Cidadão do Futuro: Empreendedorismo, projeto profissional e diversas competências na rotina escolar
“Empreender na escola pressupõe o desenvolvimento de habilidades e de competências variadas. Surge, então, a necessidade de pensar em um novo conceito para o termo. Precisamos ampliar o conceito de modo a entender que essa ideia contempla planejamento, pensamentos elaborados, trabalho de cooperação, solidariedade e até mesmo caminhos desconhecidos”, afirma Katia Helena Alves Pereira, coordenadora psicopedagógica do Colégio Marista Arquidiocesano
A educação nos mostra, como em um fluxo diário, caminhos e reverberações significativas que concentram, de maneira subjetiva (e em alguns momentos tangíveis), diálogos complexos que ganham proporções inimagináveis no campo do saber – do ensinar e do aprender. Com a educação (e através dela) modificações de si, do outro e do espaço ao redor são potencializados, evocados e construídos ao longo do extenso processo de aprendizagem.
Nessa perspectiva, aliando a esta análise as interferências globalizadas e digitais, identificamos uma educação, especialmente na contemporaneidade, que traça novos rumos e estratégias, que insere outras formas pedagógicas em sala de aula, que desenha planejamentos pautados em novos anseios dos estudantes e que, também, realiza um exercício para se aproximar, de maneira positiva, da nova geração que cruza os portões das instituições diariamente.
A formação deste cidadão do futuro, desenvolvimento este que é a base de toda escola, é formado através “dos quatro pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser. Com esse ferramental, o estudante consegue focar em relacionamentos, ter capacidade de filtrar informações e situações, assumir uma postura de responsabilidade social, cumprindo normas de modo ético”, diz Katia Helena Alves Pereira, coordenadora psicopedagógica do Colégio Marista Arquidiocesano (SP).
Todas essas características, conta a coordenadora, são ideias embutidas no empreendedorismo. “O conceito mais amplo de empreendedorismo também abarca um novo papel para o aluno, ele passa a ser agente de transformação social, tornando-se o cidadão do futuro”.
É possível afirmar que o empreendedorismo (ou a cultura empreendedora) cresceu no Brasil, de certa forma, impulsionada pela crise econômica e, também, pela inserção de jovens no mercado de trabalho que não se identificam com o modelo empresarial tradicional. E, no âmbito escolar, a ideia de empreender transcende a ideia de educação financeira e promove uma intersecção com diversas disciplinas.
“Dentro da escola, a educação empreendedora é muito interessante”, diz Esther Cristina Pereira, diretora da Escola Atuação (PR). “Quando trabalhamos o empreendedorismo dentro da escola desenvolvemos várias habilidades. Esse trabalho abre várias nuances dentro das próprias disciplinas. É muito valioso e é realmente a nossa obrigação trabalhar tudo isso”, completa.
Segundo a diretora, não há idade específica para desenvolver a temática empreendedora com os estudantes. Na Escola Atuação, por exemplo, algumas atividades são realizadas com os alunos a partir dos 02 anos de idade, como conversar sobre a importância do dinheiro, o significado da compra, do troco, da economia. Além de mobilizar outras questões, como a reutilização, a proatividade e a sustentabilidade.
“Dentro do currículo pedagógico é possível trabalhar o empreendedorismo em uma série de situações, desde Língua Portuguesa, até Ciências e Geografia. Quando vamos trabalhar o reaproveitamento de um alimento, por exemplo, dentro da Geografia procuramos um país que tenha um alimento que faça o reaproveitamento”, ressalta Esther.
CULTURA EMPREENDEDORA
No mês de setembro, ocorreu em São Paulo a 3ª edição do G.A.T.E (Global Access Through Education), evento de educação internacional que reúne professores, pesquisadores e expositores das principais instituições do mundo para compartilhar conteúdo relevante sobre educação internacional, trazendo novas perspectivas sobre o desenvolvimento pessoal e profissional aos brasileiros.
Nessa edição, que abordou o tema “O que pode ser feito para aproximar a educação da cultura empreendedora?”, Bradley Delamare, investidor de startups e mentor de jovens empreendedores, afirmou que “uma das tendências globais nessa área é que empreendedorismo tem sido visto como opção de carreira devido à globalização, mudanças na tecnologia e novas possibilidades de captação de recursos”.
Para ampliar a cultura empreendedora, sobretudo no Brasil, Delamare ressaltou, durante sua apresentação, seis pontos essenciais para serem aplicados no processo de aprendizagem: ensinar empreendedorismo para crianças e jovens nas escolas; aderir ao Design Thinking e também ao aprendizado por experiências; beneficiar-se da educação personalizada reforçada pela mobilidade; focar no ensino de mais hard skills em vez de teoria por meio só de leitura de textos; e aplicação do aprendizado STEM (science, technology, engineering and mathematics).
