Conversa com o Gestor — Mulheres à frente das instituições
Matéria publicada na edição 96 | Março 2014 – ver na edição online
O Dia da Mulher não é apenas um dia comemorativo, mas um marco na história da batalha feminina por respeito e igualdade. Em 1957, no dia 08 de março, mulheres operárias iniciaram uma greve e mobilizaram uma fábrica têxtil em Nova York, reivindicando por melhores salários, pois estas ganhavam em torno de um terço do salário de um homem na mesma função, e reivindicavam também uma redução de jornada, já que na época as fábricas exigiam 16 horas diárias de trabalho. Num ato desumano, essa greve foi reprimida violentamente e resultou em 130 operárias mortas carbonizadas, por serem trancadas dentro da fábrica que foi incendiada com as grevistas dentro. Lamentável e absurdo! Mas foi somente em 1975 que a ONU (Organização das Nações Unidas) decretou este dia como sendo o Dia da Mulher, em reconhecimento ao esforço daquelas batalhadoras que deram sua vida em prol da causa. Em muitos países ocorrem conferências, reuniões e debates que giram em torno da defesa dos direitos da mulher na tentativa de diminuir ou até mesmo eliminar o preconceito que, infelizmente, ainda existe em alguns lugares. As mulheres enfrentam dia após dia os reveses de uma jornada incansável na qual ela se divide em ser mãe, esposa, amiga, filha, estudante, profissional e acima de tudo, ser mulher! Como ela encontra tempo para tanto? Ela acorda cedo, cuida dos filhos, serve o café da manhã para todos, checa se estão todos prontos e arrumados para os compromissos do dia, sim, ela consegue programar e cuidar de perto de tudo, gerenciando a família. E após essa maratona inicial, ela ainda consegue aprontar-se, cuidar dos cabelos, unhas, pele, roupas, e parte para o trabalho. Neste momento ela ativa a profissional, e exerce sua função com o mesmo carinho e dedicação, ainda faz sobrar um tempinho para academia e novela após o jantar que ela mesma faz questão de providenciar. Como duvidar da competência gerencial da mulher? Ela multiplica seu tempo e realiza seus afazeres com maestria. Mas como ela faz isso? Conversamos com mulheres espetaculares que vivenciam esta realidade cotidiana, e estão à frente de uma instituição de ensino, elas nos contam como se equilibrar diante dessa múltipla jornada.
A trajetória:
Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva é licenciada em História/UFMG e Especialista em Gestão de Sistemas Educacionais/PUC-MG, ela nos conta “Eu fui professora de História da rede particular e pública, na educação básica, desde 1976. A opção de atuar na rede pública e as diferentes vivências as quais eu tive acesso me deram uma base sólida para assumir cargos que demandavam capacidade de articulação, liderança, inovação. Em 1989 fui eleita vice-diretora da escola municipal onde eu lecionava. Estas experiências, mais a militância estudantil na luta contra a ditadura, me formaram politicamente. Em 1993 assumi a direção do centro de formação dos professores da rede municipal de BH; atuei com assessoria e consultoria na área da educação. Em 2002, fui convidada para assumir a secretaria municipal de educação da cidade de Belo Horizonte. Em 2005 fui eleita presidente da UNDIME – união nacional dos dirigentes municipais de educação. Em 2007 fui convidada para trabalhar na equipe do Ministro de Educação, Fernando Haddad, quando assumi a o cargo de Secretária Nacional de Educação Básica e fiquei até janeiro de 2012. Ao sair do MEC fiquei seis meses como ING – indivíduo não governamental, fazendo palestras, consultorias. E em julho de 2012 assumi a direção da Fundação SM, e comecei aos 56 anos de idade a trabalhar em uma área nova para mim, o terceiro setor”. E ela comenta que não foi fácil chegar à este patamar “Não é fácil ser mulher – mãe – militante – feminista – profissional. Mas eu tive muita sorte nos apoios importantes do meu marido, de mãe e sogra, de amigos, de profissionais domésticos, enfim, uma característica brasileira que possibilita uma retaguarda doméstica a mulheres de classe média que optam por uma carreira e uma vida profissional. Pessoalmente sou uma pessoa de muita sorte, mas sei que existe a luta diária de mulheres que se desdobram entre muitas tarefas diferentes e acabam sacrificando alguma coisa para poder assumir outras” diz ela.
