Diálogos com a Gestão: Qual o papel da escola na construção de hábitos saudáveis?

A alimentação infantil, rica em nutrientes e proteínas saudáveis, são pilares importantes para o desenvolvimento adequado de cada estudante, influenciando diretamente no crescimento físico e no processo de evolução da aprendizagem. A preocupação em adequar um cardápio nutricional, bem como incorporar cuidados e soluções no cotidiano escolar para garantir uma alimentação saudável ganha uma proporção incalculável – e necessária!

A instituição escolar, e suas ações diárias, é um dos pilares que fomenta o desenvolvimento integral de cada estudante. Na rotina escolar são trabalhados não apenas a evolução da aprendizagem, como também é observado também o crescimento físico de cada aluno e aluna. Nesse sentido, a atenção com a saúde, o bem-estar e o estímulo por uma alimentação saudável, no contexto escolar, refletem de maneira direta e positiva na vida pessoal e no desenvolvimento de cada estudante.

A alimentação tem sido o foco de vários estudos nos últimos anos, que apontam dados alarmantes, como o número elevado de crianças e adolescentes acima do peso ou obesos; deficiência de vitaminas e nutrientes essenciais em crianças em decorrência de práticas alimentares de baixa qualidade; o aumento de consumo de alimentos ultraprocessados; além de problemas de crescimento e desenvolvimento. A solução eficaz para preencher essas lacunas e construir uma relação positiva com os alimentos é desenvolver hábitos alimentares ainda na infância, em uma ação conjunta entre pais e/ou familiares e a escola.

De acordo com um estudo realizado pelo Imperial College London e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de crianças e adolescentes (de 5 a 19 anos) obesos em todo o mundo aumentou dez vezes nas últimas quatro décadas. No Brasil, uma pesquisa revelou que mais da metade da população brasileira (55,7%) estava acima do peso. Esse mesmo estudo, realizado pelo Ministério da Saúde, apontou que uma a cada cinco pessoas sofre com obesidade no país, problema que atinge principalmente adultos nas faixas de 25 a 34 anos e 35 a 44 anos. E cerca de 13% dos meninos e 10% das meninas – entre 5 e 19 anos – sofrem com obesidade ou sobrepeso.

Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade é uma doença que tem crescido no país. “Traduzindo em números, aproximadamente 60% dos adultos brasileiros já têm excesso de peso, o que representa cerca de 96 milhões de pessoas; e um em cada quatro tem obesidade, num total de mais de 41 milhões de pessoas”, mostram os dados da Pesquisa Nacional de Saúde PNS/2020.

Para adentrar nessa discussão, e estreitando o nosso olhar sobre a rotina escolar, preparamos um especial para esta edição com falas de especialistas que atuam em diversas áreas da educação para comentar sobre as soluções e os cuidados que podem ser incorporados no dia a dia dos colégios para garantir uma alimentação saudável. Confira!

“Garantir uma alimentação saudável no ambiente escolar exige planejamento nutricional, redução do desperdício e rotinas que facilitem o acesso dos alunos a refeições equilibradas. Esses cuidados ajudam não apenas na saúde, mas também no desempenho acadêmico.

A transparência também é fundamental. Famílias desejam acompanhar o que os filhos consomem, e quando a escola oferece clareza sobre os cardápios e as escolhas alimentares, fortalece a parceria com os pais na formação de bons hábitos.

A tecnologia apoia esse processo. Com a Vlupt, as famílias podem comprar antecipadamente refeições saudáveis, enquanto os alunos ganham praticidade e menos filas. Assim, a escolha alimentar é feita de forma consciente e organizada. Além disso, a gestão da cantina fica mais eficiente com relatórios de consumo e controle de estoque. Isso reduz desperdícios e garante que a escola ofereça sempre o que os estudantes realmente precisam, unindo saúde, organização e inovação.”

Harrison Leal – CEO Fundador da Vlupt, empresa que atua em mais de 300 escolas em todo o Brasil

“Pesquisas já mostraram que pequenas mudanças na cantina, como reduzir ultraprocessados e dar visibilidade a frutas e lanches naturais, melhoram o hábito alimentar dos alunos. E é fato: uma criança bem alimentada rende melhor em sala de aula, aprende mais e tem mais disposição.

