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Guia para Gestores de Escolas

Dica — Economia de Água

Matéria publicada na edição 48 | Maio 2009 – ver na matéria online

Medidas de uso racional geram economia e reforçam ação educativa.

Por Rosali Figueiredo

A educação ambiental dentro das escolas tem força de lei. O dispositivo federal 9.795/99 diz, em seu artigo 3º, Inciso II, que compete às instituições promovê-la de forma integrada ao projeto pedagógico. A idéia é disseminar valores de preservação do meio ambiente e de uso racional e sustentável dos recursos naturais. No caso da água, muitas escolas resolveram ampliar seu campo de ação e mostrar aos alunos, na prática, como se faz o uso consciente deste bem, atualmente escasso a pelo menos 1,1 bilhão de pessoas, segundo projeções da ONU (Organização das Nações Unidas).

Cerca de 500 escolas da Prefeitura de São Paulo estão implantando o Programa de Uso Racional da Água (PURA), da Sabesp desde o final do ano passado, buscando uma economia mensal de 18 mil metros cúbicos. “É o suficiente para abastecer quase 1.300 famílias”, observa o engenheiro José Maurício da Fonseca Maia, gerente do Departamento de Gestão das Relações com o Cliente da empresa.  Já a Escola Vera Cruz, instituição estabelecida na zona Oeste de São Paulo com três unidades de ensino, foi uma das pioneiras na implantação do programa, há 15 anos. “Em um ano e meio de trabalho, conseguimos uma economia de 25%”, afirma Luciana Bechara Sanchez, assessora patrimonial da escola.

A Escola Vera Cruz não participa mais do programa, mas adotou o consumo racional como conduta básica em todas as unidades, postura que orientou a construção de seus prédios mais recentes, do Ensino Médio, na Vila Leopoldina, em 1997, e da Educação Infantil, no Alto de Pinheiros, concluído em 2008. Paralelamente a escola desenvolve um forte programa de educação ambiental e aborda a questão da água junto à 4ª série do Ensino Fundamental. Esta preocupação  foi uma das razões que a levou ao PURA, observa Luciana. “Na unidade mais antiga, construída em 1973, trocamos equipamentos. As mais novas já foram projetadas dentro desta preocupação.” Luciana destaca que a sede da Educação Infantil possui sistema de reuso de águas pluviais.

Uma das bases do consumo racional é a utilização dos chamados equipamentos economizadores, substituindo os antigos ou convencionais pelos hidromecânicos. O programa da Sabesp, por exemplo,  baseia-se num tripé que envolve “a normalização técnica, a inovação tecnológica dos equipamentos e a educação ambiental”, afirma José Maurício. As escolas iniciam-se no programa com um trabalho de gerenciamento do consumo da água. “É preciso levantar os indicadores e estabelecer um patamar razoável de 25 litros diários de consumo por aluno”, recomenda. Depois, são desenvolvidas ações internas com vistas a identificar as causas de eventuais excessos, como vazamentos noturnos, hábitos equivocados (lavar louças, talheres, verduras e legumes em água corrente) e o desgaste de torneiras e vasos sanitários. O diagnóstico é seguido por um trabalho de adequação dos equipamentos.

É o caso das torneiras com temporizadores, com arejador (adequadas para cozinhas e  dotadas de fluxo de ar, elas reduzem o consumo em até 30%) e da substituição de válvulas e vasos sanitários. O mais indicado é o vaso de descarga reduzida (VDR), o qual reduz para um terço a vazão da água, de 18 para seis litros. Nas escolas municipais de São Paulo, os diagnósticos e a troca das instalações já permitiram uma economia próxima à meta estabelecida. “Elas são as maiores consumidoras de água da Prefeitura, por isso apresentam também o maior potencial de economia”, ressalta o engenheiro.

Na EMEF Padre Manoel Paiva, localizada no Jardim Vila Mariana, zona Sul de São Paulo, o PURA levou a uma redução substancial do consumo. “Não temos os números, mas desde fevereiro deste ano identificamos uma queda, porque não fomos mais notificados pela coordenadoria sobre o excesso do consumo”, diz Maria Cristina Borges Pinto, assistente de direção e responsável pela implantação do programa na unidade. “Trocamos as válvulas dos vasos, instalamos torneiras econômicas e agora estamos trabalhando para identificar as causas de um vazamento”, completa. Concluída esta etapa, a escola irá desenvolver ações junto aos pais dos alunos, que já foram conscientizados, juntamente com professores e funcionários. “Realizaremos um trabalho de sensibilização na comunidade escolar, mostrando o que foi feito aqui e orientando as pessoas a identificar vazamentos e a aplicar isso em suas casas.”

“A lógica do uso racional da água passa pelo lado mais técnico, ou seja, demanda um plano de trabalho e soluções de problemas, mas também exige ações de educação ambiental”, explica o engenheiro José Maurício. O gerente da Sabesp destaca, neste caso, a necessidade de mudar a forma de cuidar das áreas verdes. “A rega deve ser feita no final da tarde, pois com a ação do sol a evaporação é maior. Podemos ainda utilizar plantas xerófitas, que retêm a água por mais tempo.”

Para o professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,  Ivanildo Hespanhol, doutor em engenharia ambiental pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e em Saúde Pública pela própria USP, o Brasil precisa combater “a cultura de abundância” e começar a adotar os equipamentos economizadores. “Nossa cultura, por exemplo, não aceita muito o vaso sanitário com caixa acoplada, prefere a válvula, que apresenta maior vazão.”

Segundo o engenheiro, as indústrias estão um pouco à frente nesta mudança de comportamento. “O consumo tornou-se uma questão de ecovantagem”, diz, lembrando que as necessidades de baixar custos as levaram a adotar práticas de conservação, reuso e economia. Mas o reuso é um item que requer cuidados, pondera Hespanhol. A sua aplicação não pode ser caseira ou amadora, porque demanda projetos de engenharia que assegurem o tratamento da água, como a da chuva, “extremamente contaminada com coliformes, resíduos de metais, gasolina e demais poluentes”.

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