Cristina Durzi é diretora do colégio Pitágoras Cidade Jardim há 13 anos e diz “O trabalho com dados, aprendido na Engenharia, somado ao modelo mental focado na solução de problemas auxiliam muito em minha atuação. Para assumir a direção de uma escola é preciso, também, ser forte no relacionamento e na liderança da equipe. Tive a oportunidade de adquirir essas habilidades vendo e trabalhando com grandes líderes”. Ela ainda conta como alcançou esta posição no Colégio “O Pitágoras é o lugar das oportunidades e eu aproveitei todas. Aprendi, na instituição, que para ser um profissional melhor é preciso ter humildade para aprender, ser disponível e aberto para o novo e, mais que tudo, determinado para chegar onde se quer. Eu sempre soube o que quis na minha vida profissional: esforcei-me para ser sempre uma professora exemplar, uma coordenadora que conhece com profundidade o chão da sala de aula e os desafios do aprender. O somatório de todas essas fases de aprendizado me ajudou a chegar à direção do Colégio”.
Ahinoan Macedo Arlindo Pomarico é diretora do Colégio Joana D´Arc e conta “Fiz Ciências sociais na PUC, pós-graduação e orientação educativa. Meu marido e eu estamos desde 1963 na liderança da instituição. Desde cedo eu me formei professora, o que eu sempre quis na vida foi ser professora. Tudo que fiz foi para isso. Escolhi sociologia educacional, mas acima de tudo sou professora. A jornada foi trabalhosa, mas adequada as minhas possibilidades”.
A rotina
Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva diz que não é fácil equilibrar-se em meio à rotina desgastante de ser mulher e profissional e comenta como lida com isto “Primeiro, administrar a culpa, ancestral e inerente às mulheres, principalmente na minha geração. Depois, ter uma rotina que seja menos estressante: escola das crianças próxima de casa, divisão de tarefas domésticas, e principalmente ter a consciência que não podemos ser boas em tudo. O amadurecimento foi muito positivo para que eu pudesse ver em perspectiva, valorizar as coisas que eram importantes para mim e gastar menos energia nas bobagens. E parece (e é) óbvio, mas as crianças crescem, casamentos podem acabar, empregos vão e vem. Tudo passa, de verdade. Depois, é preciso ter muita “personalidade” para ouvir as cobranças feitas direta ou indiretamente pela família, amigos, mas principalmente a cobrança subliminar, da mídia, aquela da reportagem da “atriz que engravidou, pariu em casa sem anestesia, emagreceu, e dois meses depois está linda em um manequim 38 nas capas de revista…” Ou da modelo que tem 3 filhos pequenos, não faz dieta porque tem um metabolismo ótimo, linda, sexy, rica e que declara ter sempre tempo para as crianças pois afinal “elas são prioridade absoluta na sua vida”. A mulher comum que lê estas reportagens se sente fracassada, incompetente, feia e péssima mãe… Precisamos debater mais corajosamente sobre a maternidade, as dificuldades principalmente nas grandes cidades, e que é possível sim, ser mãe e profissional, mas sem querer ganhar o título de “Miss Perfeição”. Eu fui aprendendo a ser mãe, a controlar o orçamento, a dizer não para os filhos, para o marido, o chefe. Ninguém nasce sabendo tudo e no caso da mulher, ela ainda cresce com todos os estereótipos da mulher sensual, profissional, independente, e que ainda faz um bolo maravilhoso, vai a todas as reuniões da escola dos filhos, não atrasa nem um minuto para o trabalho, além de estar sempre com as unhas feitas e o cabelo impecável… ah, e ainda tem a academia, a dieta, a saúde… Ufa!! Eu (e com certeza todas que estão lendo esta entrevista) não conheço ninguém assim, porque uma mulher perfeita assim não existe (ainda bem)”.
Cristina Durzi comenta “Esse é o desafio. A casa, os filhos, a vida social ocupam um papel importante na nossa vida e é preciso conciliar tudo isso. O que eu faço é priorizar as minhas atividades: o que é importante e necessário sempre terá a minha atenção e dedicação. O planejamento também ajuda. No final de um ano letivo, já tenho tudo que é processual planejado e agendado para o próximo ano. Sobra tempo então para o que é emergencial e circunstancial, como também para minha vida social e minha família. Ter foco e nãodesperdiçar tempo também são pontos importantes. Quando estou em alguma atividade, estou inteira”.
Ahinoan Macedo Arlindo Pomarico conta “Minha profissão de professora foi fundamental para conciliar as múltiplas funções. Sempre trabalhei, mas tive um período livre com a minha família em que me dediquei à educação dos meus filhos que sempre foram bem orientados e até tive um tempo de certa forma para organizar a casa. Na profissão de professor sempre tem essa vantagem de ter um período livre para conciliar a família e o trabalho”.
Mulheres x TPM
Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva comenta “A TPM, os enjoos de gravidez, as cólicas, estas características femininas só atrapalham se não forem reconhecidas. Não quero dizer que a mulher trabalha menos ou com pouca qualidade por causa destas características. Mas elas precisam ser reconhecidas para que o gestor saiba que a professora está de mau humor porque está de TPM, ou está calada porque está com cólicas. Ao reconhecer, a gestora pode criar um clima melhor para que estes momentos sejam vistos com mais normalidade e como parte do cotidiano de um ambiente majoritariamente feminino”.