Mas não adianta apenas trocar o cardápio. Sem conhecimento, as mudanças podem gerar resistência. A educação nutricional é o caminho para despertar consciência e desejo de mudança, já que mudanças acontecem quando o desejo é despertado de dentro para fora sem imposições e sim por um despertar.

Esse processo precisa envolver também as famílias, reforçando em casa o que é construído na escola. No fim, tudo passa pelo encantamento: ou a escola encanta o aluno para o saudável, ou a indústria, com seus pacotes coloridos e marketing agressivo, vai encantar primeiro.

Gerar bons conceitos alimentares desde pequeno através da educação nutricional é a chave para um sucesso alimentar.”

Carina Scapinelli – Nutricionista, pós-graduada em Nutrição esportiva e Clinica Funcional, Fitoterapia, Nutrição Ortomolecular com base em nutrigenômica. Sócia e Idealizadora da empresa Divertimente Recursos de Apoio Educativo

“Cada vez mais entendemos que a formação de hábitos alimentares é dada desde muito cedo e que fazer da introdução alimentar um momento de afeto e segurança ajudará muito no desenvolvimento de adultos com saúde física e comportamental, no que diz respeito às nossas relações com a alimentação. Assim, a definição dos nossos hábitos somados a importância de uma alimentação densa em nutrientes durante toda a infância tornou o assunto educação alimentar e nutricional tão fundamental em escolas atualmente, principalmente escolas com turno integral, como as nossas.

Na Escola Os Batutinhas, referência em educação infantil bilíngue no Rio de Janeiro, a alimentação saudável faz parte do nosso DNA há mais de 20 anos. Desenvolvemos um olhar individual para a relação dos pequenos com a alimentação, entendendo os desafios e as afinidades de cada criança com os estímulos sensoriais que os alimentos provocam. Tornamos a experimentação uma grande brincadeira, onde alguns pequenos têm mais facilidade, mas outros nem tanto, sendo então apoiados por uma equipe que ama se alimentar bem e é formada para uma abordagem acolhedora e respeitosa. Para facilitar a aceitação, criamos cardápios ricos em integrais, funcionais, orgânicos, em receitas deliciosas preparadas por uma equipe de cozinheiras formada pela escola.

Quando em escolas em tempo integral, o tema alimentação tem sua importância reforçada uma vez que as crianças realizam até três refeições na escola, sendo uma delas o almoço, refeição de grande importância na cultura brasileira e relevância em relação à densidade nutricional. Nas Escolas Eleva, escola bilíngue e em tempo integral do grupo Inspired Education, nossos cardápios são elaborados para atender a coletividade garantindo energia, aminoácidos e micronutrientes sendo preparados com ingredientes caseiros em nossas cozinhas próprias com selo de sustentabilidade que garantem segurança alimentar e nutricional em intervalos de convívio social entre alunos e professores. Sendo a nutrição um tema que vai além dos refeitórios escolares, nas Escolas Eleva o ‘conteúdo’ alimentação permeia as disciplinas regulares do nosso currículo, se tornando um assunto institucional em projetos dentro e fora das disciplinas regulares da escola durante as ações de educação nutricional.

Com o foco em dar oportunidade ao aluno a nutrição de qualidade durante o dia escolar, a Escola Eleva oferece dois tipos de frutas para livre acesso aos alunos e colaboradores da escola como forma de reforço do hábito em um snack hidratante, rico em fibras e minerais que chamamos de Fruit Time. Educar crianças que entendam o impacto da alimentação e da nutrição na saúde física, mental e ambiental é um dever que realizamos com responsabilidade e alegria por aqui.”

