformação pela Educação”. Já os segundos e terceiros colocados em cada categoria receberão R$ 2,5 mil, troféu, certificado e a oportunidade de apresentar seus projetos na Bett Brasil.
A lista completa dos projetos vencedores está disponível em nosso site. E todas as informações sobre o Prêmio Professor Transformador podem ser acompanhadas pelo blog do Instituto Significare.
JORNADA BETT ONLINE
A temática trabalhada pelo evento presencial continuará em circulação com a 3ª edição da Jornada Bett Online, que ocorrerá entre os dias 20 e 22 de setembro deste ano. Com o título “Inspirar, Transformar e Cocriar a Educação do Futuro”, a jornada terá mais de 60 palestrantes e 15 horas de conteúdo, workshops e oficinas de aprendizagem, debatendo assuntos atuais como gestão educacional, políticas públicas, formação de professores, educação a distância, novas tecnologias educacionais, segurança da informação, inclusão e diversidade. A jornada será transmitida pela plataforma exclusiva da Bett Online – acesse e inscreva-se em bettonline.com
BETT BRASIL 2023 A 28ª edição do evento já tem data marcada: acontecerá entre os dias 9 e 12 de maio de 2023 no Transamerica Expo Center, em São Paulo.