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Guia para Gestores de Escolas

Como desenvolver a educação socioemocional no cotidiano das escolas?

Por Rafa Ella Pinheiro

Presente em todas as dez competências gerais propostas pela Base Nacional Comum Curricular, a educação socioemocional está incorporada nas demandas do ensino para a contemporaneidade. Desse modo, todas as escolas devem contemplar as competências socioemocionais em seus currículos, que podem ser trabalhadas de modo transversal às disciplinas a fim de proporcionar uma formação integral

As competências socioemocionais passaram a fazer parte dos processos, dos fluxos e das atividades educativas. Caracterizada como uma temática densa e complexa, a educação socioemocional, reflete a urgência de discutir as emoções – e as suas elaborações – no contexto de formação integral das/os estudantes. Presente em todas as competências gerais propostas pela BNCC, indicando que todas as escolas do país devem contemplar as competências socioemocionais em seus currículos, a educação socioemocional desenvolve habilidades, como autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável.

O desafio que se coloca é: como inserir a educação socioemocional no cotidiano das instituições de ensino? A partir desse questionamento, apresentamos neste especial apontamentos de profissionais que atuam em diversas áreas da educação sobre as possibilidades de ações/atividades que podem ser implementadas para auxiliar no desenvolvimento da educação socioemocional. Confira!

Aron Freller – Comunicador, educador e Diretor de Novas Conexões da Electi

“Acredito que a primeira ação que qualquer escola precisa implementar para cuidar do socioemocional é a formação da gestão e dos educadores. Percebo que existem lacunas no currículo e na formação dos profissionais de educação, seja na pedagogia ou na licenciatura, onde o socioemocional não recebe a devida atenção. Por isso, a gente precisa realmente aprender a educar para o socioemocional. Isso significa aprender os conceitos e a criar experiências de aprendizado que, efetivamente, desenvolvam as competências dos estudantes. Mas também desenvolver o próprio socioemocional. Como costumamos falar na Electi, antes de se tornar um bom educador, um bom facilitador, é preciso se tornar uma boa pessoa. Então, desenvolver as pessoas é o principal aspecto para poder fazer um trabalho socioemocional completo nas escolas.

Depois da formação dos profissionais, podemos pensar em como desenvolver os estudantes e as famílias. E acredito que é necessário um olhar transversal e cultural da escola para isso. É ótimo que a escola tenha um bom material e uma aula na grade para falar do tema, mas essa transformação é mais potente se for completa. Os estudantes precisam ver que os adultos daquele ambiente se comportam e se tratam de maneira acolhedora, cuidadosa, não violenta e propositiva em todos os momentos e que isso se reflete na cultura da escola como um todo.

Na Electi, trabalhamos com três premissas principais: o cuidado com os educadores, o desenvolvimento de trilhas flexíveis e a formação de comunidades de aprendizagem com a cultura de paz. Os educadores participam de formações no início, ao longo do trabalho e contam com encontros regulares de escuta, acolhimento e adaptação das trilhas com a nossa assessoria pedagógica. Já o material dos estudantes, brincamos de chamar de ‘não-material’, porque ele é diferente do que conhecemos no mercado e trabalha a partir das experiências propostas, servindo como registro e acompanhamento do processo de aprendizagem individual e coletivo. As trilhas foram construídas com metodologias de projetos, para que cada turma tenha o percurso mais adequado para seu desenvolvimento e cada escola possa adaptar o trabalho à sua identidade. Nossa comunidade de aprendizagem está crescendo e é aberta e gratuita, para realmente transformarmos a sociedade como um todo.

Não nascemos para vender material para as escolas, nascemos para transformar cultura e cuidar das pessoas. Por isso, a Jornada SER envolve toda a comunidade escolar, incluindo a gestão da escola, os educadores, os estudantes e as famílias, proporcionando um ambiente mais seguro, acolhedor e de desenvolvimento para todos.”

