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Educação Superior: muita oferta e pouca demanda

Olhar os números relativos à Educação Superior Brasileira e fazer projeções para a nova realidade após o fim da recessão exige uma análise atenta das variáveis mais básicas em economia: oferta e procura. Nos últimos dez anos, o número de vagas na Rede Federal cresceu 104%. Já na rede privada, a oferta foi multiplicada por dez. Porém, a partir de 2015, a procura de estudantes por uma formação acadêmica despencou. Hoje, apenas 42% do total de vagas oferecidas em cursos superiores estão ocupadas, conforme o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

O número de alunos ingressantes no ensino superior no primeiro semestre de 2017 situa-se de 20% a 40% abaixo do que nos quatro primeiros meses de 2016, segundo a ABMES (Associação Brasileira de Mantenedores de Instituições do Ensino Superior).

A falta de motivação pela busca de uma formação acadêmica resulta em boa medida do cenário econômico, agravado por uma recessão que se estendeu por dois anos. Mas o excedente de vagas resulta também da falta de processos e metodologia de acompanhamento na gestão dos recursos investidos na oferta de crédito para acesso ao ensino superior.

O setor depende de iniciativas e perspectivas dadas pelo governo. Porém, os números de novos contratos do Programa de Financiamento Estudantil para o Ensino Superior (FIES) recuam desde 2014, passando de 480 mil no primeiro semestre daquele ano para 150 mil em igual período de 2017, conforme dados do INEP.

Embora estabelecido como meta no Plano Nacional de Educação, promulgado como lei em 2014, o aumento de ingressantes no ensino superior deixou há tempos de ser alvo de ações diretas ou indiretas e de investimentos e agora não figura sequer em discursos políticos. Se já era difícil fazer com que um terço dos jovens com idades entre 18 a 24 anos cursasse o ensino superior em 2020 quando o apoio governamental estava a todo vapor, agora, com a nova postura, torna-se totalmente impossível.

O enorme salto na oferta de vagas na educação superior nos últimos anos resultou dos programas governamentais, que, apesar da proposta positiva, foram conduzidos de maneira indevida pelos grandes grupos. Houve, por exemplo, estímulos para que alunos inadimplentes evadissem para se matricular novamente suportados pelos programas governamentais. Muitas vezes, tais ações eram acompanhadas pelo aumento de preços reais das mensalidades, para que os ganhos com as bolsas e com os financiamentos superassem os valores pagos pelos demais estudantes.

Há um excedente imenso de vagas e, neste cenário, apenas instituições que proporcionam diferenciais competitivos para seus alunos conseguem manter estável o número de novas matrículas. Para os grandes grupos, a saída foi a Educação a Distância. Com menor volume de recursos públicos disponíveis para programas de financiamento e bolsas estudantis, o interesse dos alunos passa dos programas presenciais para cursos a distância, por conta de sua comodidade, modelo mais flexível e, principalmente, seus preços mais baixos. O movimento já se faz presente. Entre 2009 e 2015, o número de matrículas nos programas de graduação EaD passou de 800 mil para 1,25 milhão em 2015.

Assim, sem o esforço dos grandes grupos em aprimorar a qualidade de oferta dos programas de graduação a fim de elevar a empregabilidade dos alunos, o que passa à revelia do governo federal, a motivação ao ingresso ao ensino superior já começa a entrar no esquecimento da população.

Os indicadores econômicos e as expectativas de evolução para o setor acabam ficando em segundo plano e o cenário é de salve-se quem puder e de vamos abaixar os preços para tirar alunos dos outros grupos concorrentes. Quanto maior a oferta, menor o preço e o valor agregado do item oferecido. Ruim para a economia, pior para a Educação do País.

Cesar Silva é presidente da Fundação FAT

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