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Guia para Gestores de Escolas

A emoção na escola: uma importante lição!

“Precisamos de nossas emoções para aprender Matemática e ensinar Ciência ou ainda, para nos sentirmos bem e capazes.”

Cuidar da escola é também cuidar do coração desta instituição. Há muito tempo uma metáfora usada para emoção é a imagem de um coração. E quantos não são os corações que batem no espaço escolar? E como será que está a saúde emocional de cada um dos que lá convivem?

Quem já não experimentou a emoção da ansiedade em um dia chuvoso de trânsito na Capital Paulista? Ou ainda, quem não perdeu a cabeça com o filho ou o aluno em uma explosão de raiva? Ser humano implica em viver emoções. E como aprender ou ensinar se temos dificuldade em reconhecer ou lidar com nossas emoções?

Mas afinal, de onde vêm as emoções? Algumas considerações

Há um sistema no cérebro que passou a ser caracterizado como o circuito neuronal relacionado às respostas emocionais e aos impulsos motivacionais (ver referência 1, ao final deste texto). Nele faz parte, por exemplo, a amígdala – não vamos confundir com a amígdala palatina. Ele vem sendo estudado de modo ainda mais intenso na última década, contudo até há pouco tempo não havia um perfeito acordo sobre seus componentes. Embora a denominação “sistema límbico” (S.L.) ainda seja usada para designar aspectos envolvidos nos circuitos cerebrais das emoções, tal categorização vem sofrendo críticas em diversos graus.

“Inclusive a própria ideia de um único sistema das emoções vem sendo colocada em xeque na medida em que têm sido identificados diferentes circuitos e áreas do SNC (Sistema Nervoso Central) que se correlacionam aos díspares estados denominados emoções. Assim, em substituição – ou ampliação – à ideia do SL, deve-se propor a concepção dos sistemas das emoções, os quais albergam os díspares circuitos e as redes neuronais correlacionáveis aos estados tipificados como emoção” (referência 2). Sendo assim, o que é inquestionável – diferentemente de outras épocas do conhecimento sobre o cérebro – é que há pelo menos um sistema no cérebro responsável pelas emoções.

E o que e quais são as emoções?

A menção ao termo emoção usualmente faz vir à tona as seis emoções primárias (3): alegria, tristeza, medo, raiva, surpresa e nojo. As chamadas emoções secundárias ou emoções sociais são: vergonha, ciúmes, culpa, orgulho, bem-estar, calma e tensão. O termo emoção é também relacionado à motivação e estados de dor e prazer (referências 4 e 5). Uma combinação de aspectos biológicos embasam estes fenômenos. Algumas considerações estão a seguir:

1. Emoções são um conjunto complicado de respostas químicas e neurais. Toda emoção tem algum tipo de papel regulador. Emoções dizem respeito à vida de um organismo, cujo papel é assisti-lo na manutenção da vida;

2.  O aprendizado e a cultura esculpem as emoções;

3. As emoções são processos biologicamente determinados, dependem de processos inatos do sistema cerebral, por meio de um longo processo evolucionário. Os componentes que produzem emoções ocupam um conjunto restrito de regiões sub-corticais, começando no nível do tronco cerebral, até as porções superiores.

4. As emoções produzem sensações físicas e psicológicas;

5. Toda emoção usa o corpo como palco de um teatro, mas as emoções também afetam o modo de operação de numerosos circuitos e funções cerebrais.

Antonio Damásio (referência 3), no qual baseei os itens acima, propõe que o termo sentimentoseja reservado para a experiência particular e mental da emoção e que o termo emoção seja usado para designar o repertório de respostas, publicamente observadas. O sentimento é a interpretação da consciência para a emoção. Mas a emoção não depende da consciência para existir.

Este neurocientista português alega confiante que “o maquinário biológico está nos bastidores da emoção. E que esta não depende da consciência” (3). Logo, o que nos pode ser útil é que podemos aprender a manejar as emoções, já que elas são inerentes. Aprender a identificá-las e manejá-las são uma estratégia saudável para todos nós, aprendizes.

Ademais, vários estudos como o de Paul Ekman  mostram não apenas a diversidade da expressão das emoções, mas como a consciência sobre elas nos ajuda a viver melhor. “Emoções são importantes fontes de informações e respostas que nos ajudam a dirigir nosso comportamento e interação social” (referência 6).

Já segundo Phillippe Goldin, “a capacidade de reconhecer e trabalhar com diferentes emoções é fundamental para nosso bem-estar” (referência 7).