Aron Freller – Comunicador, educador e Diretor de Novas Conexões da Electi

 

Gilmar da Silva Ferreira – Diretor do Colégio Católica Machado de Assis

“O desenvolvimento da educação socioemocional é fundamental na preparação dos alunos para enfrentarem os desafios pessoais e coletivos, promovendo habilidades como empatia, resiliência, autocontrole e cooperação. A implementação de atividades específicas no ambiente escolar pode contribuir significativamente para esse desenvolvimento, ao mesmo tempo em que fortalece a convivência e o bem-estar entre os estudantes.

Uma das iniciativas mais impactantes é o voluntariado, que oferece aos alunos a oportunidade de atuar em projetos comunitários, desenvolvendo a empatia e a responsabilidade social. Ao envolver-se em ações voluntárias, os jovens passam a compreender a importância da cooperação e da solidariedade, ao mesmo tempo que exercitam a comunicação e a gestão de emoções em situações reais.

Outra atividade relevante é o teatro, que possibilita aos alunos vivenciarem diferentes emoções e explorar sua expressividade. Ao interpretarem personagens e histórias, os estudantes têm a chance de trabalhar questões como autoestima, autoconsciência e habilidades de comunicação, fundamentais para o desenvolvimento socioemocional. O teatro também promove a integração, o respeito às diferenças e o trabalho em equipe.

Além disso, o xadrez pode ser uma excelente ferramenta para o desenvolvimento cognitivo e emocional. Ao estimular a concentração, a paciência e o raciocínio estratégico, essa prática também contribui para a gestão de frustrações e a resolução de problemas de forma equilibrada. Da mesma forma, olimpíadas esportivas e culturais, ao promoverem desafios saudáveis e competitivos, incentivam o trabalho em equipe, o respeito ao próximo e a superação de limites pessoais, reforçando habilidades socioemocionais cruciais para a vida em sociedade.

Essas atividades, quando implementadas de maneira planejada e contínua, criam um ambiente educacional que valoriza tanto o aprendizado acadêmico quanto o desenvolvimento integral dos alunos, preparando-os para uma atuação ética e colaborativa no mundo.

No Colégio Católica Machado de Assis essas atividades estão presentes na proposta pedagógica e alinhadas com o compromisso da instituição em promover uma educação integral que valoriza o desenvolvimento socioemocional dos alunos. Ao implementar ações como voluntariado, teatro, xadrez e as diversas olimpíadas, o colégio reafirma seu papel na formação de cidadãos conscientes, empáticos e preparados para os desafios da vida em comunidade.”

Gilmar da Silva Ferreira – Diretor do Colégio Católica Machado de Assis

 

Ana Crispim – Gerente de pesquisa do Laboratório de Ciências para Educação (eduLab21) do Instituto Ayrton Senna

“Para que possamos apoiar as crianças a lidar com os desafios do presente e do futuro, é necessário que, junto com habilidades como ler, escrever e fazer contas, eles desenvolvam competências socioemocionais que poderão ajuda-los a refletir sobre si, sobre suas relações com os outros e se adaptar frente a mudanças e novas demandas. O compromisso da educação integral para todos os estudantes, reforçado pela Base Nacional Comum Curricular, assegura que devemos pensar sobre o desenvolvimento dessas competências durante a educação básica.

As competências socioemocionais são capacidades individuais que se manifestam na forma como pensamos, agimos e nos comportamos, seja na relação consigo mesmo e com os outros. Desenvolvê-las apoia os estudantes a estabelecer objetivos, tomar decisões, enfrentar diferentes situações e impulsionar o seu aprendizado. Por serem maleáveis, elas podem ser desenvolvidas e fortalecidas ao longo da vida, incluindo durante a trajetória escolar. Por isso, pensar em ações que incluam o desenvolvimento intencional de competências socioemocionais nas escolas é importante. O Instituto Ayrton Senna trabalha com metodologias e ferramentas para o desenvolvimento de competências socioemocionais dos estudantes nas escolas.