Cristina Durzi pondera “As mulheres hoje sabem que o mercado de trabalho exige muito profissionalismo de todos nós e saber disso, conhecer o nosso corpo, o nosso comportamento e as nossas dificuldades faz com que nos preparemos mais para o trabalho e tentemos minimizar essas e outras questões relacionadas à nossa saúde. A TPM pode alterar o nosso comportamento, mas o bom senso sempre vai prevalecer”.
Ahinoan Macedo Arlindo Pomarico diz “Eu acho que nós como mulheres temos muitas outras coisas, como dor de cabeça, dor na coluna. Nunca tive TPM, mas tive problema na coluna acabei colocando parafusos na coluna. Nessa parte de TPM nunca tive, mas tive dor de cabeça, o que é uma coisa que dói dia a dia.
Existe um conceito generalizado sobre a TPM, mas acho que faz parte da vida, depende muito da aceitação que você faz disso, significa que você tem uma saúde adequada e pode ser mãe. É preciso aceitar e conciliar”.
A sensibilidade feminina
Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva fala sobre a sensibilidade feminina no trabalho “Para trabalhar em educação, lidando o tempo todo com pessoas, com o outro e suas características, é impossível fazer este trabalho de maneira fria ou insensível. Ouvir a mãe de um aluno, tem de ser feito com sinceridade, sem preconceito, sem pé atrás. E aí tanto homens quanto mulheres, precisam gostar de gente e não serem conservadores. A escola não é lugar para gente conservadora ou insensível. E sensibilidade não significa “ser bonzinho”, mas ser atento ao outro”.
Cristina Durzi comenta “Eu acho que ajuda qualquer gestão e isso não serve só para as mulheres. Um bom gestor deve ser sensível independente do sexo; as ações devem estar sempre caracterizadas pela firmeza e pela ternura. Uma diferença que vejo é que as mulheres têm maior facilidade de fazer uma leitura mais fiel do ambiente e do estado do grupo, e assim direcionar o trabalho para o que é mais produtivo no momento”.
Ahinoan Macedo Arlindo Pomarico finaliza “Com certeza ela ajuda, porque se você tiver essa sensibilidade e um bom preparo certamente o seu desempenho será muito bom. Eu acho que não atrapalha. Antes de gerir qualquer coisa é bom que você esteja dentro da sala de aula porque é lá que você aprende. A sensibilidade amparada por experiência e competência tem resultados positivos. Para gerir a escola você deve ter uma comunhão entre família e aluno. O gestor que chega à escola e nunca deu uma aula e quer gerir uma escola não vai conseguir, porque não tem a pratica do trabalho e não conhece os problemas dos alunos e dos professores. Quando tivemos diretores pedagógicos que não tinham essa experiência de sala de aula não deu certo. O professor também é formado em uma faculdade e se tem essa experiência de sala de aula, ele pode gerir”.
Perfil da Fundação SM:
Localização (Unidade sede do Grupo):
A Fundação SM é ligada às Edições SM, grupo espanhol radicado no Brasil há dez anos.
Número de Instituições e unidades:
Tem a matriz em Madri e oito filiais na América Latina: Brasil, México, Colômbia, Porto Rico, República Dominicana, Chile, Argentina e Peru.
Fundação:
Fundación SM Espanha foi criada em 1977 e a Fundação SM Brasil iniciou a suas ações no país em 2009.
Mantenedora:
Fundación SM
Perfil da Escola: Colégio Pitágoras
Localização (Unidade sede do Grupo): Bairro Cidade Jardim – Belo Horizonte – MG
Fundação: Abril de 1966
Mantenedora: Kroton Educacional
Ciclos escolares: Berçário, Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio
Regime de aula: Regular
No de alunos: 900
Perfil da Escola: Colégio Joana D’arc
Localização (Unidade sede do Grupo): Bairro Butantã – São Paulo – SP .
Fundação: Desde 1937. A escola teve somente duas diretorias de 1937-1962 e nós de 1963 até agora, a primeira gestão terminou porque elas faleceram.
Número de Instituições e unidades: 2 unidades – uma do Infantil e a outra Fundamental médio e técnico.
Mantenedora: Gestão Familiar
Ciclos escolares: Infantil, fundamental, médio e o técnico em mecatrônica que é noturno.
Regime de aula: Somos uma escola tradicional, mas não que não tenha se modernizado.
No de alunos: Varia entre 600 e 700
Mensalidades em 2013: Variou entre 600 e 1000 reais