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Guia para Gestores de Escolas

Desejar e acreditar ser possível estar entre os melhores resultados é necessário para aprimorar a Educação em nosso País

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) é uma prova aplicada a cada três anos para alunos de 15 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e, também, a países convidados, como o Brasil, que participa desde o ano 2000. As áreas do conhecimento avaliadas são Leitura, Matemática e Ciências. A cada edição, o foco é dado a uma área diferente e, em 2012, o destaque foi para a Matemática.

De 2003 a 2012, o Brasil subiu de 356 para 391 pontos em Matemática, um aumento de 35 pontos. Assim que o resultado do Pisa 2012 foi publicado, em 3 de dezembro de 2013, as primeiras notícias foram de euforia, com enfoque sobre o fato de o Brasil estar entre os países que mais melhoraram seus resultados. A pontuação dos alunos brasileiros em Matemática subiu 10% em relação a 2003, o maior crescimento entre os grupos avaliados. Além disso, o País ficou em segundo lugar no quesito inclusão de novos alunos. Entretanto, com o passar do tempo, foi possível um aprofundamento crítico na leitura dos relatórios da OCDE e a análise dos dados demonstra que, qualitativamente, ainda estamos muito aquém da média internacional. No ranking, o Brasil ocupa a 58ª posição entre os 65 participantes da última edição e está mais de cem pontos abaixo da média dos países da OCDE, que foi de 494 pontos.

Demoramos uma década para constatar que 67% dos nossos jovens de 15 anos não sabem o ‘básico do básico’, como contas simples de divisão e multiplicação e interpretação de textos que não objetivem apenas localizar uma única informação de um conteúdo do dia a dia, além de apresentarem baixa compreensão dos fenômenos naturais. Esses resultados também foram observados nas avaliações de larga escala nacionais, ao longo dos anos. A conclusão é que as medidas tomadas para melhorar a Educação no País não impactaram diretamente no avanço qualitativo.

Os bons exemplos de outros países, ainda que com características diferentes, podem servir de parâmetro para melhorarmos a Educação. Em 2012, os asiáticos lideraram o ranking, refletindo o investimento, ao longo de vários anos, na Educação e nas discussões sobre como fazer com que todos os jovens sejam efetivamente bem sucedidos.

Recentemente, em dezembro de 2013, em um evento para gestores escolares em Cingapura, discutiu-se como preparar os jovens para o século XXI, a fim de encorajar o pensamento criativo, o trabalho em grupo e a solução de problemas mundiais reais. Na ocasião, a Dra. Linda Darling-Hammond, da Universidade de Stanford, compartilhou uma pesquisa que seus colegas estão desenvolvendo em Berkley sobre o crescimento do conhecimento no mundo. “Entre 1999 e 2003, houve uma quantidade maior de conhecimento novo criado no globo do que em toda a história da humanidade. Os alunos terão de se relacionar com conhecimentos que ainda não foram criados, terão de resolver problemas que até o momento não podem ser previstos e terão de usar tecnologias que ainda não existem”, analisou a Dra. Linda. Assim, os alunos precisam desenvolver habilidades para acessar e usar informações e recursos na resolução de problemas, ter oportunidades de exercitar o potencial criativo e engajar-se em trabalhos colaborativos e na aplicação do conhecimento em situações reais. Do outro lado, os professores têm de identificar os métodos de aprendizagem que melhor atendam aos diferentes perfis e às demandas dos alunos.

É importante focar em uma cultura de valorização do conhecimento e de repúdio a tudo que não é oferecido com qualidade. Isso ajudará os nossos jovens a usarem todo o seu potencial e a serem capazes de competir globalmente. O relatório da OCDE ressalta que “é importante reduzir o uso da repetência e encontrar formas mais efetivas de fazer com que os estudantes melhorem sua performance e estabeleçam expectativas mais altas entre eles”.

De acordo com Andreas Schleicher, diretor-adjunto da OCDE para Educação, “salta aos olhos o caso do Vietnã, que gasta apenas US$ 6.969 por estudante e alcançou a 15ª posição. Daqui para frente, o Brasil precisa atrair bons profissionais. Pessoas talentosas devem estar em escolas com mais desafios para que o País supere as diferenças sociais”, afirma. Ainda com relação ao Brasil, Schleicher ressaltou que nenhuma nação viu tantos ganhos no desempenho em Matemática entre 2003 e 2012, quando o País saltou de 353 para 391 pontos no Pisa. “Com esse ritmo, o Brasil vai chegar ao patamar dos Estados Unidos (481 pontos) em 18 anos e à média dos países selecionados pela OCDE (494 pontos), em 21 anos”, garantiu.

Resta questionar o que será dessa geração nesse ritmo de crescimento qualitativo e, consequentemente, qual o futuro do nosso País. Aceitar como normal um ensino de baixa qualidade é uma armadilha na qual não podemos cair.

 
SUELY-NERCESSIAN-CORRADINI
Suely Nercessian Corradini é diretora pedagógica do Colégio Vital Brazil, na zona Oeste de São Paulo. Possui graduação em Letras e em Pedagogia, mestrado em Educação, Arte e História da Cultura e doutorado em Educação pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, com o tema “Indicadores de qualidade em educação: um estudo a partir do PISA e da TALIS”.

Mais informações: www.vitalbrazilsp.com.br

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