Uma delas é o SAFE – Sequencial, Ativo, Focado, Explícito, que traz uma estrutura com características essenciais a toda abordagem intencional de desenvolvimento socioemocional no contexto escolar. Este método prevê que o trabalho com as competências socioemocionais deve ser realizado com base em quatro premissas: Sequencial, atividades sequenciais e estruturadas considerando a complexidade do tema, por exemplo, trabalhar atividades que vão do menos para o mais complexo de forma gradual; Ativo, atividades com uso de metodologias ativas, promovendo a  participação e autonomia dos estudantes no que se busca desenvolver; Focado, com base no desenho de atividades direcionadas que garantam tempo e intencionalidade para o estudante refletir e exercitar a(s) competência(s) em desenvolvimento; e Explícito, por meio de atividades que explicitem quais competências são foco do desenvolvimento e quando elas estão sendo mobilizadas nas atividades propostas.

Além do SAFE, trabalhar o Duplo Foco é uma outra oportunidade para desenvolver as competências socioemocionais de forma integrada com os componentes curriculares. Por exemplo, ao realizar uma aula de matemática, é possível articular as atividades e conhecimentos com a importância de desenvolver competências como foco e persistência para resolver problemas complexos. Na prática, para articular o desenvolvimento socioemocional aos objetivos de aprendizagem do componente curricular é necessário considerar três etapas: sensibilização e autoavaliação, por meio da apresentação da competência socioemocional que será o foco de desenvolvimento daquela aula ou atividade; desenvolvimento e acompanhamento, com a participação dos estudantes nas atividades propostas, por meio de metodologias ativas; e, por fim, a autoavaliação final e registros, por meio da reflexão e registro sobre os avanços, aprendizagens e melhorias. Essa reflexão pode ser oral e compartilhada.”

Ana Crispim – Gerente de pesquisa do Laboratório de Ciências para Educação (eduLab21) do Instituto Ayrton Senna

 

Esther Carvalho – Diretora-Geral do Colégio Rio Branco

“Desde muito pequena, a criança precisa aprender a identificar e a nomear seus sentimentos. E isso a ajuda saber o que se passa e como lidar com isso. Hoje não existe mais, como antigamente, a ideia de que é feio ter raiva ou outros sentimentos. O que você faz com esses sentimentos que é a grande diferença. Então, passamos a ter um olhar mais cuidadoso para os conflitos e como as crianças lidam com eles.

Nesse sentido, há um aspecto bastante delicado, que inclusive discutimos com os pais e mães em nossos Encontros com a Direção que acontecem mensalmente, que é o impacto da superproteção na formação das competências socioemocionais. O quanto os pais enxergam seus filhos mais frágeis do que na verdade eles são, e como podemos atuar juntos, apoiando os desafios dos filhos e dos alunos sem nos colocarmos à frente para resolvê-los.

No Colégio Rio Branco, temos o Projeto Convivência, para os anos iniciais do Ensino Fundamental, em que os próprios alunos conversam sobre as questões da sala de aula. No 8º ano do Ensino Fundamental, o componente curricular Jovem Perspectiva apresenta dilemas da juventude, como autoimagem, bullying, redes sociais, entre outros. Na Monitoria, os alunos aprendem a se regular, cuidando de outros alunos menores, em atividades da escola. Há um conjunto de oportunidades para que crianças e jovens sejam fortalecidos, e é no dia a dia que essas oportunidades dentro da escola se constituem, inclusive com os desafios.

E na parceria a ‘quatro mãos’ que a família pode nos ajudar a fortalecer seus filhos sem protegê-los excessivamente. O que percebemos e temos conversado muito abertamente com os pais é que, superprotegendo, estamos criando pessoas cada vez mais frágeis, menos tolerantes à frustração e com muita dificuldade de perseverar nesse mundo complexo e desafiador.

O desenvolvimento socioemocional das crianças e dos jovens desempenha um papel crucial na construção de habilidades sociais universais que vão além do conhecimento acadêmico. Ao investir no reconhecimento e no autocontrole das emoções, as crianças aprendem a lidar com desafios, desenvolver resiliência e estabelecer relacionamentos saudáveis. A partir de práticas que envolvem a comunicação assertiva e acolhedora, a resolução de conflitos e o incentivo ao pensamento crítico, crianças e jovens têm a oportunidade de se desenvolverem e se tornarem cidadãos mais conscientes e empáticos. Essas habilidades não apenas beneficiam a vida escolar e familiar, mas também formam a base de uma sociedade que valoriza o respeito e a igualdade.”