Precisamos das emoções para diversas funções: dirigir nossa atenção, melhorar a memória, organizar o pensamento, dirigir o conhecimento interpessoal, o desenvolvimento moral, dentre outros. Precisamos de nossas emoções para aprender Matemática e ensinar Ciência ou ainda, para nos sentirmos bem e capazes.

Seligman, fundador da Psicologia Positiva, a qual visa determinar o peso das emoções boas no equilíbrio físico e mental, enfatiza a importância da educação positiva nas escolas do mundo moderno. A   Educação Positiva é uma ramificação da Psicologia Positiva. Segundo Seligman, ela se refere à educação para o desenvolvimento das habilidades tradicionais voltadas para a maximização do desempenho e do desenvolvimento das habilidades para a realização humana, felicidade e bem-estar. Este autor defende os cinco elementos que as pessoas procuram como forma de melhorar a qualidade de vida: emoções positivas, engajamento, relacionamentos positivos, propósito e realização. Educação Positiva pode ser definida como educação para uma vida eficaz, porém feliz! (Seligman et al., 2009).

Nas escolas a Educação Positiva pode funcionar como: (a) um antídoto contra a desesperança; (b) ferramenta de realização pessoal; e, sobretudo, (c) para aprimorar as condições internas para aprendizagem eficaz e desenvolvimento de criatividade (Seligman et al., 2009).

Ora, se diante do atual cenário da educação brasileira, onde professores experienciam situações muito difíceis em sua rotina e principalmente com os alunos, tais como agressões verbais, agressões físicas, desprezo, apatia, dentre outras, é notória a necessidade de buscarmos mais recursos e atitudes. Quem trabalha com a educação sabe a valia de uma educação das emoções para a competência social e pedagógica. Sabemos também que ser professor não é ser psicólogo ou assistente social. A questão, então, não é de fronteiras do saber, mas da soma de saberes que ajudam a nossa profissão a ser mais prazerosa e competente.

Neste sentido, cuidar da saúde emocional, cuidar do coração de uma escola faz parte de uma educação saudável!

O Projeto Cuca Legal (Projeto de Prevenção em Saúde Mental e Emocional-Psiquiatria/Unifesp), do qual sou coordenadora gestora, desenvolve uma metodologia baseada nos conhecimentos citados acima, para promover programas e capacitações frente às necessidades das escolas, tal como o Programa Educação Emocional. Tal programa foi desenvolvido para capacitar professores para questões, dentre outras, as citadas acima.

(1) Pergher GH, Grassi-Oliveira R, De AvilaLM,Stein LM. Memória, emoção e humor. Rev.Psiquiatria R.S.; 1(28): 61-8, 2006.

(2) Esperidião-Antonio, V. Rev. Psiquiatria Clínica:35(2); 55-65,2007.

(3) Damásio,A. The feeling of what happens. First Harvest Edition,2000.

(4) Brothers L, Fridys Footprint: How Society shapes the human mind, New York:OxfordUniversity Press,1997.

(5) Griffiths P, What emotions Really Are: The Problem of Psychological Categories,Chicago:University of Chicago Press,1997.

(6) Ekman,P. A linguagem das emoções. São Paulo:editora Lua de Papel, 2011.

(7) Goldin P e cols. The neural bases of emotion regulation: reappraisal and suppression of negative emotion. Biol. Psychiatry 2008; 63:577-86.

(8) Seligman, M. E. P., Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive Psychology: An introduction. American Psychologist, 55(1), 5-14.

Por Adriana Fóz*

adriana-foz *Adriana Fóz é educadora graduada pela Universidade de São Paulo (USP), pós-graduada em Psicologia da Educação (USP), especialista em Psicopedagogia (Instituto Sedes Sapientiae) e Neuropsicologia (CDN-Unifesp). Atende, em consultório, pacientes adolescentes e adultos. Também atende para reabilitação neuropsicológica com parceria interdisciplinar. Coordenadora geral do Projeto Cuca Legal – Programa de Prevenção em Saúde Mental nas Escolas (Psiquiatria/Unifesp). Pesquisadora CNPq em Neurociências na Educação. Consultora e autora de livros.

Ministra cursos e palestras por todo o Brasil sobre temas relacionados à neurociência na educação em suas diversas vertentes. Recentemente leva a palestra “Plasticidade Emocional” para o mundo corporativo, instituições e escolas. Em dezembro de 2012 lançou o livro “A Cura do Cérebro” (Editora Novo Século, 2012), onde narra a sua história de superação após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral).

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