Brechó educacional
O que mais se escuta atualmente é que a educação encontra-se mergulhada em um mundo de constantes e rápidas transformações e por isso não consegue acompanhar a rapidez de tanta mudança, permanecendo muitas vezes no “passado”. Tenho minhas dúvidas a respeito de tal afirmação! Mudança é sempre bem-vinda, sinaliza movimento e oportunidades. O grande entrave é o “velho discurso” vestido em “novos” discursos, muitas vezes bonitos, porém, vazios de sentido. Um discurso, muitas vezes sustentado em queixas e culpabilização por parte dos educadores e pais.
No ano passado, comentei em uma entrevista à Revista do Sieeesp, de São Paulo, que a educação deveria se arriscar a pensar como a moda… Trabalhar com tendências, no sentido de prever o que está por vir, antecipar…
Um ano depois retomo esta discussão trazendo minha percepção de uma educação tateando entre o novo e seminovo, descartando o “velho”, ou seja, uma “educação brechó” que convoca seus clientes, alunos e famílias a trocar, vender ou comprar produtos educacionais, ora baseados em rankings, ora prometendo uma educação mais democrática. E, dependendo da cidade, troca-se algo “velho” por algo “novo”, sem contar as barganhas pedagógicas e demagógicas, tendo como principio o ganhar-perder ou mesmo: “eu te dou o que você quer e você me dá o que preciso”. Uma “educação brechó” que não esvazia, não despolui, mas sim “completa” e enche o suposto vazio.
Talvez seja mais fácil entender tal analogia se pensarmos no nosso cenário político atual, e que por sinal vem se repetindo.
Voltando ao “brechó educacional”, imaginemos as diversas teorias educacionais, algumas antigas com novas roupas, outras novas porém sem fundamentação teórica, algumas já acompanhadas de prescrições infalíveis (esta roupa emagrece, use e você será o primeiro…), algumas reproduzindo os tempos áureos da moda aristocrata.
Um “brechó educacional” não é má ideia desde que saibamos o que se pretende com tal “produto”, muitas vezes de segunda mão. Como usá-los de forma criativa? O problema que vejo é a “mistureba”, envolver todas as tendências sem incorporar alguma. Qual o estilo da educação atual? Um bom e criativo “brechó” oferece diversos estilos de acordo com o “biotipo” de cada um; alguns se sentem melhores com cores mais escuras; outros preferem algo colorido, enfim a educação-moda já está vazia de sentido. Discursos vazios já não convencem seus consumidores vorazes por uma educação que faça a diferença e ofereça um bom preço.
Educar é uma arte de combinações de estilos, tendências e competência. Nem sempre o mais caro é o melhor, venho deparando com diversas educações; umas mais retro, outras mais modernas, e algumas que estão entre seminovas, possíveis de uso e adaptações.
Talvez se trabalharmos com um olhar mais cuidadoso aos detalhes, possamos aproveitar varias tendências, mesmo que elas não façam parte na MODA EDUCAÇÃO. Talvez o nosso diferencial possa ser esse, ultrapassar modismos externos e permitirmos ousarmos uma educação mais autêntica!
Por Jane Patrícia Haddad*
*Jane Patricia Haddad é pedagoga, com especialização em Psicopedagogia, Docência do Ensino Superior e Psicanálise. Atuou por mais de 20 anos em escolas como professora, coordenadora pedagógica e diretora, é consultora institucional e conferencista. Autora dos livros: “Educação e Psicanálise: Vazio existencial” e “O Que Quer a Escola: Novos Olhares resultam em Outras Práticas”, ambos publicados pela editora Wak, do Rio de Janeiro. Atualmente cursa o Mestrado em Educação na Universidade Tuiuti no Paraná , onde seu tema de pesquisa é a Indisciplina Escolar.
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