Esther Carvalho – Diretora-Geral do Colégio Rio Branco

 

Eliza Flauzino – Mentora de negócios e autora infantil e Renan Abranches – Pedagogo e Educador. Ambos, pais educadores e fundadores da Tantão Educação

“Em 1999, Jacques Delors, professor francês de política e economia, entregou o relatório final da Comissão Internacional sobre Educação, vinculada à UNESCO, intitulado Educação: um Tesouro a descobrir. Nele, eram apresentados e explorados os Quatro Pilares da Educação. Pensados como um conjunto de quatro macro habilidades a serem desenvolvidas pelas crianças e jovens, os Quatro Pilares, desde então, têm pautado o debate educacional em vários países do mundo, incluindo o Brasil. São eles: Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer, Aprender a Conviver e Aprender a Ser.

No campo da Inteligência Socioemocional, o pilar Aprender a Conviver aborda, de modo especial, o domínio das relações humanas, a compreensão e o respeito pelas diferenças e individualidades, a empatia, o comportamento afetivo e a alteridade. Nas palavras do próprio relatório, sua proposta é a da ‘descoberta progressiva do outro’. ‘Outro’, aqui, compreendido como o singular na sua etnia, expressões culturais, nacionalidade, convicções ideológicas e religiosas, entre outras manifestações da multiplicidade humana. Nota-se que o relatório compreende o conhecimento como base e elemento primordial da tolerância e convivência profícua: não se pode respeitar e compreender aquilo que se ignora. Por outro lado, este mesmo conhecimento, para tornar-se efetivo, deve ser elaborado na comunicação ativa, na construção cotidiana. Longe de ser um saber teórico, é uma racionalidade que se constitui na prática: aprender a conviver, convivendo.

Reconhecendo nos Quatro Pilares o fundamento para uma educação real, apropriada às demandas do nosso tempo, entendemos que é na Pedagogia de Projetos que está o caminho para o correto desenvolvimento dessas novas diretrizes. A partir dela, é possível trazer o conteúdo teórico para o cotidiano do aluno e, numa relação pautada pela dialética, capacitar a criança para elaborar conceitos abstratos a partir de situações práticas. Assim, abordagens como a escuta ativa, dinâmicas de grupo que possibilitem a prática da empatia, bem como a Educação Empreendedora, que, entre outras coisas, desenvolve no estudante o senso de grupo e a responsabilidade compartilhada, são caminhos possíveis, que têm se mostrado muito bem-sucedidos na formação socioemocional, dentro das escolas.

Em um mundo cujas demandas são, a cada dia, mais dinâmicas, a Educação precisa estar aberta ao novo. Fórmulas e soluções do passado já não encontram o mesmo significado, e a reformulação de processos e metodologias é uma necessidade real. Não se trata de um processo simples ou fácil. Mas é necessário, se quisermos preparar as próximas gerações para os desafios que encontrarão pela frente.”

Eliza Flauzino – Mentora de negócios e autora infantil e Renan Abranches – Pedagogo e Educador. Ambos, pais educadores e fundadores da Tantão Educação

 

Andreia Rossi – Educadora parental, psicopedagoga e mãe atípica

“No Brasil, algumas escolas já adotaram programas que integram atividades socioemocionais em sua grade curricular, como rodas de conversa, meditação e oficinas que oferecem vivências sobre as relações humanas e suas singularidades. Ao criar um ambiente em que as crianças e jovens se sentem seguras para expressar suas emoções, as escolas estão moldando um futuro mais inclusivo. Estudantes que participam dessas atividades demonstram uma melhora significativa nas interações sociais e na autoestima, além de uma redução de comportamentos agressivos.

No cenário internacional, na Dinamarca, que foi considerado o segundo país mais feliz do mundo, por exemplo, a empatia é ensinada aos estudantes de 6 a 16 anos, em suas escolas. O objetivo de incorporar essa temática em sua grade curricular nacional, é sustentar a cultura de amor e cuidado genuíno pela raça humana, ensinando às crianças e aos jovens o que significa entender e compartilhar sentimentos. Uma das ferramentas mais populares adotadas foi o CAT-Kit (TAC Treinamento Afetivo Cognitivo), desenvolvido por psicólogos no país, que oferece ferramentas e materiais visuais interativos para que os usuários possam se comunicar entre si e com os adultos, fazendo trocas sobre sentimentos e emoções.