“É por isso que a educação desde cedo precisa ser disruptiva, além de focar no desenvolvimento das habilidades focadas no empreendedorismo”, completou.
EMPREENDEDORISMO COMO PROPÓSITO DE VIDA
Em parceria com IBOPE Inteligência e Rede Conhecimento Social, a Fundação Telefônica Vivo desenvolveu uma pesquisa intitulada “Juventude Conectada – Edição Especial Empreendedorismo”. A pesquisa, publicada pela fundação, ouviu 400 jovens entre 15 e 29 anos das classes A, B e C, de todas as regiões do país. Os resultados mostraram que, em geral, o jovem acredita que empreender está associado à realização de propósito e sonhos, contrapondo o retorno financeiro como premissa. Do total de entrevistados, 55% acreditam que empreender é conseguir colocar em prática os seus sonhos e 64% concordam que empreendedorismo é mais que ter um negócio, é ter atitude, iniciativa e criatividade.
A pesquisa completa pode ser acessada em: www.fundacaotelefonica.org.br/projetos/juventude-conectada
SALA DE AULA DINÂMICA
Observando a contemporaneidade e as mudanças que atravessam a educação, é possível localizar movimentos que despontam em reflexões interessantes, sobretudo com a expansão do uso da internet nos âmbitos sociais. Observamos, também, tendências globais que começam a ganhar forma em diversas instituições espalhadas pelo país, aproximando os estudantes, cada vez mais, de um contexto globalizado.
“A dinâmica em sala de aula está ultrapassada e os métodos já não conversam com o jovem. Talvez um dos motivos principais da evasão escolar, principalmente no ensino médio. Por isso, conectar o aluno ao mercado pode engajar os estudantes à escola, mas, principalmente, prepará-lo para o mercado futuro”, diz Eduardo Azevedo, fundador de uma plataforma educacional.
Segundo o empresário, a cultura empreendedora pode ser trabalhada dentro de sala de aula a partir de projetos, com propostas para solucionar problemas reais. “Planejar, testar e prototipar a partir de projetos simples, com materiais reciclados, lógica de programação sob a ótica da cultura maker – aprendizagem mão na massa – é uma porta incrível para levar o jovem a um mundo de inovação, método criativo e prototipação”.
Dessa forma, a ideia do “aprenda errando” ou do “faça você mesmo” ganha notoriedade no cotidiano escolar, estimulando habilidades múltiplas e transversais no crescimento de cada aluno e aluna. “Desenvolver o espírito colaborativo e entender a competitividade como parte do processo de aprendizagem e como algo natural, que será encontrado futuramente durante a vida, é tarefa do educador e de um país que quer criar indivíduos criativos e analíticos e que tenham condições para empreender no futuro”, completa Eduardo.
ESPAÇO MAKER
Desde 2017, a equipe de Ciências do Ensino Fundamental II do Colégio Albert Sabin (SP) implementou um projeto inspirado no movimento maker – conjunto de ideias que incentiva as pessoas a criar, construir, consertar ou aprimorar objetos e utensílios por conta própria, por meio de tecnologias acessíveis aos leigos.
Coordenado pelos professores Leandro Holanda e Paulo Fontes, assessores de Ciências e de Tecnologia Educacional, respectivamente, o projeto foi posto em prática nas turmas de 6º e 8º anos pela professora Gizele Gasparri, e na turma do 7º ano pelo professor Rafael Paiva.
Segundo o assessor de Ciências, a interdisciplinaridade é uma das primeiras vantagens pedagógicas de uma cultura maker na escola. “Essa cultura enfatiza os campos do conhecimento chamados de Steam, que são Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática”, explica Leandro.
“Para construir algo com madeira, por exemplo, o aluno precisa fazer cálculos relacionados à Geometria, como área e volume, antes de cortar as faces de cada peça; para construir um sensor que borrifa inseticida em intervalos de tempo, ele precisa saber de eletrônica e programação. E a tudo isso ele precisa aplicar o conhecimento científico que está vendo na aula”. A integração de saberes em busca de um objetivo, diz ele, dá ao aprendizado maior sentido.
Saiba mais:
Colégio Albert Sabin – [email protected]
Colégio Marista Arquidiocesano – [email protected]
Eduardo Azevedo – [email protected]
Escola Atuação – [email protected]
G.A.T.E. 2018 – gatebr.com