Betina Schmidt – Gerente de Alimentação das Escolas Inspired Brasil | Escola Eleva e Os Batutinhas. Nutricionista, mestre e doutora em Ciências Nutricionais pela UFRJ

“Garantir uma alimentação saudável no cotidiano escolar exige uma combinação de educação nutricional, estratégias práticas e atenção às necessidades reais das crianças. Um dos primeiros passos é reconhecer que, mesmo com boas intenções, muitas famílias enfrentam dificuldades para manter uma alimentação equilibrada em casa — o que torna o ambiente escolar um espaço estratégico para reforçar hábitos saudáveis. A escola pode atuar como aliada ao oferecer refeições balanceadas, com variedade de frutas, vegetais e alimentos ricos em nutrientes essenciais.

Além da oferta alimentar, é fundamental investir em ações educativas que envolvam os estudantes, pais e equipe pedagógica. Crianças entre 2 e 7 anos costumam passar por fases de seletividade alimentar, o que pode ser amenizado com atividades lúdicas, oficinas culinárias e projetos que estimulem o interesse por alimentos saudáveis. A suplementação, nesse contexto, pode ser considerada como apoio — especialmente em casos de baixa ingestão de nutrientes como vitamina D, C e zinco, que são importantes para o crescimento e a imunidade.

Outro cuidado importante é evitar o consumo excessivo de ultraprocessados, que contribuem para o aumento de casos de sobrepeso e obesidade infantil. A escola pode colaborar ao restringir a oferta desses produtos nas cantinas e ao promover alternativas mais nutritivas e atrativas. O uso de suplementos em formatos como gomas pode ser uma solução eficaz para complementar a alimentação de forma segura e com alta adesão, desde que haja orientação profissional e que o produto seja formulado com qualidade, sem açúcar ou corantes artificiais.

Por fim, a escolha de qualquer suplemento deve ser feita com responsabilidade. Mesmo que muitos produtos sejam vendidos sem prescrição, a recomendação é que pais e responsáveis busquem orientação com nutricionistas ou pediatras antes de incorporar suplementos à rotina das crianças. Na escola, essa abordagem pode ser reforçada por meio de parcerias com profissionais da saúde, palestras informativas e integração com os serviços de atenção básica. O equilíbrio entre alimentação natural, educação e suplementação inteligente é o caminho para promover saúde e bem-estar entre os estudantes.”

Beatriz Duarte – Nutricionista da Trustfuel

“Garantir uma alimentação saudável na escola vai muito além de pensar em um cardápio equilibrado. É um trabalho coletivo, que une o pedagógico e as equipe de nutrição e das cozinhas em um mesmo propósito: transformar o momento da refeição em uma experiência educativa, saborosa e cheia de descobertas.

As ações ultrapassam o refeitório e chegam às salas de aula, à horta e a outros espaços da escola. Crianças e jovens participam de oficinas culinárias, degustações, experimentações e do cuidado com a terra, vivenciando o alimento em diferentes contextos e construindo uma relação mais consciente com o que comem.

Neste ano, algumas turmas têm se dedicado a projetos que estimulam a aceitação de novos sabores. A ideia é despertar a curiosidade, mostrando como um mesmo ingrediente pode se reinventar em receitas como suco, bolo ou croquete, apenas mudando o modo de preparo. Educadoras e educadores também participam, ampliando seus conhecimentos e fortalecendo as práticas de sala de aula.

Na cozinha, a proposta é clara: nada de frituras. São priorizados os assados, cozidos e grelhados. Pães e biscoitos são preparados pelas próprias cozinheiras, garantindo frescor, qualidade, menor uso de ultraprocessados e adaptações atentas para estudantes com intolerâncias ou restrições alimentares.

Outro destaque é a ‘segunda-feira sem carne’, quando o cardápio explora leguminosas, legumes e verduras em diferentes receitas, mostrando que refeições vegetarianas podem ser tão nutritivas quanto saborosas.

Todo esse cuidado exige planejamento contínuo e dedicação diária. É recompensador ver as crianças elogiando os pratos, sugerindo novas receitas, perceber a confiança das famílias e acompanhar os impactos positivos na saúde e nos hábitos de toda a comunidade escolar. Quando diferentes áreas caminham juntas, a alimentação saudável deixa de ser apenas um tema de estudo e passa a ser vivida no cotidiano. Assim, aprendemos desde cedo que comer bem é também um ato de prazer.”

Caroline Morioka da Silva – Nutricionista