Voltando para o cenário brasileiro, sabemos que o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas sobre este tema são urgentes e fundamentais, entretanto, é possível implementar pequenas estratégias e ações que darão um pontapé inicial para garantir este aprendizado de nossas crianças e jovens. Neste sentido, pensando no desenvolvimento integral e não só acadêmico, oferecer aos estudantes atividades como roda de conversas, onde os estudantes possam compartilhar experiências, dificuldades e conquistas se torna um espaço seguro e acolhedor, motivando essa troca, pois a escuta das histórias do outro pode ser algo que alguém também vivencia e não saiba como lidar. Implementar um programa de tutoria emocional, onde alunos mais desenvolvidos em determinadas áreas possam contribuir com os alunos com menos conhecimentos ou habilidades no assunto, pode criar um ambiente de maior suporte entre os pares. Essa tutoria irá desenvolver um espaço onde os estudantes possam desenvolver habilidades de liderança, e não menos importante e significativo, podem oferecer segurança e acolhimento aos colegas em momentos de vulnerabilidade. Por meio de aprendizagens cooperativas, os estudantes terão a capacidade de desenvolver a motivação, além de aprenderem a importância do trabalho em equipe, respeitando suas singularidades e potenciais individuais do ser humano.

Uma coisa é fato: o amor muda o mundo. Nações investem pesado em campanhas e ações para promover a paz mundial, mas isso poderia ser facilmente alcançado, e de uma maneira muito barata, se cada criança e jovem tivesse a oportunidade de aprender sobre os sentimentos e acolhimento das próprias emoções e das emoções do colega ao lado. Ensinar crianças e jovens sobre educação emocional é contribuir para adultos bem-sucedidos emocionalmente.”

Andreia Rossi – Educadora parental, psicopedagoga e mãe atípica

 

Thaís Lenhardt – Coordenadora de Soluções Pedagógicas da Mind Lab e Doutora em Educação para Ciência

“Antes de tudo, é necessário pautar-se na premissa de que as competências socioemocionais precisam ser incorporadas aos currículos de toda Educação Básica de maneira intencional, transversalmente às disciplinas curriculares para que a formação integral seja uma realidade possível e pactuada por todas as escolas do país. A Base Nacional Comum Curricular preceitua e endossa ao longo de todo o documento a necessidade de abordar dez competências gerais, que estabelecem intersecções tanto semânticas quanto pedagógicas com as competências socioemocionais. Assim, o desenvolvimento de competências socioemocionais é um forte aliado e potencializador da implementação da BNCC nas escolas.

Isso posto, podemos citar os Programas Socioemocionais como uma alternativa para endereçamento dessa necessidade, por meio dos quais é possível obter uma estrutura e um conjunto de recursos, atividades e estratégias pedagógicas que facilitam o processo de ensino e aprendizagem desses componentes tanto para estudantes quanto para professores e que permitem alcançar o objetivo educacional delineado. Além disso, é necessário oferecer múltiplas experiências de aprendizagem, de modo a contemplar diferentes perfis e inteligências.

Para que isso seja possível, é necessário que o Programa apresente uma metodologia sólida, estruturada, com objetivos bem definidos, recursos compatíveis com cada segmento, bem como a possibilidade de trabalhar as competências de maneira gradual e progressiva desde a primeira infância até o Ensino Médio. A ideia de um currículo em espiral pode ser uma excelente abordagem já que os contextos relacionados à mobilização das competências de natureza socioemocional vão se complexificando, se entrelaçando e respondendo a diferentes demandas. Além disso, a implementação de ações como:

