Bullying religioso: é sagrado respeitar o sagrado do outro
Colunas e Opiniões
“Cada um sabe a dor e a delicia de eu o que é”(Caetano Veloso)
Os cenários da sociedade globalizada remetem ao multiculturalismo, ao pluralismo religioso, ao ateísmo e a não-confessionalidade religiosa. Muitos indivíduos, instituições e escolas não estão preparados para aprender a conviver com a multiplicidade conectada ao fenômeno religioso ou a sua negação.
Nas ambiências das escolas, sobretudo os estudantes, sejam crianças, jovens e até mesmo adultos, manifestam sua crença ou descrença religiosa e são alvo do “Bullying Religioso”. Até entre os docentes percebem-se intimidações neste campo sensível da vida humana, pois, trata do vínculo com o incomum, com o extraordinário e com o intangível. A transcendência não se enquadra a racionalidade, somente.
Bullying é um conceito da língua anglo-saxônica que significa a existência repetitiva de ironias, intimidações, vexações, exclusão, e até embates violentos. Tal fenômeno pode ocorrer nas escolas, no trabalho, nos grupos sociais diversos e até na família. Muitos apelidos, rótulos e brincadeiras desagradáveis caracterizam o Bullying. No caso, especifico, do Bullying Religioso é desagradável perceber que as pessoas não respeitam o Sagrado que o outro escolheu para ser seu e, suas opções, até mesmo, de negação de vinculação com instituições religiosas e com crenças.
Os rótulos relativos à religião podem causar desconfortos para os gestores escolares, dai a importância das aulas de Ensino Religioso, de Educação Religiosa, não no sentido de catequizar ou modelar imaginários, mas, estudar a importância das tradições religiosas e dos fenômenos emergentes, no que tange, à relação como o Sagrado. Uma assertiva é inegável: “é Sagrado respeitar o Sagrado do outro”.
A UNESCO através do conhecido documento elaborado pela equipe de Jacques Delores definiu como pressupostos básicos para a educação no século XXI, quatro pilares: aprender a aprender; aprender a fazer; aprender a conviver e; aprender a ser.
Nas salas de aula, nos pátios, laboratórios de informática e nas quadras esportivas, nas lanchonetes, muitos estudantes intimidam, ironizam e criticam a religião de outros ou até mesmo a postura de não crer.
Venho me debruçando em pesquisas para o Doutorado em Educação e Tecnologia para Diversidade a partir de relatos de estudantes e educadores sobre a emergência do Bullying Religioso me apropriando de conceitos como diálogo inter-religioso, tolerância religiosa, cultura da paz e da solidariedade.
A humanidade precisa “aprender a aprender” a lidar com as diferenças isso proporcionará o “aprender a conviver”, respeitando o seu fazer e o seu ser. Essa lição precisa, cada vez mais, perpassar o campo acadêmico. Somos interdependentes!
O fanatismo, o fundamentalismo e o proselitismo devem ser discutidos para melhorar o aprendizado escolar e desenvolver nos educandos as competências e habilidades necessárias para uma sociedade sustentável no que tange à ecologia humana. Somos todos seres de um mesmo planeta com uma diversidade de crenças, místicas e tradições religiosas.
Não adianta avançarmos tecnologicamente e utilizarmos as ferramentas da cibernética para desqualificar a crença ou descrença do outro utilizando o ciberbullying religioso nas redes sociais. Como diria Rubens Alves: tecnologia deve se unir a humanização.
Cabe aos gestores escolares abrir espaço para o debate sobre o dialogo inter-religioso. Nenhum mito ou rito pode se tornar maior que a liberdade e a paz. Precisamos aprender e ensinar que é “Sagrado respeitar o Sagrado do outro”.