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Guia para Gestores de Escolas

Cine Club TF: Juventude Negra periférica – Do extermínio ao Protagonismo!

O Projeto Cine Club TF (PCCTF) é parte de uma iniciativa maior que atua desde 2015 na escola Brigadeiro Fontenelle, situada em um bairro classificado de “zona vermelha” pela mídia tradicional. Para entender o contexto histórico, político e social desse projeto, é necessário apresentar o processo de construção e realização do projeto que conquistou o título de vencedor na etapa nacional em 2018, da XI edição do Prêmio Professores do Brasil na categoria Ensino Médio.

Inaugurado em abril de 2018 após uma campanha que levou mais de 400 alunas/os negras/os da periferia para assistirem ao filme Pantera Negra. A recepção dessa obra teve uma repercussão muito grande na mídia paraense, despertando o interesse de diferentes instituições de ensino (estaduais e federais) em ouvir a experiência vivida por esses jovens.

O ciclo de palestras, rodas de bate-papo e apresentações artísticas nessas instituições possibilitaram a construção de um acervo de vídeos e fotografias que resultou em um documentário intitulado “É nós por nós”, vencedor do Prêmio Osga na Escola, em dezembro de 2018.

As titulações e premiações conquistadas no ano de 2018 atribuíram maior reconhecimento e valorização das ações do projeto. Hoje, o Cine Club TF (PCCTF) é uma proposta de intervenção urbana com produções audiovisuais de jovens negras/os periféricas/os, que funciona como uma ferramenta de diálogo entre as produções artísticas desses jovens, construindo um espaço de formação estética da arte cinematográfica que pretende atuar numa plataforma virtual e itinerante não somente em sua comunidade, mas em outras escolas situadas em outros bairros periféricos do Brasil.

A produção audiovisual do PCCTF constrói-se, principalmente, a partir de eventos e oficinas realizadas pelo próprio coletivo, ou seja, os saraus que o projeto produz são espaços de apresentação da produção construída durante as oficinas ministradas e, consequentemente, registradas em vídeos e fotografias que se transformarão em minidocumentários, curtas-metragens, clipes, etc. Assim, o Cine Club TF é uma espécie de circuito que atua em seis expressões, a saber: teatro, canto, poesia preta, artes visuais, dança e o audiovisual. Sua principal finalidade é promover, através desses saraus, a exibição de produções audiovisuais que divulgue as produções artísticas da juventude periférica. Os locais de produção desses saraus e exibição dos vídeos são pontos estratégicos considerados como “pontos proibidos” na quebrada, e a finalidade de ocupar com arte esses espaços é a consciência da importância de transformar espaços de deslocamento receosos em espaços de convivência saudável. Se a comunidade entender que jovens periféricos não se limitam a serem alvo de extermínio e que suas produções artísticas/culturais são ferramentas eficazes na transformação de suas realidades, os ataques de extermínio diminuirão, as ruas voltarão a ser espaços de lazer, a sociedade civil terá uma nova imagem das comunidades periféricas e a juventude negra poderá protagonizar sua própria história.

A iniciativa tem como foco o reconhecimento e a valorização da identidade sociocultural afro/indígena/ribeirinha da juventude negra periférica do bairro da Terra Firme, e pretende-se inspirar jovens de outras escolas, de outros bairros periféricos, de outras regiões do Estado do Pará.

No início do ano de 2019 lançamos o tema Amor Preto: minha cria! A temática foi proposta a partir de uma demanda apresentada na escola na segunda quinzena de dezembro de 2018. Um aluno de 13 anos, envolvido nas ações do projeto, suicidou-se por sua identidade de gênero não ser aceita pela a família evangélica. O ocorrido nos convida a refletir a outra face do extermínio, aquela que vai além da bala na cabeça, quando todos os espaços de diálogo são fechados para os jovens.

O tema desse ano construiu uma rede de comunicação e de afeto entre escola e família para atender e amenizar as demandas pelos jovens apresentadas. Os alunos do projeto transformaram essa triste experiência de perder um amigo para a depressão e suicídio em um curta-metragem inaugurado no Festival Internacional de Cinema Amazônia Doc.

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