  • o trabalho com a recomposição de aprendizagem tanto em relação aos aspectos cognitivos quanto aos socioemocionais;
  • a criação de espaços ou momentos para escuta, acolhimento e partilha de experiências;
  • tangibilização de diferentes cenários em que as habilidades socioemocionais podem ser mobilizadas e contribuem para melhorar a qualidade de vida;
  • envolvimento das famílias para que seja possível transcender a prática das habilidades para atividades rotineiras, além do estabelecimento de uma parceria entre a escola e a família;
  • formação continuada de professores para que eles possam refletir sobre as próprias competências socioemocionais e apropriar-se de estratégias eficazes para o trabalho intencional com essas competências;
  • realização de avaliações diagnósticas em contextos mais livres em que os alunos tenham a oportunidade de reconhecer e demonstrar seus gaps e potenciais;
  • proposição de experiências didáticas que atingem alunos com diferentes perfis de aprendizagem, oferecendo recursos diversificados;
  • exercícios relacionados à metacognição e a flexibilidade cognitiva também contribuem ostensivamente para o desenvolvimento socioemocional.

Ainda no âmbito da implementação de Programas Socioemocionais, destaco um tema importante que vem crescendo nacionalmente, que são as Parcerias Público-Privadas, as PPPs. Uma grande quantidade de projetos do gênero já está em curso, seja já na fase de aplicação ou com implementação prevista, com um olhar voltado apenas à questão da infraestrutura – também muito importante. Cabe aos gestores destacar a necessidade de um olhar mais abrangente, que considere incorporar Programas Socioemocionais como potencializadores desse tipo de parceria com objetivo de transformar a educação do nosso país.”

Thaís Lenhardt – Coordenadora de Soluções Pedagógicas da Mind Lab e Doutora em Educação para Ciência

 

José Francisco M. Klas e Nicole Biral Klas – Pediatras coordenadores do Departamento de Saúde Escolar do Grupo Educacional Bom Jesus

“A educação socioemocional é essencial no desenvolvimento integral dos alunos, complementando o aprendizado acadêmico e preparando-os para enfrentar os desafios próprios da vida. Evidências científicas apontam para o fato de que

crianças e adolescentes que desenvolvem um amplo repertório de habilidades socioemocionais terão maior probabilidade de estabelecer relações sociais mais saudáveis, tornando-se, no futuro, menos vulneráveis a transtornos emocionais.

Para integrar essa abordagem nas escolas, é necessário implementar ações e atividades que promovam o autoconhecimento, a empatia, o autocontrole, as habilidades de relacionamento, de resolução de problemas e de tomada de decisões. Uma das estratégias mais eficazes é a inclusão de programas de habilidades socioemocionais, utilizando currículos prontos ou desenvolvidos pela própria escola.

Podem ser realizadas atividades que estimulem a comunicação assertiva, a expressão adequada dos sentimentos e o desenvolvimento de estratégias positivas de enfrentamento dos problemas. Jogos cooperativos e dinâmicas de grupo são eficazes para incentivar o trabalho em equipe, o respeito e a cooperação. Além disso, atividades como meditação, exercícios respiratórios e momentos de atenção plena (mindfulness) promovem a autorregulação emocional.

Desde 2012, os pediatras do Departamento de Saúde Escolar (DSE) do Grupo Educacional Bom Jesus promovem o Programa de Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais. Por meio de atividades específicas para cada faixa etária, os professores capacitados pela equipe do DSE auxiliam os alunos a desenvolver, entre outras, as seguintes habilidades: seguir passos para a solução de problemas; compreender a importância de respeitar a diversidade; fazer pedidos de desculpas que demonstrem um real arrependimento; responder apropriadamente a provocações; aprender a lidar com as pequenas frustrações do cotidiano; enfrentar apropriadamente situações de conflito e de bullying; compreender a importância das regras sociais; comunicar-se de forma assertiva, incluindo o uso de mensagens na primeira pessoa; utilizar estratégias de recusa diante de pressão dos pares para fumar ou consumir álcool e outras drogas; idealizar um ‘projeto de vida’ e identificar fatores que podem comprometê-lo; refletir sobre as consequências da impulsividade, do cyberbullying e do compartilhamento de fotos íntimas; defender causas (campanha ‘Pense antes de postar’); identificar os sinais de alerta para a depressão na adolescência.”

José Francisco M. Klas e Nicole Biral Klas – Pediatras coordenadores do Departamento de Saúde Escolar do Grupo Educacional Bom Jesus

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