Como o uso da inteligência de dados pode dialogar com uma educação de excelência
A inovação tecnológica está transformando a educação e tem contribuído muito para o desenvolvimento das habilidades necessárias ao mundo do trabalho, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Na análise Educação e Habilidades (Education and Skills), a entidade defende a importância de currículos adequados ao século XXI – que estejam conectados a uma instrução acessível e capaz de construir uma base sólida para os estudantes. Para além de uma educação que prepara o aluno para o vestibular, o alerta é resultado da conclusão de que existe uma desconexão entre as demandas dos empregadores e a formação dos profissionais recém-saídos do sistema educacional. E, neste cenário, há uma questão crucial: o fato de a tecnologia ser tão presente no mundo profissional, mas não possuir status de ferramenta pedagógica dentro das salas de aula de países como o Brasil. Claro que me refiro a uma tecnologia alinhada a um contexto de intencionalidade pedagógica e que dá um passo adiante: o uso de dados para gerar evidências de aprendizado.
Para analisar o potencial da tecnologia para alavancar a educação, é necessário lançar mão de duas chaves de compreensão que aprofundam os principais ganhos de eficiência educacional no uso de inteligência de dados. Começo pelo estímulo da aprendizagem via personalização, uma conquista associada à possibilidade de o professor enxergar cada aluno em sua individualidade. E o que isso quer dizer? Ao conhecer melhor o estudante, com as respectivas potencialidades e dificuldades, o educador pode criar planos e atividades educacionais que potencializem o nível de aprendizagem individual.
O segundo ganho está atrelado a elevar a qualidade do tempo do professor, ou seja, o uso da tecnologia – em especial, da ciência de dados – faz com que as tarefas mais burocráticas sejam assumidas pela inteligência de máquina. Com isso, o educador ganha mais tempo para se dedicar a metodologias pedagógicas e à análise de dados que vão oferecer evidências do nível de aprendizado de cada aluno e turma.
Por último, destaco a metrificação – ao medir o desempenho dos estudantes com uso de dados, o professor tem em mãos as evidências de que determinado conteúdo passado foi assimilado pelo aluno, além disso, a comprovação de que as habilidades e as competências foram plenamente desenvolvidas. Na prática, o mapeamento de performance pode dar insumos relevantes para a elaboração de planos educacionais individuais e coletivos. Com esses dados, o educador pode medir a evolução dos alunos e criar formas de auxiliar, individualmente, na melhora de desempenho. Para a família, a visibilidade desses insumos é relevante para “enxergar” o trabalho da escola. Gosto de destacar que os dados – quando produzidos com qualidade e lidos com intencionalidade pedagógica – trazem um real protagonismo para alunos, educadores e responsáveis.
Em uma conversa com o psicólogo cognitivo e educacional Howard Gardner – cientista das inteligências múltiplas e diretor sênior do Project Zero, da Universidade Harvard –, refletimos sobre como o uso da tecnologia com intencionalidade pedagógica pode nos auxiliar a dar um salto na educação. Além de responder à tarefa de motivar o estudante, a inovação digital nas escolas pode ter um papel importante, aproximando o conteúdo do universo dos estudantes e tornando a educação mais relevante, individualizada e eficiente para alunos e professores. Nesse sentido, a inserção da tecnologia na educação não se limita a deixar o conteúdo mais atrativo: ela permite que os professores conheçam as necessidades de cada aluno em tempo real, de forma personalizada, e possam ajudá-los antes que eles travem, fiquem desmotivados e que desistam por não estarem aprendendo, sobretudo em um cenário pós-pandemia.
Voltando ao relatório do Fórum Econômico Mundial, as transformações na educação – mediadas pela tecnologia – estão condicionadas à capacidade de os governos investirem em tecnologia, com acesso à internet e a dispositivos educacionais nas escolas públicas. Do lado do ensino privado, o desafio é vencer medos e preconceitos associados a conceitos errados do que é a tecnologia dentro da sala de aula e a “ameaça” que traz à atividade do professor. Nada mais distante da realidade! Divido com Howard Gardner a crença de que aproximar a educação da tecnologia significa preparar nossas crianças e nossos jovens para um mercado de trabalho pautado pela constante evolução tecnológica. É obrigação da nossa geração – como educadores, pais, mães e membros da sociedade – dar condições para que as próximas possam prosperar financeiramente, socialmente e emocionalmente.
Claudio Sassaki
Graduado em Arquitetura pela Universidade de São Paulo, mestre em Educação pela Stanford University e cofundador da Geekie, empresa que desenvolveu a primeira plataforma de educação baseada em dados no Brasil.